Confesso que sou uma mãe permissiva. Não gosto do adjetivo e muitas vezes penso que seria mais fácil se eu fosse mais durona. Mas, honestamente, eu sou o típico cão que ladra, mas não morde.
Victoria, por sua vez, é a pirralha precoce cheia de atitude. Fala tudo explicado, pergunta, argumenta, raciocina… E faz birra. Aliás, ela é PhD em birra. O que piora tudo porque eu também sou uma pessoa sem paciência. Aí imagina a equação: pirralha atacada + mãe que ladra, mas não morde x pirralha que testa todos os limites + mãe sem paciência = tudo errado.
Tudo errado porque quando eu perco a paciência dois cenários acontecem: ou eu deixo pra lá e ela faz o que bem entende, ou eu passo uns cinco minutos berrando, o que a deixa irritada e ainda sem me respeitar, de forma que os gritos foram só um grande desperdício de energia.
Eu me considero uma pessoa bem informada: leio, estudo e ouço opinião de especialistas e outras mães com igual interesse. E ultimamente venho me perguntando qual caminho seguir.
A verdade é que existe em mim uma mãe que gosta de conversar e dar escolhas. Uma amiga quase me bateu quando me viu perguntando para minha filha de 18 meses o que ela queria comer no jantar. Na cabeça dela, criança não escolhe o que vai comer. Mas aqui em casa, depois que ela chega da creche, já jantada, ela tem a opção de lanchar ou jantar novamente. Oras, não estou oferecendo a ela a chance de comer abobrinha ou algodão doce. Estou oferecendo uma refeição com carne, arroz, grão e legumes ou lanchar dentro de algumas opções como iogurte, sanduíche, suco, milho cortadinho, ovinho mexido etc. Hoje, aos três anos, a hora da refeição raramente é um momento de conflito. Conversamos, escolhemos, preparamos o nosso prato dentre as opções da geladeira e comemos em harmonia.
Mas eu também percebo que essa atitude meio permissiva incentivou o meu inferno particular que foi viver os terrible twos da Victoria, pois facilitou as birras, tapas e as dentadas. E foi mais difícil impor limites em uma criança tão pequena que normalmente tem poder de escolha e voz ativa.
Hoje, passados três anos, está ficando mais fácil. Ela consegue se expressar mais e entende com mais clareza o que eu quero dizer, então nossa comunicação flui melhor. Tapas e dentadas quase que desapareceram por completo. Estou também lendo bastante sobre non violent communication, uma criação com mais harmonia e menos conflitos. E estamos trabalhando em incentivar mais a comunicação com palavras ao invés de manhas, choros descontrolados e birras.
Nem tudo é perfeito. Ela se recusa a obedecer quando está aborrecida. Também não reage bem quando é desafiada ou contrariada. Mas venho, aos poucos, conseguindo estabelecer limites através de muita conversa e argumentação. E coleciono algumas pequenas vitórias. Nosso diálogo semana passada, dentro do taxi, é uma prova disso:
_ Filha, hoje, quando chegarmos em casa, você precisa fazer cheirinho (nebulização).
_ Ah, mãe, mas eu não quero – disse ela, já iniciando um chorinho.
_ Eu sei, filha, mas você está encatarrada e seu pai disse que você vomitou hoje de manhã. E, se você não melhorar, vai ficar com febre.
_ E aí eu não posso fazer natação?
_ Pois é, se você estiver dodói, não pode fazer natação.
E quando chegamos em casa, rolaram duas rodadas de nebulização completas, sem choro e nem vela.
Será que, no final das contas, estou fazendo alguma coisa certa, com mais conversa, menos imposição unilateral de limites e mais poder de escolha, incentivando liberdade e independência? Sei lá. Mas estou tentando não ferir esse meu desejo de criá-la com menos imposição e ao mesmo tempo não criar um pequeno monstrinho. Me perguntem o resultado desse experimento em 10 anos, quando ela for adolescente.
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