Percebo que, hoje em dia falta uma boa dose de intimidade nas relações. Isso não é algo que se possa comprar na farmácia, nas lojas ou numa viagem à Índia. A intimidade nas relações parte da que temos com nós mesmos. Saber o que somos, o que gostamos, o que queremos e como lidamos com o mundo é fundamental para estabelecimento de uma relação íntima com aqueles que amamos.
Falo de uma intimidade que não é ficar pelado na frente dos filhos, tomar banho junto ou ir ao banheiro de porta aberta, e sim daquela ponte sólida que construímos com o outro e que facilita o intercâmbio. É aquela ligação que as mães têm com seus bebês nos primeiros meses de vida e que possibilita um entendimento do que eles estão passando, quando acolhê-los, quando lhes dar limites, ou quando alimentá-los. Essa ligação muitas vezes se perde com o corre-corre do dia a dia ou com os desafios de cada idade.
Quanto mais nos conhecemos, mais conseguimos ver o outro como ele é, sem que ele vire nosso espelho. É tão fácil enxergar os filhos como uma imagem de nossas dificuldades ou de nossos desejos frustrados. Difícil é percebê-los como seres diferentes de nós, com características, desejos e percursos próprios.
Não é preciso passar o dia inteiro junto para manter a intimidade. Ser mãe full time também não é receita de sucesso já que estar atenta às necessidades físicas (banho, alimentação, sono, etc.) não significa estar atenta às necessidades emocionais. É comum ficar tão assoberbada de tarefas que não sobra espaço para de fato enxergar o outro.
Se seu filho não quer ir à escola, qual é o motivo? Dificuldades acadêmicas, conflitos com os amigos, problemas em se separar de você, cansaço por sobrecarga? Uma boa dose de intimidade certamente encurta o caminho para a resposta certa.
Participar da rotina, das amizades, do lazer, das alegrias, das frustrações, dos medos e desejos, são os tijolos para a construção de relações íntimas, sólidas e certamente gratificantes.
Imagem: Glyn Lowe
6 Comentários
Roberta,
Sua clareza em falar de uma situação que é realidade em 11 de 10 famílias, vai poupar muitas sessões de análise e choros desnecessário. Quem me dera ter te lido antes.
Obrigada por nos mostrar que tudo é possível quando nos tornamos mais confiantes e certos das escolhas que fazemos.
Patrícia, é muito bom saber o quanto é possível ajudar as pessoas mesmo fora do consultório. Muito obrigada pelo feedback! Espero poder continuar ajudando nas próximas colunas.
Parabéns por mais uma vitória… Este convite veio coroar anos de dedicação a família e a profissão… Como Mãe tenho a certeza de que a semente que desabrocha bonita e saudável, assim como o vinho, é fruto do solo, o que se aprende com a vida e com aqueles que nos rodeiam, mas a capacidade de praticar é conseqüência de anos de estudo mas, excencialmente, persistência e bom senso na prática…..
Muito interessante a sua abordagem, Roberta! Num mundo onde apenas o sucesso e conquistas passam a ter valor, a perda, a frustração, o medo de seguir em frente ficam “escondidos”… A proximidade dos filhos vem quando admitimos e vivenciamos TODAS as experiências com eles. Sejam elas boas ou não! Como você bem ecreveu: “Quanto mais nos conhecemos, mais conseguimos ver como ele é…”. É isso! Parabéns pelo artigo.
Roberta
Seu texto consegue ser simples e profundo, você abre espaço para se repensar a intimidade das relações humanas, relembrando que essa intimidade só se torna possivel apartir do encontro com nós mesmos. Suas ideias indicam que a sabedoria esta na delicada e dificil tarefa de convergir a eficiência com o sensível. Bjo, Yvonne Kossmann de Menezes
Realmente,canso de falar em miñas palestras de qualidade de vida..no escutar-se primeiro p depois..ser melhor ouvinte..e Falo dessa intimidade em relação ao casal..Adorei!!!e na Mediação familiar…a gente ouve isso..essa falta de liberdade..e não seconocer..e já fazer só oq o filho quer..sem identidade própria os pais…