A presença da mãe, da família é importante em todas as fases das crianças, mas principalmente na primeira infância.
Mãe que trabalha sobre ao ouvir essa frase. Ter uma família ao lado traz muita segurança para os bebês, claro, é fato. Mas, acho que ao mesmo tempo é uma afirmação que culpabiliza mães. Que já se sentem mais culpadas por que precisam, ou querem ou adoram trabalhar.
Parece uma coisa idiota eu afirmar isso, mas passei os últimos oito anos da minha vida ouvindo mães falando que se sentiam culpadas por que tinham um emprego ou carreiras. Mães questionando se deveriam largar aquilo que sim, lhes trazia satisfação pessoal, além de dinheiro e independência financeira de seus companheiros por que se não fizessem isso seus filhos iam ser desajustados.
Perdi a conta do número de vezes que me perguntaram o que eu perdi da primeira infância da Victoria por trabalhar full time
Mãe que trabalha é uma boa mãe? É uma dúvida recorrente essa.
No binômio mães que trabalham x mães que param de trabalhar para acompanhar a primeira infância das crianças quem ganha mais?
Confesso que esse é um exercício muito difícil pra mim, esse de me colocar no lugar da mãe que acorda e pensa: quero largar meu emprego pra ser mãe em tempo integral. Zero julgamentos, mas é que a minha realidade é tão diferente que nem me passa pela cabeça elocubrações sobre o tema. Por que aqui, se eu não trabalhasse, não comia, não pagava aluguel… Enquanto eu era casada, o salário do marido não cobria o custo de vida, nem que a gente cortasse o custo de vida pela metade. Meu salário sempre fez diferença e hoje em dia ele é quem me sustenta integralmente.
Dito isso, eu perdi absolutamente nada.
É uma ilusão essa de que se você trabalha vc está automaticamente terceirizando a maternidade.
Nosso dia era simples: acordava cedo pra dar banho, café da manhã e saíamos porta afora. Ela chegava tipo 10:30, não era muito de madrugada. Ela ia pra escolinha e eu ia trabalhar. No final do dia pegava a criança e íamos pra casa e a vida continuava no terceiro turno, com janta, banho, historinha, cheiro e cantoria.
Acompanhei cada gripe, amamentei dois anos e meio, peguei todas as gracinhas, brincamos e eu assisti do melhor camarote o desenvolvimento da Victoria. Eu não perdi nada e a gente precisa urgentemente parar com essa culpa insana de que se a criança fica em uma escola, (ou outro jeito) de que você está perdendo horas preciosas e todo o desenvolvimento da sua criança será acompanhado por terceiros enquanto você está trabalhando.
Você não perde. Juro.
Não tem nada na vida da Victoria que eu não tenha acompanhado. Talvez alguns dentes tenham caído na minha ausência. Mas isso porque Victoria é uma ogra que sai arrancando dente antes da hora. E também… Quem viu um punhado, viu todos né?
Oras, em compensação ela ganhou. Ganhou em independência, vendo a mãe dela sendo dona do próprio nariz. Ganhou quando essa mãe se separou e deu uma banana pra pensão e discussões infrutíferas sobre dinheiro por que essa mãe aqui manda na vida financeira dela.
Ganhou por que hoje, aos 8 anos, a gente é tão dona do nosso rolê todo. Ela continua indo pra escola, pediu esse ano pra voltar pra escola integral pra fazer mais esportes e atividades artísticas. Óbvio que nada é perfeito e tem dias que embanana. Amanhã é feriado, eu já estou no modo desespero e já cogitando levar ela pro escritório comigo.
Talvez eu tenha perdido mais da MINHA vida.
Talvez eu tenha inveja de quem faz yoga as 11:30 da manhã. Talvez eu quisesse ter mais do que 20 minutos pra fazer mercado. Talvez eu quisesse dormir mais, dormir até mais tarde. Ou ter tempo de fazer as unhas semanalmente, comer comida fresca diariamente ao invés de congelar os potinhos pra agilizar.
Mas da vida dela? Seguimos firme. Não perdi nadinha da primeira infância da minha filha.