Semana passada, uma mãe foi presa nos Estados Unidos por deixar seu filho de 7 anos durante uma hora e vinte minutos na loja da Lego, em um shopping, enquanto fazia compras em outros estabelecimentos do mesmo local.
Em julho, Debra Harrell foi presa por deixar sua filha de 9 anos brincando em um parquinho, sem a supervisão de um adulto, enquanto cumpria sua jornada de trabalho em um Mc Donald’s a cerca de dois quilômetros de distância. A menina havia passado as férias escolares sentada na lanchonete brincando com um laptop, enquanto a mãe trabalhava, mas a casa delas havia sido assaltada e o computador roubado, e quando a menina perguntou se poderia passar o dia brincando em um parquinho ali perto, a mãe permitiu e entregou um celular para que as duas pudessem se comunicar. Nada aconteceu, mas no terceiro dia da menina na praça, alguém fez uma denúncia anônima e a mãe foi presa.
Em um longo e excelente texto publicado no site Salon (em inglês), a escritora Kim Brooks relata o dia em que, atrasada para pegar um voo, ela decidiu deixar seu filho de 4 anos durante cinco minutos em um estacionamento enquanto comprava um fone para o menino assistir filme no avião. Ela deixou o vidro ligeiramente aberto, trancou o carro, acionou o alarme e deixou ele na cadeirinha, preso com o cinto, jogando. Nada aconteceu com o menino, mas alguém que estava passando na rua filmou a cena, mandou o vídeo para a polícia e ela recebeu um mandado de prisão. A partir do episódio, que ela julga um lapso momentâneo e um erro de avaliação, ela analisa as diferenças entre a criação de filhos na década de 1970 e 1980 para os dias de hoje e examina de perto o caso dela e seus desdobramentos.
Histórias como esses têm levantado discussões acaloradas nos Estados Unidos, deixando de um lado aqueles que acusam as mães de negligência e, de outro, os que acham as punições exageradas. Lenore Skenazy está no segundo time. Em 2008, ela escreveu uma coluna sobre a sua decisão de deixar seu filho de 9 anos andar de metrô sozinho na cidade de Nova York e ganhou o apelido de “a pior mãe da América”. A polêmica em torno do texto foi tão grande, que ela decidiu escrever um livro e fundar um movimento chamado Free Range Kids – em tradução livre seria algo como “crianças à solta”. Nas palavras de Lenore, o movimento tenta “combater a crença que nossas crianças estão em perigo constante.”
Em seu site Free Range Kids, Lenore explica sua filosofia como mãe: “Eu acredito em segurança. Eu AMO segurança – capacetes, cadeirinhas para carro e cintos de segurança. Eu acredito em ensinar as crianças como atravessar a rua e até acenar com os braços para serem notadas. Eu sou uma geek da segurança! Mas eu também acredito que nossas crianças não precisam de um esquadrão de segurança cada vez que saem de casa. Nossas crianças estão mais seguras do que pensamos e são mais competentes também.”
Lenore defende que ela, como todas as outras crianças que cresceram antes da TV a cabo, eram Free range kids. E não é difícil achar em nossas memórias de infância lembranças de uma época com muito mais liberdade, em que as crianças não usavam cintos de segurança nos carros e ia sozinhas para a escola. Os que discordam, garantem que os tempos são outros e mais perigosos, o que exige uma vigilância maior e mais atenta.
É, começamos a semana com um assunto polêmico desses e queremos ouvir a sua opinião a respeito nos comentários!
Ah, e depois de tantos links em inglês, um em português de uma matéria da revista Crescer sobre superproteção, Free Range Kids e uma pequena entrevista com Lenore Skenazy aqui para quem quiser ler mais sobre o assunto.
*Crédito da imagem: snappybex
3 Comentários
há 15 anos atras eu brincava na rua, ia pro centro e explorava meio mundo (os bairros proximos)e nada nunca aconteceu. É fato que hoje os tempos são outros e mais perigosos, mais deixar uma criança de 7, 8 anos ir até a padaria da esquina ou na mercearia na rua de baixo não é ser uma mãe ruim, é apenas permitir que nossos filhos criem responsabilidades, e aprendam a se defender sozinhos.
Acho que tudo que é dosado é bom, traz beneficio… claro que nao to dizendo pra ninguem deixar sua criança sozinha em casa o dia inteiro, ou ir pro outro lado da cidae sozinho, mais alguns minutos ou ate algumas horas em casa, bem orientado, , não vai fazer mal nenhum.
Obrigada por dividir sua opinião com a gente, Leilane! Beijos