Medos na gravidez

Quando fiquei grávida pela primeira vez, o medo não era tão grande (ou não teve tempo de crescer, afinal a gestação durou apenas 10 semanas), e nesse tempo a felicidade tomou conta total da minha vida. Os enjoos eram o sinal da minha felicidade, o sono e qualquer pequeno mal estar não era maior do que o que eu carregava em meu ventre.

Na minha segunda gravidez, todos os medos que ouço de algumas amigas e leio por aqui e acolá se somaram aos medos de uma primeira gestação que não foi adiante. O que eu posso dizer sobre o medo é que ele é saudável desde que não te paralise. É o medo que nos impede de fazer loucuras como colocar o dedo na tomada ou comer uma feijoada à meia-noite. O que aprendi nesses nove meses foi que o medo perdeu feio para a necessidade de controle sobre o que estava acontecendo no meu corpo. Eu tinha medo daquilo que não podia prever ou controlar.

Para não sofrer mais do que o necessário – porque sofrer a gente sofre, né? – busquei ajuda e me informei sobre cada um dos medos e riscos que vinham na minha mente. Listei os meus medos (alguns devem bater com os seus) e as explicações racionais para cada um deles. Conhecer os medos faz com que tenhamos algum domínio sobre eles e permite que a gente se preocupe com o que realmente requer atenção. Aproveite sua gravidez e cada um dos frios na barriga.

 

Acredito que o maior de todos os medos seja o do aborto espontâneo. Aconteceu comigo e com mais um monte de gente. Vamos chorar, duvidar e nos revoltar, mas o fato é que se tiver que acontecer, não há nada que possamos fazer para evitar.

O que pode acontecer: A maioria dos abortos que acontecem, sem motivo aparente, se devem a um crescimento e desenvolvimento anormal do feto.

A verdade: Menos de 20% das gestações resulta em aborto. Algumas de nós pode nem perceber pois acontecem ainda no primeiro mês, quando nem sabemos estar grávidas, e o sangramento é encarado como uma menstruação. Muitos médicos afirmam que esse risco diminui consideravelmente (cerca de 5%) após ouvir os batimentos cardíacos do bebê, o que acontecerá lá pela oitava semana. Para diminuir os riscos, é indicado não fumar, evitar o consumo de bebida alcoólica e diminuir o consumo de cafeína.

 

Queremos ter a certeza de que estamos gerando um bebê saudável. Quando se têm mais de 35 anos, esse é um dos medos que só aumenta. Os médicos pedem vários exames adicionais e você pode se ver em uma espera angustiante.

O que pode acontecer: Podemos ter resultados nada agradáveis, mas poucas são as famílias que decidem interromper uma gravidez por conta de síndromes e/ou anomalias, se elas não oferecem riscos. Algumas anormalidades podem ser corrigidas ainda dentro do útero materno e garantir que o bebê sobreviva.

A verdade: Suspiramos de ansiedade a cada ultrassonografia e depois de alívio ao constatar que tudo está bem. Precisamos ter a mente aberta para cada possibilidade e saber o que fazer com o diagnóstico recebido. Apenas 4% dos bebês nasce com alguma anormalidade e conhecer o problema é a melhor maneira de se preparar para a chegada do seu bebê.

 

As assustadoras dores do parto e o trabalho de parto. Poucas são as mulheres que estão preparadas para a hora do parto, ao menos psicologicamente. Me parece que quanto mais perto vai chegando a hora, mais apreensivas vamos ficando.

O que pode acontecer: O trabalho de parto pode demorar horas e é importante confiar no médico que escolheu para lhe assistir nessa hora tão delicada e feliz. Sim seu filho pode estar de bumbum para a lua e você ter que fazer uma cesárea. O importante é que você esteja bem assistida, sempre. Desde que o mundo é mundo, bebês nascem todos os dias das mais diversas formas.

A verdade: (Eu não entrei em trabalho de parto, minhas observações são fruto de pesquisa). Dói e dói muito. As contrações são cólicas poderosas que tentam mover o seu bebê para fora de você. Algumas mulheres dizem que é uma dor de prazer por saberem que dela virá ao mundo um lindo bebê e outras partem para a analgesia. Você sempre pode escolher tomar algum tipo de medicamento em diferentes momentos do trabalho de parto, informe-se com seu médico (esqueça o Dr. Google) e tenha um plano de parto.

 

Minhas amigas me condenaram por tomar uma tacinha de vinho vez ou outra. Ouvia todo tipo de doideira, a maior delas, que meu filho poderia desenvolver predisposição para se embriagar por aí quando mais velho (só o mapeamento genético pode determinar isso). Eu me perguntava se elas realmente achavam que eu fazia isso a revelia ou se o meu médico poderia de alguma forma ter enlouquecido.

O que pode acontecer: É importante considerar os riscos. Ainda não há uma quantidade segura de ingestão alcoólica que seja consenso entre a classe médica, o que se sabe é que mulheres que fazem uso continuado de bebidas alcoólicas estão mais predispostas a sofrer abortos espontâneos ou terem seus filhos de forma prematura.

A verdade: Em uma avalanche de “não pode”, é comum a gente nem contestar, parece que estar grávida é estar doente de alguma forma. Muitos médicos proíbem por medo que suas pacientes passem um pouco da conta e vejam nesse sinal verde de uma taça por semana a desculpa para beber um pouquinho mais. Cada médico conhece bem sua paciente. O mesmo vai acontecer para bebidas cafeinadas, queijos não pasteurizados e outros itens da enorme lista de restrições.

  

Um outro medo bastante recorrente e propagado à exaustão era de que o meu estresse poderia fazer mal ao bebê. Casa em obras, trabalho à toda, empregada surtada: você há de concordar que alcançar o Nirvana passava bem longe da minha vida. Cada choro e cada ataque de ansiedade me causava ainda mais desconforto por acreditar que o meu bebê sofria.

O que pode acontecer: Alguns estudos mostram que gestantes que sofrem de estresse agudo ou continuado podem ter seus filhos prematuramente. A perda de um familiar querido, doença na família e perda de emprego podem sim ser prejudiciais.

A verdade: Sim, os hormônios potencializam cada um dos nossos sentimentos tornando tudo mais grave do que realmente é. Fazemos tempestade em um copo d’água, mas esse tipo de estresse exerce mínimo impacto na saúde do seu bebê. Especialistas no assunto concordam que a maneira como lidamos com o estresse será determinante.

 

Gestar um bebê após os 35 anos de idade (quanta injustiça) gera preocupações também com nossa própria saúde. Ficamos mais suscetíveis a sofrer com a pré-eclâmpsia e diabetes gestacional.

O que pode acontecer: As complicações decorrentes da pressão alta comprometem a saúde da mãe e também do bebê. Para o bebê, o suprimento de nutriente chega de forma inadequada via placenta, comprometendo assim o seu crescimento. Para a mãe, a pressão elevada é ainda mais grave, provocando inclusive inflamação de órgãos nobres como o rim e aumentando a possibilidade de isquemia.

Níveis de glicose aumentados e fora de controle podem afetar o bebê, obrigando-o a produzir mais insulina e com isso fazendo com que o bebê seja bem maior do que a média.

A verdade: A incidência de pré-eclâmpsia é de no máximo 8% em mulheres acima de 35 anos e é a mesma taxa para mulheres abaixo dos 18 anos. Quando ocorre é, inicialmente, bastante perceptível e geralmente aparece na segunda metade da gravidez. Atenção caso você apresente sinais e sintomas como inchaço dos pés, mãos e face, visão turva e dores de cabeça sem explicação aparente.

A verdade sobre o diabetes é que diagnosticada precocemente, mudanças alimentares e no estilo de vida geralmente são suficientes para manter o quadro estável e fazer com que mãe e filho cheguem saudáveis até o final da gravidez.

 

Mas o maior de todos os medos (e que me assombra quase todos os dias) é o de não ser uma boa mãe

O que pode acontecer: Vocês irão aprender juntos a ser mãe e filho e viver essa relação a cada momento. O amor virá sob diversas formas e nem sempre será manso e sereno. Haverão tempestades e dias em que você se perguntará se fez a coisa certa; terá saudades do tempo em que não era responsável por mais ninguém, além de si mesma. Mas tudo passa, mesmo as tempestades mais desastrosas e o amor sobrevive cada dia mais lindo e leve.

A verdade: Ninguém sabe muito de tudo, e o que uma mãe fez ou precisa fazer está também nessa lista. Quando dizem que vamos fazendo por instinto, podemos assumir que em parte é uma grande verdade. Ninguém te prepara para ser mãe, equilibrar as várias facetas dessa sua nova vida e tentar não se perder dentre as várias de você que se encontram na mesma pessoa. Você passa a ser mãe, mulher, esposa, dona de casa,profissional; todas essas mulheres com necessidades para serem atendidas. O que posso te dizer se essa é uma grande preocupação sua, é que você está no caminho certo.

 

Crédito de imagem: mardy78

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1 Comment

  1. 12 de setembro de 2013 at 12:15 — Responder

    Tenho 40 anos e sou mãe de 4 filhos (16,8,6 e 4anos) trabalho e moro 1h30m de casa,muitas vezes me culpo, me cobro por nao conseguir administrar o meu tempo e atender às expectativas dos meus filhos, cada um em uma fase diferente, necessidades diferentes.
    Fico mal, então, converso com outras mães/amigas, que estaõ na mesma “situação”, então mais aliviada, percebo a importânciade dividir experiências, “trocar figurinhas”, pra não me sentir tão culpada. Fácil NUNCA!!! mas “impagável”

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