A Victoria não dorme.
Não dorme. Essa é a expressão mais ouvida e mais discutida na minha casa. Já virou anedota de bar, as amigas já foram solidárias. A verdade é que o sono da Victoria é incerto desde que ela nasceu e tudo o que eu tenho conseguido fazer é me adaptar.
Victoria, recém-nascida era como qualquer bebê: dormia na hora que queria, de vez em quando chorava madrugada adentro. Ela não foi um bebê com muitas cólicas e mamava de três em três horas religiosamente. Aos dois meses ela se emancipou do colo. O negócio dela era ser sacudida no carrinho ou no bouncer. Nessa fase ela dormia as 2-3 da manhã e acordava ao meio-dia. Sempre no carrinho. Ela não tinha ido com a cara do berço dela.
Aos quatro meses tivemos um problema lá em casa que impedia a gente de colocar ar-condicionado no quarto dela. Só tínhamos ar-condicionado no nosso. Com o verão carioca bombando, o jeito foi colocar o berço da Victoria dentro do nosso quarto. Que pelo menos é grande e comportava todo mundo com conforto. Foi aí que eu enterrei qualquer chance da Victoria ter um sono sadio. Ela passou a gostar bastante do berço dela, desde que dentro do nosso quarto. A minha sensação era que eu ia me enterrar e ainda tacar a pá de cal por cima.
Mas fazer o que? Não podia deixar meu pequeno pinguim passar calor. Passou novembro, dezembro, janeiro e fevereiro. Em março, quando a miúda já tinha seis meses conseguimos colocar um ar-condicionado portátil no quarto dela. O bicho fazia um barulhão, mas era aquele white noise que todo bebê adora e ela dormia feliz no quarto dela. Nessa fase tivemos que educar nossa filhota a dormir sozinha. Foi um drama. Ela só dormia sacudida. E tarde. Nesse ponto a gente pegou emprestado um balanço da Fischer Price e as sacudidas deram um tempo. Esse trambolho de Deus atendeu as nossas preces e pelo menos não tinha mais esforço físico envolvido. Mas ela continuava dormindo só a meia-noite e acordando às 4 da manhã pra mamar. Marido já traumatizado e eu com olheiras profundas. Ah, pois é! Eu cheguei a dizer que eu não tenho babá?
Aos dez meses ela foi pra creche em período integral
E aí a coisa começou a melhorar um pouco. Ela ficava o dia todo brincando e voltava exausta. A creche avisava que ela só dormia um pouco, nunca mais do que 40 minutos, só na parte da tarde e jamais dormia na sala de berços. Ela gostava de ficar na bagunça da sala de brincar. Deitava sozinha no bebê conforto, agarrava um urso qualquer e a berçarista sacudia ela um pouquinho pra ela pegar no sono. Em casa ela passou a dormir mais cedo. Entre 21 e 22 horas. Foi uma fase boa. Porque ela dormia até às 4 da manhã, mamava e pegava no sono de novo. Acordava depois das 8:30 da manhã. 60% das vezes conseguíamos fazer com que ela dormisse no berço dela, devidamente remontado no quarto dela. No restante do tempo ela dormia no cercadinho (que tem colchão de berço) no nosso quarto.
Aí ela começou com as viroses. E com as viroses ela passou a dormir mais no nosso quarto. Muita febre, tosse, ela vomitava de madrugada. Eu tinha medo de não acordar e o bebê ficar com a cara no vômito. E assim eu apliquei mais uma pá de cal na minha já profunda cova. Ela adora dormir com mamãe e papai numa linda e cheirosa cama king size. O marido continua traumatizado. A mãe já se resignou.
Eu poderia continuar relatando, mas o que vem a seguir é uma sucessão de instabilidades para dormir. Períodos bons onde ela dormia no berço dela, durante toda a noite. E períodos péssimos onde ela só dormia com a gente na cama e acordava de hora em hora incomodada com a vida.
A verdade é que ela não aprendeu a ter uma rotina pra dormir todo dia naquela mesma hora e acordar naquela mesma hora. Ela tem ritual pra avisar que é hora de nanar (banho, hidratante, pijama, mamadeira, balanço), mas ela nunca teve um objeto de transição. Soninhos, bichinhos e fraldinhas sempre foram descartados automaticamente. A chupeta dela, até 18 meses, era o peito. Ela acordava 2 ou 3 vezes pedindo mamadeira durante a noite.
Hoje, 21 de junho de 2012
ela está com 1 ano e 10 meses. A novidade é que ela já pede pra dormir em torno das 20h30min. Ritual de banho, hidratante, pijama e mamadeira se mantém. Ela agora aceita uma chupeta de vez em quando. Ela sobe na minha cama, pega o travesseiro, vira de bruços, deita e dorme sozinha. Considero isso um avanço. O berço dela tem pregos. Não fica de jeito nenhum. Mas ela aceita ser transportada para o cercadinho no meu quarto. Em dias bons ela vai direto até às 8h do dia seguinte. Em dias médios ela acorda pra mamar em torno da meia-noite, dá uma reclamada, mas dorme de novo até das 8 da manhã seguinte. Nos dias ruins ela acorda às 23h30min e quer brincar e não volta a dormir até às 2h.
E tem também os dias em que o sono está tão leve que ela não consegue relaxar e acorda quatro ou cinco vezes por noite. Esses são os dias que quebram a gente. Ela quer dormir até às 10h. Se for dia de semana, em torno de 8h30min eu acordo a safada. Mas, se for no final de semana normalmente dormimos todos manhã adentro. Porque o marido está mais traumatizado do que nunca. E a mãe precisa dormir um pouco pra se recuperar da pauleira.
Já sei: você vai me perguntar por que eu não segui os miraculosos passos da Encantadora de bebês ou do Nana Nenê. Pois é: não fiz nada disso. Largar bebê chorando sozinho no quarto é algo que não combina com meu estilo de vida. Nem por dois minutos. Sou adepta de observar a personalidade da criança e entender o que está acontecendo com ela. É muito simples: ela acha dormir perda de tempo. Eu entendo: eu sou assim. O que acontece com ela, já aconteceu comigo há quase 40 anos atrás. Minha mãe se resignou. Meu pai traumatizou. Eles não tinham babá. Tudo igual. Além disso, ela detesta ficar sozinha. Acordada ou dormindo. Ela gosta de companhia em tempo integral. Por isso que ela dorme tão feliz com a gente no quarto. Aconchego de pai e mãe é tudo de bom.
Agora vou fazer uma nova tentativa.
Conversei longamente com a homeopata que receitou um remédio para ajudá-la. Estou elaborando uma rotina que deverá ser seguida religiosamente. Ela chega da creche às 19h. Depois de lanchar e brincar começa o ritual para dormir às 20h: banho, hidratante, pijama e mamadeira. 20h30min dormir. Só que vou colocá-la na caminha dela (o berço virou caminha, recentemente) e ficar lá com ela até ela adormecer. E vou fazer um esforço pra que ela passe mais e mais tempo no quarto dela ao invés de ficarmos no meu, como geralmente acontece. E, se eu estiver com disposição, ficar com ela no quarto durante a madrugada se ela acordar. Será que vamos conseguir?
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Imagens: cperlingeiro