Depois da leitura de tantos bons textos – como o “Meu filho você não merece nada”, da Eliane Brum, e mais um tanto de artigos científicos comprovando a importância do estímulo para que nossos filhos possam ser mais independentes e bem sucedidos -, me deparei com um ótimo artigo de como devemos incentivar e apoiar nossos filhos.
Descobri espantada que algumas das frases mais comuns que usamos no nosso dia a dia, como “que lindo, filho!”, podem ter o efeito contrário ao esperado, e desestimular ao invés de estimulá-los. Mesmo que a intenção seja boa, segundo pedagogos e cientistas, a frase certa no momento certo faz a diferença.
Para ajudar, listamos algumas das frases mais comuns que falamos sem perceber aos nossos filhos e como deveríamos formulá-las:
O que falamos: “Bom trabalho!”
O maior problema aqui é que falamos essa frase para quase toda e qualquer coisa que nosso filho faça. A criança não entende qual o bom trabalho, porque não entende qual foi o real trabalho. Ela ouve quando rabisca uma folha, quando faz uma minhoca de massinha e quando come sozinha. Dos três “trabalhos”, qual o que merece o real elogio? Corremos o risco de que a criança entenda que tudo o que ela faz é bom.
Como devemos falar: “Você se esforçou bastante para (colocar o que foi feito)!”
Com essa afirmativa, mostramos que é preciso uma ação focada para se obter resultados. Quanto mais a gente se esforçar, melhores serão os resultados. Fatos da vida. O maior ensinamento aqui é o de persistir.
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O que falamos: “Você é um bom menino (boa menina)!”
Depois que li os artigos, tenho me policiado cada vez mais para não usar essa frase, mas ela sai sem que eu perceba, quando vejo, já falei. O poder de tentar reafirmar aquilo que desejamos – que nosso filho seja realmente bom – é na verdade um tiro que sai pela culatra. Nossos filhos não são cachorrinhos sendo adestrados, eles estão sendo educados e precisam entender cada etapa do processo e do por que receberem tal elogio. Seu filho não deve ser movido a elogio, nem fazer tarefas comuns esperando recebê-los.
Como devemos falar: “Fico satisfeita em ver que você ajudou bastante.”
Pode ser uma mudança pequena, mas esse tipo de encorajamento dá a correta informação de que você espera alguma coisa dele e mostra satisfação quando realizada.
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O que falamos: “Que lindo desenho (pintura, escultura,…)!”
Sei que a beleza é um conceito bastante relativo, mas todos vamos concordar que um rabisco no papel está longe de ser considerado uma obra de arte. Quando estabelecemos um valor para tal trabalho, oferecemos a criança o valor do nosso julgamento emocional e não o de valor real de tal beleza.
Como devemos falar: “Que bola grande você fez. Conta para a mamãe o que mais você fez nesse desenho.”
Que ninguém ache que devemos ser críticos ferozes, o simples fato de querer saber mais sobre a tal “obra” ou descrever o que você está vendo ajuda. Desse jeito não oferecemos nenhum julgamento de valor, seja ele positivo ou negativo, e damos à criança a oportunidade de ela mesma achar seu trabalho bonito ou não.
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O que falamos: “A mamãe já falou para você parar. Se você fizer isso vai ver só!”
Não faça ameaças vazias, elas nunca funcionam e, acredite, ele irá usar essa técnica contra você. Essa ameaça também pode ser uma desculpa para que a criança só funcione de castigo em castigo ou, pior, tema o uso da força bruta.
Como devemos falar: “Você está triste, com raiva (nomeie)? Mamãe fica preocupada que você possa se machucar. Como posso te ajudar?
Perdoa Senhor porque eu pequei. Impossível não resistir à tentação de ameaçar, achava tão simples, mesmo com ameaças bobas (castigo por 3 minutos ou ficar sem um brinquedo), era uma maneira quase certa de conseguir o que eu precisava.
Oferecer ao seu filho uma alternativa que permita que ele expresse seus sentimentos ajuda a validar suas emoções, mesmo que você defina um claro limite para seu comportamento. Isto acabará por levar a um melhor auto-controle emocional e bem-estar para o seu filho.
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O que falamos: “Se você _____ eu vou _____”
Uma variação da afirmação acima. Ou seja, de alguma forma estamos “comprando” nosso filho para fazer aquilo que queremos e não fomos capazes de conseguir. O que ele aprende? Que para cooperar terá que ganhar alguma coisa em troca. Esse tipo de troca aprisiona e, se usado com frequência, deixará você louca e a mercê de um pequeno tirano.
Como devemos falar: “Muito obrigado por me ajudar a ____!”
Agradecer é uma forma simples e que não oferece nenhum risco, muito pelo contrário, dessa forma mostramos apreciação e estimulamos mais cooperação. Quando oferecemos nossa gratidão genuína, as crianças são motivados para continuar a ajudar sem perceber. Permita que seu filho chegue à conclusão de que ajudar é divertido!
Importante: a maneira como pedimos, o tom de voz e a linguagem corporal farão toda a diferença.
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O que falamos: “Você é tão inteligente!”
Fazemos o elogio e com isso acreditamos estar aumentando sua autoconfiança e autoestima, mas os cientistas infelizmente atestam que o resultando acaba sendo o oposto (ai meu Deus!). Ao reafirmar para os pequenos o quão inteligentes elas são, involuntariamente enviamos a mensagem de que eles não precisam se esforçar para cumprir a meta ou produzir o resultado ideal. Outro ponto é que tal afirmativa acaba colocando muita pressão na cabecinha de uma criança.
Como devemos falar: “Uau, você realmente se esforçou para isso!”
O ideal é que você tente dizer ao seu filho que você aprecia o seu esforço. Ao concentrar-se no esforço, ao invés do resultado, você mostra para o seu filho o que realmente importa. Estudo mostram que quando focamos no esforço, as crianças são muito mais propensas a tentar um desafio ainda mais difícil na próxima vez.
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O que falamos: “Não chore.”
Lidar com as lágrimas não é fácil mesmo; alguns pais reagem com irritação e outros acabam sentindo pena. Mas a não “permissão” para chorar indica ao pequeno que não reconhecemos sua necessidade ou sentimento e acabamos criando uma bomba prestes a explodir. Eu raramente uso essa frase, só quando percebo que a manha é grande e por isso perde o status de choro (risos).
Como devemos falar: “A mamãe entende que você esteja triste (frustrado) porque não vamos poder _______ agora.”
Deixe o seu filho chorar. Nunca diga que é errado ou bobagem. O choro legítimo transmite frustração, dor, medo, tristeza e um monte de outros sentimentos. Se a criança entende que chorar vai levar o sentimento embora e que você está ali para acolhê-lo, ela tenderá a entender cada vez mais o que a leva às lágrimas. Ajude seu filho a traduzir o que ele sente e juntos terão a solução. Desse jeito incentivamos que ele expresse suas emoções e aprenda a controlá-las com o passar do tempo. Achamos válida a manifestação da criança pelo choro e já falamos sobre isso aqui.
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O que falamos: “Eu prometo!”
Não prometa nada que você não vá poder cumprir. A quebra da promessa machuca e decepciona. Você perde crédito, respeito e talvez crie um filho desconfiado.
Como devemos falar: “Eu sei que você quer muito ver o desenho, a mamãe vai fazer o possível para que você consiga chegar em casa a tempo.”
Você mostra que fará um esforço possível, mas não dá garantias. Não vale usar isso como artifício e NUNCA conseguir cumprir nada, desse jeito o seu melhor não será bom o bastante.
Seja honesto sempre, essa é a melhor maneira de ensinar seu filho.
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