O valor do dinheiro para crianças pequenas

Domingo pela manhã. Victoria me acorda às 8 horas, já está pronta para a pracinha: “Mamãe, me dá um dim dim pra eu comprar um mate?”. Pego trocados, o suficiente para uma pipoca, um mate ou um picolé. Como ela ainda não sabe o valor do dinheiro, o negócio é quantidade. Mais vale 5 notas de R$2 do que uma de R$ 20. Um dia ensaiei explicar o que cada nota daquelas significava, a única coisa que ela entendeu é que com a nota azul ela compra um mate e com a nota roxa ela compra um sorvete. Mas, aos três anos, já achei ela inteligentíssima.

Eu tenho uma preocupação imensa em fazer a Victoria entender o valor do dinheiro. Logo que ela nasceu e eu passei a frequentar outras famílias, grupos de maternidade e pracinhas, me choquei com a ansiedade dos pais em consumir, proporcionar e ter. Não me leve a mal, Victoria não é exatamente uma criança sem roupas, brinquedos e livros, mas para tudo nessa vida existe bom senso. Ou deveria existir. E as pessoas querem ter tudo: o velotrol, carrinho, patinete, bicicleta, patins e skate. Tudo ao mesmo tempo. E se você pode ter tudo, acaba não valorizando nada. Eu mesma já me coloque eu maus lençóis por consumir além da conta.

A primeira reclamação de todos os pais – e a minha – é comercial de TV direcionado para as crianças no canal infantil. Não pode, é claro. Victoria, como o seu filho, quer ter tudo o que vê. Tem muita gente legal lutando contra a autorregulamentação e publicidade infantil e você pode e deve ler mais aqui no site Infância livre de consumismo. Mas não podemos colocar a culpa do comportamento dos nossos filhos só no comercial da TV, temos que fazer a nossa parte também.

Com esse pensamento em mente, bolei uma listinha das atitudes/regrinhas que temos aqui em casa: 

  • Victoria é uma criança ativa, adora uma rua e a gente incentiva isso. Como moramos no Rio de Janeiro, temos praia, calçadão, pracinha e natureza no quintal de casa. Uma vida ao ar livre é igual a uma criança menos exposta ao comercial da TV.
  • Ainda não senti a necessidade de marcar o tempo que ela passa na frente da televisão. Minha maior preocupação é que ela passe menos tempo no canal infantil da TV a cabo do que se divertindo com televisão sob demanda (Netflix, Hulu, Apple TV, You Tube).
  • Apesar de parecer excessivo tentar fazê-la entender dinheiro, estou satisfeita com meu trabalho de formiguinha. Ela já sabe que a nota de R$ 2 compra menos coisas que a de R$ 5 e assim por diante. Quando ela pede uma coisa que é cara, eu explico pra ela que aquilo custa tantas notas de “X” reais.
  • Quando ela quer ir ao parquinho do shopping, marcamos antecipadamente a quantidade de tempo que ela vai ficar e explicamos que custa caro ficar mais.
  • Evito levá-la ao shopping, mas se ela está comigo e precisamos comprar um presente, ela não ganha outro só porque está lá. Por outro lado, se eu quero dar alguma coisa pra ela, não precisa ser uma data especial como aniversário, e faço a maior festa por causa disso, para ela entender que comemoramos sempre a chegada de uma surpresa.
  • No supermercado, eu faço a lista, incluo os produtos dela numa lista separada (que fica na mão dela) e ela me ajuda a pegá-los na quantidade correta. Ela não sabe ler, mas já está aprendendo que mercado a gente faz com lista e que nunca devemos ir com fome para fazer compras. (risos)
  • Ela nunca ganha todos os presentes de aniversário de uma vez. Abrimos, agradecemos a todo mundo e depois eu guardo a maioria e vamos fazendo revezamento.
  • Fazemos doação de brinquedos antigos algumas vezes ao ano. O mesmo com as roupas pequenas. Ainda não consegui fazê-la entender o que “crianças carentes” significa exatamente, ela simplesmente não conseguiu aceitar que algumas crianças não têm pais. Foi uma tristeza tão grande que resolvi deixar pra lá. Achei que estava exigindo muito dela. Ela sabe que doamos para o orfanato, mas não sabe o que é isso.
  • O meu maior drama é dentro da livraria. Como leitoras profissionais que somos, é difícil sair de lá com um só. Então se eu compro um, ela ganha um. Se eu compro dois ela ganha dois. Mas ela escolheria dez, então a negociação é sempre muito dura.
  • Se ela quebra algum brinquedo de propósito, jamais ganha outro. E ainda por cima fica vários dias sem poder brincar com qualquer brinquedo. (Ela teve uma fase de descontar nos brinquedos a sua frustração, por isso as medidas rígidas). Se alguma coisa quebra sem querer, ela me conta a história toda e fica bem aborrecida. Se for uma coisa que ela goste, penso em comprar outro.
  • Ela queria um patinete e uma bicicleta. Ela ganhou o patinete de aniversário. Se ela quer andar de bicicleta, vai pra pracinha e troca com a amiga que tem uma. Mas ela vai ganhar do avô uma bike de natal, o que eu achei excessivo, mas eu raramente me meto nos mimos que os avós querem dar.

 

Relendo a lista acima eu percebo que ensinar o valor do dinheiro para uma criança tão pequena quanto ela é tarefa bastante abstrata. Passa por ensinar valores, caridade, respeito aos mais velhos, saber dividir, ter paciência e tudo o mais. Mas acho que igualmente importante é saber aplicar todos esses valores na minha própria vida. E também aprendendo a trabalhar melhor com a minha planilha de gastos, porque somos o maior exemplo para os nossos filhos e se formos pais consumistas, teremos filhos vivendo com a mesma ansiedade.

 

Imagem destacada: freedigitalphotos.net

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3 Comentários

  1. Maiara Chies
    17 de dezembro de 2013 at 17:27 — Responder

    Gurias, adoooro os posts de vocês, este então, foi ótimo para mim, pois sou uma ex consumista e hoje tento fazer com que minha filha não entre nessa onda, apesar de ter apenas 6 meses, já faço revezamento com seus brinquedos e suas roupas não são de personagens, presentes também sempre peço para que não sejam, minha filha (Antônia) também não assiste televisão, as vezes me culpo por ela não ter contatos com esses personagens da mídia, mas meu instinto diz que estou fazendo o certo por adiar esse “momento”, o tempo que temos livre tento “bolar” algumas brincadeiras entre nós duas e ela sempre se diverte muito. Sou mãe de primeira viagem e vocês sempre abordam temas de extrema curiosidade e importância materna hehe. Muito obrigada por esclarecerem minhas dúvidas e me darem novas idéias :))))

  2. Cristina
    13 de agosto de 2015 at 19:19 — Responder

    Amei as postagens! Poxa Deus queira que quando eu for mãe tenha um bom discernimento assim pra educar.
    Parabéns!

    • Camila
      13 de agosto de 2015 at 19:24 — Responder

      Cristina, obrigada pelo carinho. :-*

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