Uma reflexão sobre escolhas

Algumas semanas atrás uma amiga me mandou uma reportagem à respeito de uma família canadense que ao ter o terceiro filho(a), resolveu não divulgar o sexo para ninguém (nem depois do nascimento); incluindo aos avós. O nome da criança, que hoje deve ter por volta de 2 anos, é Storm e o suposto intuito da escolha é não limitar as possibilidades dele(a). Storm poderá escolher seu sexo quando assim desejar, dizem os pais. Além de Storm, o casal possui mais dois meninos de 7 e 4 anos que são criados com toda a “liberdade” de poder escolher tanto o tipo de roupa que querem usar, quanto o corte de cabelo. São frequentemente confundidos com meninas e ficam chateados quando isso acontece. Embora essas informações venham de uma reportagem e está fora de contexto, vale uma reflexão.

A primeira ideia que me ocorreu foi uma tremenda confusão entre sexo e escolha sexual. O sexo desse bebê já está definido por natureza. Não tem o que possa ser escolhido nesse sentido. Já a opção sexual, será definida pela criança e julgada pela sociedade independente da vontade dos pais. Num primeiro momento, essa linha de educação parece muito absurda e distante da família comum. No entanto, olhando mais de perto, podemos perceber o quanto existe um movimento atual no sentido dos pais tentarem definir cada vez menos alguns parâmetros básicos para os filhos. Tentam diminuir a pressão da criança ter que seguir escolhas pré-definidas, como se traçar caminhos significasse obriga-los a trilhá-los sem opção.

A psicologia tem uma grande parcela de culpa já que a divulgação errada de alguns conceitos levaram à conclusão de que devia-se evitar a qualquer custo traumatizar as crianças. Dar limites e parâmetros para a boa convivência em sociedade foi confundida com limitar as potencialidades de cada um. Com isso, as crianças se tornaram os ditadores das próprias vontades dentro da família. O pequeno detalhe que fica esquecido é a falta de estrutura dos mesmos para ocupar esse lugar. Ser livre não significa necessariamente fazer tudo o que quer, e sim conseguir agir de acordo com o que pensa e sente. Isso leva anos para se desenvolver e tem que ser calcado em uma estrutura construída a partir de princípios e crenças familiares, dentre outras coisas.

A intransigência dos pais que não permitem que os filhos sejam diferentes do que eles esperam, marca profundamente a vida de qualquer pessoa. Entretanto, não ajudar a criança a se inserir na cultura em que ela vive, também deixa feridas irreparáveis. Nisso se inserem diversas questões como: não impor limites, não expor à frustrações, não ajudar a aceitar o diferente, não ensinar o que é certo e errado, bem como enfrentar pré-conceitos. Afinal, o que mais vemos nas notícias relacionadas à escolas são consequências catastróficas ocasionadas por pessoas que não tiveram a ajuda necessária para se encaixar, e se sentiram excluídas. Todos buscam ser aceitos, sem exceção.

O que quero dizer é que para poder ensinar os filhos a andar com as próprias pernas, é importante estar ao lado, dando a mão, segurando e orientando, até que eles estejam prontos para fazer sozinhos.

 

Imagem: Storm e sua familia.

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3 Comentários

  1. ANA PAULA SUHELYO SANTOS SILVA
    2 de Abril de 2013 at 22:16 — Responder

    Gostaria de receber suas publicações. Obrigada

  2. Bruna Biazzi
    18 de outubro de 2014 at 15:03 — Responder

    Olá Roberta!

    Pena que é tão dificil deixar os pequenos terem suas proprias frustrações. Eu criticava tanto pais superprotetores, e agora que sou mãe vejo o quão é dificil essa tarefa.

    Excelente texto. Parabens.

  3. Aline
    27 de agosto de 2015 at 20:59 — Responder

    Excelente texto. Concordo pl3namente. Gostaria tbm de receber suas publicacoes. Obrigada

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