Criando uma rotina de estudo para meu filho

(Meu filho tem 7 anos e estuda no segundo ano de uma escola particular. Há 15 dias, ele teve sua primeira semana de testes valendo nota. Pela primeira vez ele precisou estudar e eu fui ensiná-lo como.)

Já havíamos começado a organizar a rotina de estudo com os deveres de casa. Todos os dias ele chega do colégio, guarda a mochila no mesmo lugar e já separa o dever que precisa ser entregue na tarde seguinte. Isso ajuda porque ele (e eu) já sabe(mos) de antemão se será necessário separar algum material para pesquisa e a quantidade de coisas a serem feitas.

Ele faz dever todos os dias no mesmo horário e no mesmo lugar. Não tem isso de sentar um dia na sala, outro no quarto e outro no chão. Na escrivaninha onde ele estuda só ficam os materiais escolares, nenhum brinquedo por perto, mas não adianta muito, porque toda régua acaba virando espada na mão de um menino (risos).

Ao meu ver,  o dever de casa começa quando ele guarda a mochila ao chegar da escola e termina quando ele lembra de colocar o material pronto na mochila de volta. Não é simplesmente fazer os exercícios, mas aprender a ter responsabilidade e disciplina. Minha preocupação maior em relação às tarefas de casas é fazer com que ele aprenda a se programar para cumprir seus deveres em um tempo estimado.

Faço tudo isso porque acho imprescindível que ele tenha bastante tempo livre para brincar do que quiser, e isso só é possível se ele se concentrar e terminar o dever em tempo, sem enrolar. É difícil, pois são muitos estímulos e a todo tempo ele levanta da cadeira, o que eu considero normal, claro. E eu tento pacientemente mostrar para ele que brincar durante a hora do dever faz com que ele brinque menos. É um pensamento complexo para uma criança, anti-natural até, mas ele já viu que algumas vezes não sobrou mesmo tempo para brincadeira.

Acompanhei de perto os primeiros deveres, agora não acompanho mais. E não deixo que ninguém fique do lado dele nesse momento. Não vai ter ninguém ao lado dele na prova nem durante a vida inteira. Cochichei no ouvido dele que deveres são cheios de armadilhas que induzem ao erro, e é preciso ficar esperto para desarmá-las. Depois ensinei um truque, reler tudo com atenção, como se fosse seu pior inimigo querendo desmascarar algum erro. Uma maneira lúdica de dizer: essa parada é com você, garoto.

Só depois de pronto e revisado, ele me chama para dar uma olhada no que foi feito. Eu não corrijo todos os erros que vejo, não estou preocupada com isso e não é meu papel. Aproveito esse momento para comentar alguma coisa legal e fazer perguntas: por que você fez assim? O que você acha disso? E se alguém escrevesse de outro jeito?  E ficamos conversando um pouco a respeito das coisas incríveis que ele está aprendendo. De vez em quando a gente abre o computador ou pega um livro e fica lendo alguma outra coisa sobre o assunto. Muitas vezes ele continua assim um tempo, sozinho, sem que eu exija ou insista.

Para se preparar para os testes, eu estudei com ele todos os dias. Ele lia a matéria da prova, eu traduzia palavras – por que escrever “condições econômicas” e “regularidade dos fenômenos naturais” em um livro para um menino de 7 anos? – e fazia sempre as mesmas perguntas: o que você entendeu disso? Conta para mim usando suas palavras? Por que você está estudando isso? Você acha isso certo? Hora de estimular o famoso e sub-utilizado senso crítico.

Mas não sou ingênua e sei que provas exigem alguns truques, como saber coisas específicas e dar respostas diretas, e então, um pouco a contragosto, ensino a ele alguns artifícios necessários para tirar boas notas. Não sem antes fazer mil questionamentos dentro da minha cabeça, como: ainda é necessário decorar alguma coisa quando você tem tanto conhecimento ao alcance do dedo? Será que o grande desafio da educação agora não deixou de ser ensinar, e passou a ser aprender a utilizar todo o conhecimento disponível com cada vez mais autonomia? Mas deixo essas perguntas para mais tarde, ele será testado em vários momentos da vida e não cabe a mim protegê-lo, mas prepará-lo.

Durante a semana de provas, estudamos com o computador do lado (ih, já estou vendo uma chuva de críticas). Ele estava lendo sobre tipos de moradia para a prova de geografia. No livro, tinha a foto de uma casa de pau-a-pique e ele não deu a menor bola. Eu me lembrei de quando descobri, ainda na infância, como se fazia uma casa de pau-a-pique e como aquilo era incrível. Pegar o barro e jogar na estrutura de madeira com as próprias mãos, aos sopapos. Youtube, claro! E foi um sucesso. Ele viu duas vezes seguidas e depois mostrou para o pai e para a empregada.

Fechei o computador e olhei desanimada de volta para o livro. Não faz mais sentido as crianças aprenderem em materiais que não sejam multimídias. Desde que vi pela primeira vez a tabela periódica para iPad, entendi que nunca mais teríamos livros didáticos como os que estudamos e que isso seria maravilhoso. Mas como ainda não é a realidade da escola dele, peguei para mim a responsabilidade de turbinar os livros com tecnologia, acrescentando Youtube, apps educativos do iPad e os googles de crianças: Zuggi e Kidrex.

E assim foi a primeira semana de testes aqui em casa. O resultado? Ele tirou notas excelentes. Fez alguns erros por desatenção e outros que considerei ótimos – sinal de que ele havia pensando, de outra maneira, mas havia pensado. Tudo bem.

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4 Comentários

  1. Marcela
    8 de Abril de 2013 at 16:06 — Responder

    Oi Mariana,
    Lendo o que vc escreveu parecia que estava aqui em casa. Nossos filhos tem a mesma idade e devem estudar na mesma escola pois até a matéria é a mesma! Um beijo e boa sorte!

    • Mariana
      8 de Abril de 2013 at 16:08 — Responder

      Será, Marcela? Posso te mandar um email pra gente descobrir? Bj

      • Marcela
        8 de Abril de 2013 at 18:37 — Responder

        Claro que sim, Mariana! beijos

  2. Isabelle
    23 de dezembro de 2015 at 22:49 — Responder

    Ual!!! Dois anos se passaram e as dúvidas em relação aos filhos continuam o mesmo. Estou passando um momento difícil neste momento com o meu filho de recém 11 anos. Ele ficou reprovado agora no 5 ano e estou procurando recursos para usar essa reprovação da melhor forma. Ele é imaturo e sem responsabilidade. Um tanto por culpa minha por uma alto proteção. Algo que preciso trabalhar. Obrigada por acrescentar o que estou precisando. Espeto que possa ler isto. Luz!!!

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