Mesmo que você nunca tenha lido nada sobre Slow parenting, nem tenha ideia do que o termo significa, como mãe, lá no fundo, você já andava incomodada e pensando sobre o assunto. Slow parenting tem a ver com “anda logo, vamos chegar atrasadas no balé (ou judô, ou inglês, ou natação)”, tem a ver com brincar com a sua filha respondendo emails de trabalho, tem a ver com estar perto e longe ao mesmo tempo, e sentir uma vontade imensa de mudar tudo, fazer o relógio parar e aproveitar o momento.
Não pense que os pais todos enlouqueceram juntos (talvez um pouquinho, rs). As exigências de um mundo globalizado e altamente competitivo bateram à porta de nossas casas e estamos receosos de não preparar nossos filhos o bastante para o futuro. Por isso, matriculamos as crianças em dezenas de cursos e exigimos resultados e notas, deixando elas estressadas (e nós também). É como se tivéssemos perdido a confiança em nossa capacidade e precisássemos descobrir através de indicadores externos se os filhos estão sendo bem-sucedidos ou não.
Nesse cenário vertiginoso, o movimento Slow parenting surge como um contraponto a essa vida acelerada. Ele é uma maneira de criar os filhos respeitando o ritmo da infância, sem querer apressar etapas de desenvolvimento ou impor uma agenda de adulto para eles. Que preserva o tempo livre e deixa espaço para que a criança possa se descobrir. É um movimento que tem reflexos profundos na maneira de se relacionar dos membros da família.
Inspirada por esse movimento, em 2012, a Academia Americana de Pediatria recomendou que as crianças tivessem uma agenda menos lotada de compromissos e mais tempo livre para brincar e ficar em família. Os “pais sem pressa” (termo brasileiro) se esforçam para que a criança se desligue mais da tecnologia (TV, computadores e eletrônicos em geral) e passem mais tempo ao ar livre, em contato com a natureza e desenvolvendo suas habilidades. O resultado é uma criança mais satisfeita e mais criativa, que precisa de menos coisas e, consequentemente, passa a consumir menos.
Carl Honoré é um dos difusores do Slow Parenting. Na verdade, o jornalista e escritor canadense é um especialista em desaceleração, para adultos e crianças. O seu livro, Sob Pressão, já publicado no Brasil, trata exclusivamente da relação dos pais modernos com seus filhos e se tornou a bíblia do movimento no mundo. Além de analisar a conduta dos pais, reflete ainda sobre as consequências negativas ao adotarmos um comportamento obsessivo com relação à educação infantil. E ele se coloca muitas vezes na berlinda, quando fala da própria relação com os filhos, com consumo e pressões financeiras e sociais.
E é dele essa lista com sete mandamentos, para que as famílias possam identificar seus problemas e achar soluções dentro do Slow Parenting. (Fonte: Folha de S. Paulo)
1. Sem agenda: Crianças de zero a cinco anos não precisam de atividades estruturadas: devem aprender de forma livre.
2. Miniexecutivo: Atividades extraescolares podem ser ótimas quando ajudam a exercitar a mente e o corpo. São ruins quando são exaustivas ou feitas só pensando no currículo profissional da criança.
3. Dê ouvidos: A opinião da criança deve ser considerada na hora de escolher uma atividade.
4. Menos, menos: Simplifique a agenda dos seus filhos, deixando tempo livre para brincar.
5. Tédio faz bem: Deixar que as crianças fiquem entediadas é uma forma de fazer com que elas aprendam a ser mais criativas.
6. Ócio familiar: Reserve algumas horas na semana para “fazer nada” em família – conversar, jogar, cozinhar sem nenhuma programação prévia.
7. Novos amigos: No parquinho, resista à tentação de brincar com a criança o tempo todo. Deixe ela brincar com outras pessoas.
Todo mundo sabe que diminuir o ritmo nem sempre é fácil. Desacelerar as crianças significa também desacelerar toda uma rotina familiar. Se você se identificou com o Slow parenting, mas ele ainda parece uma mudança muito radical, tente ir introduzindo aos poucos momentos de ócio na vida da sua família. Você pode se surpreender com os efeitos. Fazer nada em família pode ser tudo o que vocês precisam.
Obs: Este post foi inicialmente escrito por mim, mas cheio de pitacos da Mariana e da Patricia. Apesar de termos tantos interesses diferentes, de vez em quando nos apaixonamos pelo mesmo assunto e todo mundo contribuiu um bocadão. Acho que estamos todas na mesma vibe de praticar um pouco (ou um muitão) de slow parenting nas nossas próprias vidas e esperamos que este post inspire vocês também. Se você também se identificou com essa necessidade, não deixe de contribuir nos comentários abaixo, que tal?
Veja aqui o Ted Talk de Carl Honoré sobre o movimento Slow. (em inglês, mas com legendas em português)
Imagem: Kathy Ponce