Nos últimos meses apareceu uma multidão de barrigas em volta de mim. Logo agora que a minha filha fez três anos e eu ando doida pra encher a casa de fraldas e noites não dormidas novamente. E por causa dos livros que eu publico e por causa do Mundo Ovo, essas amigas, e às vezes nem tão amigas assim, me procuram pra bater papo. É uma diversão bancar a guru da maternidade, principalmente porque eu estou longe de ser expert em qualquer coisa. Como qualquer mãe de primeira viagem eu duvidei do meu instinto materno, não sabia dar banho em recém-nascido e só de pensar em cuidar do umbigo eu ficava nervosa. Mas a maternidade acontece e depois de ler bastante, procurar as minhas amigas “gurus da maternidade” e ouvir bastante minha mãe e minha irmã (mãe guerreira de gêmeas) eu me senti semi apta a cuidar da Victoria quando ela chegou ao mundo.
Para minhas queridas amigas grávidas, esperando seus primeiros filhotes e com a cabeça de cheia de dúvidas ou neuras (quem nunca?), eu queria dizer que:
Você pode estar super apaixonada pela ideia de ser mãe, mas nem sempre o instinto materno pega no tranco no momento em que o resultado deu positivo. E tudo bem. Mesmo a relação mãe-futuro bebê precisa ser construída. Afinal esse é o único momento da física em que dois corpos ocupam o mesmo espaço! Quer dizer: você vai acabar aprendendo a lidar com ele de um jeito ou de outro. Melhor que seja com amor.
Você não precisa comer por dois ou três. Hormônios, ansiedade ou falta de noção do que é realmente necessário. Comer é uma delicia e eu bem sei disso. Mas engordar 20-30 quilos numa gestação é desnecessário e pode realmente acarretar problemas para a sua gestação e para o futuro bebe. Além disso, depois você vai ter que perder esse peso todo em um momento muito mais frágil da sua vida. Então siga a orientação do seu obstetra, procure um nutricionista, se exercite. O final da gravidez vai ser mais prazeroso com menos quilos no corpinho.
Você não precisa comprar tudo o que vê pela frente. Juro. Refreie seu instinto mais primitivo: o consumo em excesso. Sim, o tênis Puma tamanho zero é a coisa mais fofa desse universo. Mas ele não vai precisar de sapatos até começar a andar. E mesmo assim evite comprar 100 pares de sapatos. Dois ou três já estão de bom tamanho. A verdade é que a indústria da maternidade faz você acreditar que ter uma banheira especial que encaixa na pia é realmente a coisa mais importante desse mundo. Mas não é, acredite. Bebês tomam banho de pia sem banheira desde que o mundo é mundo. Então, a frase aqui é: contenha os hormônios e seja comedida. Seu bolso vai me agradecer um dia, mais cedo do que tarde.
Namore muito o seu marido/companheiro (a.k.a. a pessoa que estará do seu lado). Saiam, vejam os amigos, namorem, façam pequenas viagens, se divirtam. A sua vida não acabou, mas eu não vou mentir e dizer que vai ser tudo igual. Não vai. Nunca mais vai ser igual. Mas também não vai ser pior. Vai ser só diferente. A verdade é que muitos casamentos ficam abalados e até acabam com a chegada de um bebê. Cansaço, falta de sexo, falta de cuidado, companheirismo e amizade. Muitos silêncios Por um pequeno momento a atenção será toda voltada para essa nova pessoa da família. Mas não é pra sempre e as coisas se ajustam. Juro. Mas de qualquer forma, aproveite a gestação para reforçar o seu amor. E quando o bebê chegar faça um esforço extra para não deixar a chama se apagar de vez. Conte com a ajuda de qualquer pessoa para ficar um pouquinho com o filhote enquanto você pega um cineminha com o marido pra ver qualquer filme de ação (mesmo que você cochile no escurinho). Mesmo exausta, faça um carinho no seu marido. Um beijo mais apimentado na hora dele sair pro trabalho. E por favor: tome banho antes dele chegar em casa. Não detone completamente o encantamento. Se estiver morta em vida, peça ajuda pra qualquer pessoa. Lembre-se que você não está sozinha no mundo. E lembre-se de dizer eu te amo. Pra você mesma e para ele.
E, por fim, existem duas coisas que minhas amigas mais me perguntam: como foi o seu parto? E como é amamentar?
Sobre o parto eu posso até ferir os ouvidos de muita gente. Mas eu não tive uma preferência ferrenha por qualquer tipo de parto. Gostaria muito que tivesse sido normal e me preparei pra isso. Mas também se acontecesse algo e fosse uma cesárea, eu também não faria objeção. Em casa, normal, no hospital, com ou sem drogas, cesárea. Pra mim era tudo parto. Pra mim o que mais importou veio depois. Que é a minha Victorinha nos meus braços, que são as lembranças deliciosas desde o segundo em que ela nasceu. E essa é a minha opinião. Se você, amiga querida, tem um plano para o seu parto, converse com o seu obstetra. Escolha um obstetra que seja simpático ao seu plano. Corra atrás do seu sonho. Ninguém tem o direito de interferir na sua escolha. Mas seja razoável. Se existe uma coisa que eu aprendi nessa vida, é que mãe é o ser com mais jogo de cintura que existe. Porque sempre tem uma bola curva vindo na nossa direção. E a gente tem que tomar decisões em questões de segundos. E mudar todo o planejamento. E tudo bem. Porque você vai ser mãe. E esse é um dos super poderes que vem com a nova profissão.
Sobre a amamentação, eu só tenho amor e elogios. E a Victoria também, tanto que é obcecada pelo “pipite” até hoje (assunto para outro post). O leite demorou pra descer e já desceu empedrado. Mas graças a minha mãe e a minha empregada, tudo deu certo no final. Sim, minha mãe fazia compressas com fralda fervendo e me queimava. Sim, a minha empregada fazia massagem no meu seio. Tudo absolutamente bizarro. Mas o leite desceu, ela adorava mamar, eu adorava amamentar e vivemos lindamente dessa maneira por um ano. Depois o leite secou e eu passei mais um ano lutando pra fazer a pequena se desligar do peito de amor. Mas nem sempre é assim pra todo mundo. Aqui mesmo no Mundo Ovo, minhas queridas amigas tiveram problemas pra amamentar. E eu te digo: procure ajuda. Fale com Deus e o mundo. Contrate uma enfermeira pra ir à sua casa te ajudar. Me liga. Estou do seu lado, sempre.
Meninas prestem atenção: a maternidade flui mais fácil sem tantas neuroses e preconceitos. Aproveita. Seja feliz. Você criou vida dentro de você. Parece cafona (e é), mas esse é o nosso maior super poder. Substitua a neurose por amor. Porque você vai transbordar de tudo: amor, medo, neura, tristeza, tudo. Somos regidas pelos hormônios, não tem jeito. Mas lembre-se das minhas palavras: vocês serão mães. Você pode ser a profissional mais escalafobética do universo. A maior workaholic, a maior atleta, a maior tudo. O seu mundo ainda vai ser maior do que a maternidade. Mas você vai ser mãe. E isso, querida, vai te definir.
Estou de mãos dadas com vocês, sempre. Aproveitem.
Imagem: Teri Lynne Underwood
9 Comentários
Que texto lindo! Traduz muita coisa que está rolando na minha vida agora.
Ter minha filha me deixou mais confiante: agra parece que sou capaz de enfrentar o mundo todo por ela!
E, do medo da gravidez, surgiu tbm uma calma e uma serenidade que eu não sei de onde vieram. E tenho certeza que a Filipa é tranqüila e feliz porque nós, os pais, somos assim ao seu lado.
Parabéns pelo post.
Flávia, com a maternidade vem a capa e o cinto da mulher maravilha. E mesmo todo mundo dizendo que você não precisa encarnar a personagem, não tem jeito. Tem alguém que depende da gente pra sempre. E por nosso filhote a gente é mesmo capaz de tudo. Obrigada e beijos
É isso! Ser mãe é mesmo assim… E repetir a dose é delicioso! Curtam bastante a sua barriga,suas primeiras noites sem dormir… É sempre bom ser chamada de mãe! Parabéns!
Simone, você sabe que de todas as coisas, ficar sem dormir foi o mais tranquilo pra mim. A gente encarna o modo zumbi e vai vivendo! hahahaha Beijo
Amei o texto!!! Maravilhoso… fala sobre todas as nossas angústias e fantasias, mostrando um lado maravilhoso… Obrigada
Priscila, enquanto a gente tá no meio do turbilhão é mais difícil enxergar, mas depois que a maré acalmou eu consegui ver tudo com tão mais clareza. Nunca é fácil, né? Mas ainda assim a gente ama e quer repetir a dose. Beijoca
Não contive as lágrimas… Haja coração!!! <3
Adorei o post.
No meu caso, o instinto veio brotando. Devagar. Maroto. Mas brotou!
Minha filha tem 7 meses e já me sinto super confiante (na medida do possível, porque a culpa e o medo são sombras que parecem não nos largar!). O caos dos primeiros meses passou e já está dando para dividir bem o tempo com o marido.
Apesar do sacrifício, quero muito ter outros filhos. Mias 2, quem sabe? Mas maaais lá pra frente!
Patricia, depois que a coisa se acalma a gente fica querendo encher a casa dessas coisas deliciosas e saltitantes, né? Beijo