Em algum momento da minha jornada na maternidade, eu virei uma especialista em sono. Tá bom, talvez não especialista, mas uma amadora muito bem informada. Os primeiros dois anos e meio da minha vida foram absolutamente infernais, ser mãe-mulher-velha-trabalhadora com sono, foi muito, mas muito difícil de funcionar. Eu era um bagaço. Sempre exausta, caindo pelas tabelas e, cada tempinho livre que eu tinha, tudo o que eu queria era me deitar em posição fetal e ficar ali, vegetando e criando raízes.
Mas um dia Vicky se aprumou. Ela decidiu que era hora de dormir a noite inteira e em horário razoável. Decidiu também que não era mais necessário tomar 4 mamadeiras de leite pra se acalmar, nem mamar um peito sem leite e que ela podia trocar tudo isso por uma chupeta e um cafuné no lóbulo da orelha. E o principal: ela podia pegar no sono sem cadeirinha vibratória, balanço, mãe balançando o bumbum e qualquer coisa que deixasse ela tonta o suficiente pra capotar. Um dia ela decidiu mamar uma única mamadeira, virar para o lado e dormir 10 horas seguidas.
Passou-se um ano.
Eu, que já estava separada, decidi não tentar mais tirá-la (sem sucesso) da minha cama. A rotina era de cinema: pijama, historinha, mamadeira, chupeta e tá-dá!: criança capotada em cinco minutos. Durante o dia, na creche ou em casa uma soneca na parte da tarde.
E aí que 2014 chegou e com ele a novidade: o maternal II não ia mais ter a soneca da tarde. Meu mundo caiu. Conversando com a professora, ela me disse que a Victoria já era a última a dormir, quando dormia. Na maioria das vezes ela ficava de “assistente da auxiliar” enquanto a turma dormia. Ainda assim resolvi ficar de olho (e coração na mão) e ver qual seria o potencial desastre dessa mudança.
No primeiro mês, a Victoria entrou no carro e reclamou que já era grande e não podia mais dormir , mas que ela ainda tinha sono. Eu disse pra ela pedir pra professora pra tirar um cochilinho na sala do maternal I depois do almoço. Achei importante ela se sentir com autonomia pra resolver essa parada com a professora (mas mandei um bilhete pra escola contando a nossa conversa). No dia seguinte ela me explicou que quando estava com sono, que ela podia dormir, mas que não precisava mais dormir se não quisesse. Fiquei feliz que ela conseguiu argumentar a sua necessidade com a professora e que recebeu uma resposta satisfatória.
Nos dias de semana começou a ficar mais difícil tirar a mocinha da cama. Eu acordo e só muito depois ela resolve dar o ar da graça. Normalmente preciso acordá-la pra gente não se atrasar. Já o sono da noite ficou o mesmo. Ela já estava dormindo em torno das 20:30h-21h e continua tudo igual. Nos finais de semana ela passou a acordar um pouco mais tarde, acho que pra compensar. E a brigar menos com o sono quando chegava a hora de dormir pra valer.
Mas, como nada nessa vida é perfeito, as tardes dos finais de semana estão ficando mais duras. Depois do almoço – mais conhecido como a hora do cochilinho – ela passou a ficar bem chatonilda. Está com sono, mas não quer mais dormir. Fica rabugenta, mal-humorada e, mesmo que ela aceite que quer cochilar, parece que está “esquecendo” como é que faz. Antigamente ela acordava cedo, ia pra rua (pracinha, Lagoa, praia, andar de patinete…) e voltava pra casa para o fim do round 1. Almoçava, banho e soneca. Essa soneca durava umas duas horas. E aí começava o round 2, que incluía festinhas, casa de amigos, shopping, mais passeios ao ar livre. Depois era brincadeiras em casa e cama.
E o que fazer no horário da soneca? Depois de tentar aqui e ali, dei uma remanejada na rotina e acho que está funcionando.
Ela passou a acordar mais tarde, a manhã também se estendeu e o almoço passou a sair um pouco mais tarde também. Depois que ela almoça, não dorme mais, mas fica deitadinha no sofá curtindo uma televisão ou brincando de coisas calminhas. E passei a fazer a jornada da tarde um pouco mais cedo. Assim, passamos a chegar mais cedo em casa e ela tem mais tempo dentro de casa, coisa que adora, e acaba dormindo mais cedo.
Viu? De todos os desastres que poderiam acontecer com a retirada da soneca da tarde, até que aguentar umas “chatonildices” da minha princesa está sendo o menor dos meus problemas. Bastou um pequeno ajuste na rotina e tudo voltou ao normal.
Isso até eu efetivamente começar o desfralde noturno, né? Porque só de pensar em acordar de madrugada e pior: tirá-la da cama pros xixis da madrugada, chego a ter vontade de chorar. Deixa eu domar a falta de soneca da tarde pra depois encarar mais madrugada acordada pela frente. Nada como matar só um leão por dia.
Foto destacada: My aim is true
7 Comentários
Você, como sempre, fantástica! Sempre expressando tão bem nossas angústias.
Flavia, obrigada pelo carinho! Parece uma coisa boba, né? Mas vc não tem ideia de como fico abalada com qualquer coisa que mexa no sono dela. Traumatizada é pouco!
Sempre uma leitura interessante para quem exerce a maternidade. Os assuntos abordados são excelentes e ao ler cada artigo é como se estivéssemos trocando idéias desta fase tão maravilhosa e difícil de nossas vidas. Obrigada!
Leticia, que bom que voce se sente em casa aqui no Mundo Ovo. Essa é mesmo a nossa vocação! Beijo e obrigada!
Oi, Camila! Será que você poderia falar sobre o progresso do sono nos dois primeiros anos? Tenho um filho de sete meses que não aceita rotina, nem de sono nem de alimentação. Fico torcendo para ele se organizar, com a minha ajuda (claro), mas tem horas que fico meio descrente. Hehehehe…
Simplesmente adoro seus textos… me identifico demaaais;)
Tati, obrigada pelo carinho! ❤️