Tudo junto e misturado

Essa semana eu li uma matéria muito legal na revista Pais & Filhos falando sobre dinâmicas familiares do século XXI. Não tem esse nome, mas eu interpretei assim.

As famílias modernas estão menores. É muito difícil vermos casais com mais de dois filhos. E cada vez é mais comum ver casais com só um filho. Os motivos são muito óbvios: mães trabalham mais, estão tendo filhos mais tarde, se realizam na primeira gestação, os gastos que envolvem a criação de um filho. Enfim… Nada de novo.

O que eu gostei de ler foi a crítica da repórter ao modelo familiar individualista atual, onde as crianças passam grande parte do tempo com babás ou na escola/creche e deixam de conviver com os avós como antigamente. Que padrinhos aparecem na igreja e depois só no aniversário e Natal com aquele super presente. Tios e primos que, com vidas igualmente atribuladas, não estão mais tão próximos.

Dá pra entender que hoje em dia a vida é muito mais corrida. As pessoas também estão mais independentes. Ninguém quer aguentar sogra dando aquele palpite sem noção. Ou aquela prima que insiste em dar pirulito pro seu filho que não come doce. Nossos pais também estão trabalhando mais e mesmo aposentados não ficam mais em casa como as gerações anteriores. Eles têm interesses, saem e viajam. E como as famílias estão menores, a verdade é que tem menos gente pra conviver.

Mas, mesmo entendendo o estilo de vida atual, eu reflito sobre o assunto com pena. Lembro que quando eu era pequena eu convivi muito com a minha família. Tios, avós, muitas primas. Almoço de domingo, férias inteiras em Saquarema (ficávamos com nossas avós enquanto os pais estavam trabalhando e apareciam no final de semana), Natais animadíssimos e muitas comemorações. Hoje, mais velhas e com filhos, estamos fazendo um esforço para trazer este convívio gostoso para a nova geração.

A minha família é muito próxima. Tem gente que não entende e acha que é simbiose demais. Também já tive que ouvir o papinho de “eu crio meu filho para o mundo”, mas eu não sei o que isso significa.

Minha mãe fica com as netas com frequência. Todo mundo tem gaveta de roupas, acessórios e produtos de higiene na casa dela. Ela é a avó que pega todo mundo na escola. É lá que as netas adoram dormir. E minha mãe ainda leva todo mundo pra piscina, pra pegar um sol e brincar no play. Já meu pai faz programas culturais com as três netas: teatro e cinema. E compra pacotes de bala, leva no shopping, e juntos almoçam, frequentam parquinhos e lojas de brinquedos. E eu e meus irmãos nos amamos muito, convivemos de perto. Minhas sobrinhas passaram muitos finais de semana na minha casa. E eu e meu marido, ainda sem filhos, aprendemos tudo sobre High School Musical, Camp Rock, Justin Bieber, Backyardigans e I-Carly. E hoje elas, com nove anos, brincam e cuidam da minha pequena que, com 1 ano e 10 meses, é completamente grudada nas primas. É tudo junto e misturado. Todo mundo dando palpite na criação dos filhos, achando que o outro tá fazendo tudo errado. Eu e minha irmã achando nossos pais meio obsoletos, meu irmão mais novo olhando torto pra gente com uma cara de que “eu-não-vou-cair-nessa-cilada” e os nossos maridos rindo de tudo, achando a dinâmica meio surreal e fugindo pra sala pra jogar videogame e dar um tempo de tanta mulher junta.

Mais legal é ver que as crianças estão crescendo com senso familiar. Ouvindo histórias de outros tempos, recebendo lições e valores que prezamos e, ao mesmo tempo, criando identidade própria dentro do núcleo.

E eu sempre posso contar com eles. Pra descansar quando a barra pesa. Pra pegar um cinema. Pra passar um final de semana fora. Pra acompanhar o marido em algum evento. Pra pegar a filha na creche enquanto eu faço uma massagem. E a recíproca é verdadeira. Acho que é por isso que eu não tenho babá e só sinto falta de uma uns 30% do meu tempo. O que, convenhamos, não é muito. E eu e minha irmã usamos o dinheiro da babá que não temos pra viajar uma vez ao ano. Em família é claro.

 

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3 Comentários

  1. Luciana Mozzini
    27 de junho de 2012 at 13:53 — Responder

    Amei o texto! Concordo com tudo e sinto muito em morar longe de toda a minha família e de não poder fazer isso tudo, também cresci numa família italiana grande e barulhenta, até hoje falo pra todo mundo e com muito orgulho como esse laço é forte e como mesmo com a distância conseguimos manter isso. Sinto pena de meus pequenos não terem essa convivência e assim que eles crescerem e puderem viajar, com certeza vão passar boa parte das férias na casa da vovó! Parabéns Camila!!

    • Camila
      27 de junho de 2012 at 14:00 — Responder

      Você sabe que eu já morei fora do Rio e do País mais de uma vez e hoje, com a Victoria, questiono muito se eu ficaria longe deles de novo. Esse cordão umbilical que a gente não consegue cortar. Eu e minha irmã brincamos que papai e mamãe implantaram um “chip” na gente que faz com que a gente se sinta infeliz se mais de 20 km de distância 😀 Reconheço que nem toda família é bacana, mas a minha é ótima e, dentro do possível, a gente consegue lidar com o gênio e as limitações de cada um. E a Victoria ama essa bagunça! Lembro que uma vez passamos um final de semana em Itaipava e minhas sobrinhas, que tinham uns 4-5 anos, exclamaram maravilhadas e excitadas: “Tá todo mundo aqui!!!!!”. Isso nunca saiu da minha cabeça. Beijo e obrigada por compartilhar.

      • Lu
        3 de dezembro de 2012 at 12:00 — Responder

        Camila, que incrivel! Vejo muito a minha familia nas suas palavras carinhosas! A historia do chip entao! Tenho 29 anos (filhinho de 2 meses Rafael) e nunca passei o Reveillon longe da trupe pai, mae, irma, vo e marido. Tudo bem que o fato de morarmos a vida inteira em Copacabana ajudou, mas tenho certeza q o lugar mais feliz à meia noite eh sempre ali, abracando a trupe e chorando porque, vamos combinar, a gente chora vendo aqueles fogos, every year…..

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