Nos últimos três anos minha vida passou por uma montanha-russa com tantos loopings que até hoje não consegui me dar conta se estou de cabeça pra baixo ou se a vida só ficou assim, sem pé nem cabeça.
É raro passarmos por uma crise existencial tão profunda que não comece com uma catástrofe. A minha começou com uma separação. E quando eu resolvi encarar o furacão de frente tinha tanta coisa pra consertar que, para recuperar coisas em mim, acabei deixando outras coisas de lado. E nessa busca de me tornar inteira, nunca mais me senti sexy. E pra te falar a verdade, eu nem sabia disso. Não registrava no radar.
Até essa semana, quando eu estava conversando via chat com um amigo que mora do outro lado do mundo. Papo para lá e papo pra cá ele me interrompeu no meio da conversa e escreveu: “Camis, nossa, nunca tinha percebido o quanto você é sexy!” De primeira achei que tinha sido auto corretor (risos) e só respondi com uns pontos de interrogação. Ele repetiu: “É sério, você nunca falou algo tão sexy assim antes” “Sexy?, eu estava incrédula. No que ele finaliza, enfático:
“Sim, sexy. Preciso repetir?”
Parece patético, mas nessa hora é como se alguém tivesse me ligado na tomada. Fazia muito tempo que eu não colocava o meu nome ao lado da palavra sexy. E agora, esse sujeito tá lá nos cafundós me achando sexy. O que está acontecendo com o mundo?
E lá estava eu, taça de vinho na mão, deitada no sofá, me achando sexy. Por que eu resolvi acreditar nele, né, minha gente?
Ser sexy tem muito mais a ver com atitude do que com a roupa certa e principalmente o corpo “certo”. Ou seja: a mulher sexy de verdade é aquela que consegue resolver questões na sua cabeça e atingir aquele nível de conforto com o próprio corpo e seus próprios desejos. Não, não precisa de decotão, batom vermelho e salto altíssimo pra atingir o nível máximo de “sexiness”. Você pode estar perfeitamente bem de jeans, camiseta e tênis. O importante é olhar pra dentro.
E eu gostei dessa sensação. Não só por que isso saiu da boca de um cara lindo, que estava me olhando definitivamente com outros olhos (yay, pra mim!), mas por que junto com me sentir sexy veio um monte de outros desejos que acabaram desaparecendo um pouco junto com a vida corrida e atribulada de uma mãe.
Todas nós sabemos da dificuldade que é manter o foco no casamento, na própria sexualidade e até mesmo se olhar no espelho parece uma tarefa distante a ser cumprida. Então, quem consegue se sentir sexy com a camiseta suja de vômito, ou quando passamos um pedação do nosso dia pensando em xixi e cocô? Você está entendendo aonde eu quero chegar.
Mas eu fiquei feliz, meninas. Feliz de bater os pés no chão de excitação. E eu quero manter dentro de mim essa sensação de me sentir apreciada, amada, desejada. E conseguir olhar pra mim, olhar no espelho e pensar: “ei, peraí, não está de todo mal”.
E se você conseguiu se identificar com o que eu escrevi aqui, fica a minha pergunta:
Como faz pra gente voltar a se sentir sexy depois da maternidade? Alguém sabe?
Exercício
não importa se Pilates, ioga, correr, andar na praia e até boxe. Qualquer exercício faz com que você tenha mais consciência do seu corpo. Quando se está na academia, por exemplo, necessariamente precisamos olhar no espelho, entender o que estamos fazendo e até mesmo enxergar nossas imperfeições. Sim, você não precisa ser perfeita para se sentir sexy. Quantas vezes preciso repetir?
Se arrume
Não precisa andar montada. Mas acho que essa calça jeans de grávida puída entre as pernas não precisa mais ver a luz do dia. Recicle suas roupas, customize algumas peças, compre algumas coisas novas para combinar com outras abandonadas no armário. Coloque um pouco de maquiagem e tire o cabelo do rabo de cavalo até mesmo para ir no supermercado. Não é pra mais ninguém além de você.’
Pijama
Amiga, não dá mais pra ir pra cama usando a camiseta velha que manchou de chocolate que você comeu quando achou que ninguém tava vendo. Não rola mesmo. Aprendi cedo com a minha mãe que a gente deve sempre dormir “ajeitada” – o que significa com camisola/pijama bonito ou até “seximente” nua, se isso é o que você prefere. Mas uma roupa de dormir e umas gotas de lavanda podem transformar a sua noite. Pelo menos até o bebê acordar. (e pelamordedeus penteia esse cabelo)
Lingerie
A mesma coisa. Tá na hora de aposentar o sutiã de amamentação, afinal seu bebê não mama mais há uns dois anos. O peito cresceu e nunca mais “voltou para o lugar”? Péssimo, mas a vida é assim mesmo. Sai porta afora e sem olhar pra trás entrega o cartão de credito pra vendedora ou faz um crediário. Não volte pra casa sem pelo menos um conjunto de renda preta e várias peças coordenáveis. De nada.
Depilação
Quando meu casamento desabou, acho que fiquei mais de um ano sem depilar. Não conta pra ninguém. A primeira vez que eu depilei a virilha, minha depiladora ficou tão feliz, por que aquilo significava que eu estava voltando a viver. Ela me disse isso da forma mais linda do mundo e ficamos um tempão discutindo “shapes”. Saí de lá com lágrimas nos olhos (muita dor!). Mas além de mais leve, eu estava me sentindo feliz e cheia de… humm… “possibilidades”! hahahahah
Leia, assista, ouça
Ouça música em casa, leia romances, veja filmes românticos. Apaixone-se pela ideia de se apaixonar de novo. Sim, a gente ama muito quem está do nosso lado, mas de vez em quando se esquece de se apaixonar mais um bocadinho. Estimule seus sentidos. De preferência com uma taça de vinho na mão. (pelo menos até o bebê acordar pra te lembrar que você pode beber o quando quiser, ele não está nem aí pra sua lingerie de seda nova, ele quer carinho pra poder passar pela madrugada).
Boa sorte. E meninas, se mais alguém está nessa vibe e quer compartilhar outras dicas, eu sou TODA ouvidos. Tem um gatinho do outro lado do mundo me esperando (e que me acha sexy). Rá!
2 Comentários
Camila, seu post me tocou demais. Até compartilhei ele num grupo de mães amigas. Tenho dois pequenos gêmeos de 1a3m e é bem difícil lembrar de me sentir sexy (ou de qualquer coisa relacionada a mim). Respondendo à sua pergunta, acho que sexo chama sexo. Se o seu gatinho tá longe, faça sexo sozinha. Masturbação ou mesmo na sua imaginação. Leia coisas excitantes (recomendo ‘Amor’, da Isabel Allende). E obrigada por levantar essa discussão. Hoje, depois de meses de roupas de trabalho sem graça e sapatilha, saí de casa de vestido decotado e saltinho (tô me achando, rs). Boa sorte para nós!
Oi Ana Clara, super obrigada pelo carinho, por se identificar. Esse redescobrimento do próprio corpo e da própria sexualidade após o nascimento dos filhos rende muitos posts né? A reflexão é profunda e passa por envelhecer, por não se perder como mulher, enfim… um desafio e ao mesmo tempo excitante se redescobrir depois de um período tão turbulento. Gostei de ter conseguido colocar em palavras e espero continuar nessa reflexão do nosso papel, não só como mãe, mas como mulher. Beijão