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Por que será que, a cada geração que passa, mais aumenta a dificuldade de impor limites às crianças? Dizer o quanto eles são importantes – não só para a vida em sociedade, como para a estruturação do indivíduo – embora seja chover no molhado, no entanto não deixa de ser verdade.

Vivemos em um mundo onde as pessoas buscam sentir-se cada vez menos limitadas e, de fato, a humanidade tem encontrado meios de superar diversas limitações. Há não muitos anos, viajar para outros países era um luxo para poucos e acontecia, no máximo, duas vezes ao ano. Hoje em dia, há quem mude de continente toda semana. As barreiras nos sistemas de comunicação quase não são mais impedimentos. Os avanços da medicina dão margem a pensar que tudo é possível, inclusive adiar o envelhecimento e a morte.

Adultos também ficam seduzidos pela fantasia de que, com dinheiro, nada é inatingível. Assim, dar conta de nossas limitações é motivo de depressões profundas, principalmente se não aprendemos a lidar com elas desde que nascemos. No entanto o que quase não é dito é que, mesmo para crianças, achar que podem tudo gera angústias inimagináveis.

A fantasia e a realidade já estão constantemente emboladas. Acreditar que podem tudo significa conseguir satisfazer TODAS as suas vontades: tanto boas, quanto más. No pensamento infantil, “se ninguém consegue barrar o que eu desejo, o que acontece quando eu fico com muita raiva de alguém?” Ou seja, os pequenos se sentem muito poderosos, bem como, muito destrutivos. É bom lembrar que alguns dos maiores medos infantis passam por esse tema.

Outro fator importante que dificulta essa tarefa fundamental é o fato de que gera sofrimento: não só nos filhos, como nos próprios pais. Não se pode esquecer que o sofrimento hoje é quase uma doença, que, ao sinal dos primeiros sintomas, deve ser combatida imediatamente com doses regulares de remédios. Resultado: o que dói fica sufocado e escondido não só aos olhos dos outros como aos de nós mesmos.

Algumas mães veem essas pequenas doses de frustração como aqueles xaropes ruins necessários para que a gripe não se transforme em pneumonia. Já outras não conseguem suportá-las, pois remete a um gigantesco sofrimento próprio. No entanto, como sempre repete uma grande amiga, Mary Poppins já nos dizia: just a spoonful of sugar helps the medicine go down” (uma colher cheia de açúcar ajuda o remédio a descer).

Moral da história não é possível  evitar que nossos filhos sofram. Dessa forma, cabe a nós estar ao lado deles para ajudá-los a suportar os limites que a vida lhes impõe.

 

 

Imagem: http://www.flickr.com/photos/moosharella/

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3 Comentários

  1. Camila
    Camila
    26 de setembro de 2012 at 9:56 — Responder

    Beta, sinto ainda muita dificuldade de dizer nao e fazer ela entender o meu ponto de vista enquanto ela ainda tem dois anos. Tive uma longa conversa com a homeopata e ela me deu boas dicas de como agir e conseguir ser entendida. Mas concordo inteiramente com o seu ponto de vista e como mãe sigo atenta e conversando com profissionais.

  2. GABRIELLA LANTOS
    26 de setembro de 2012 at 10:52 — Responder

    Olá!

    Sobre estes e outros assuntos eu reflito frequentemente, tentando entender o mundo de hoje para que eu possa explicar e ensinar às minhas filhas algo que possa ser útil e positiva no mundinho delas. Mas ….. vou arriscar comentar até para ver se estou errada na minha linha de raciocínio ou não.
    Eu fico muito triste com essa visão de mundo que “com dinheiro nada é inatingível” – não só as crianças, mas muitos adultos acreditam nessa fantasia.
    Eu acho muito desafiador educar as minhas filhas e, um aprendizado contínuo. Precisa de tempo, paciência e uma autoanálise permanente. Coerência e muita reflexão. Tanto que tanto eu quanto a minha filha têm “diário humano”, que nos auxilia no autoconhecimento e no entendimento do mundo atual, na diminuição das angústias, etc.
    Em cada etapa da vida das minhas filhas preciso fazer uma autoanálise de como soltá-las no mundo mais e mais, com segurança de que sempre estarei lá para qualquer coisa, mas que é importante ser independente. MAS ….. SÉRIO ….. QUE MUNDO É ESTE? NÃO ME AGRADA. Acredito que a imposição de limites é vital, dentro de uma coerência e razoabilidade, com base no respeito e bom senso. Mas, acredito que, o exemplo é fundamental neste aspecto. Têm pessoas que dizem: “Limites não se impõem, os pais tendo, os filhos terão.”
    Não sei se é assim, mas acredito que os Pais têm que ter limites, bom senso e praticar o respeito para que os seus filhos tenham este exemplo para seguir. Será que isso é a maioria dos casos?
    Mas o que eu acho (e posso estar errada), que as crianças (e muitas vezes os adultos tb) se encontram sem desafios, metas na vida. Não precisam lutar (se esforçar) pelo que querem. Tudo é muito fácil. Não vejo as pessoas com alegria de vida, curtindo a vida em sua simplicidade. Tenho dificuldade em desconstruir a ideia nas minhas filhas que tem que comprar tudo o que os amiguinhos têm ou que o próximo destino de viagem não será no lugar tal porque fulano já foi.
    O Bom Senso é um bom guia na minha vida, pena que é bem abstrato. Talvez, o que eu desejo que as minhas meninas entendam de vez é que “aproveite o que você tem e não reclame do que vc não tem” E tenha “bons e poucos amigos pois valem mais do que muitos”.
    Concordo com tudo que foi mencionado no texto, mas a parte que mais ME ASSUSTA É: “A fantasia e a realidade já estão constantemente emboladas. Acreditar que podem tudo significa conseguir satisfazer TODAS as suas vontades: tanto boas, quanto más. No pensamento infantil, “se ninguém consegue barrar o que eu desejo, o que acontece quando eu fico com muita raiva de alguém?” Ou seja, os pequenos se sentem muito poderosos, bem como, muito destrutivos. É bom lembrar que alguns dos maiores medos infantis passam por esse tema.”

    NÃO GOSTARIA QUE MINHAS FILHAS ESTEJAM INSERIDAS NUMA SELVA INDIVIDUALISTA, COMPETITIVA E FÚTIL. QUERO QUE ELAS TENHAM AUTOCONHECIMENTO E PERSONALIDADE PARA DEFENDER SEUS PONTOS DE VISTA E SEREM DIFERENTES DISSO ….. SEM MEDO, COM BOM SENSO E MUITO RESPEITO PELO PRÓXIMO.
    Mas volta e meia eu penso que vivemos em uma sociedade na qual os valores estão deturpados, onde o egoísmo e o materialismo nos distanciam do que realmente importa! E o que importa?
    Termino com um trecho de Rosana Braga que me encanta: “Porque mais do que obedecer às regras e leis, mais do que se encaixar nos conceitos que definem extremismos vazios, mais do que seguir o fluxo feito bicho que nada pode fazer para escapar de seu destino sórdido, desejo que eu e você tenhamos apenas uma linha de conduta: a de atos inspirados nos bons sentimentos; e apenas um tipo de caráter: aquele comprometido em fazer o bem (considerando sempre nossa sublime imperfeição)!
    BEIJO GABRIELLA

  3. 26 de setembro de 2012 at 18:03 — Responder

    Adorei o tema e sua colocação…
    Quando meu filho tinha 17 anos reinvindicou algo que eu entendia não ser compatível com a idade dele. Depois de várias argumentações de minha parte, que não satisfaziam as suas necessidades, ele simplesmente contra argumentou; – Mãe, porque simplesmente não diz “não”!?!?!?
    Naquele momento entendi que deveria aprender a dizer o famoso “NÃO”, sem pena nem culpa… Anos se passaram e ainda estou exercitando o mesmo “NÃO”…
    Não é fácil…. mas Mary Poppins, com certeza, vai me ajudar muito…
    Beijos…
    Eu

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