Victoria saiu dos terrible twos e chegou aos três anos. É impossível não lembrar do episódio da Família Dinossauro (Pra quem não viu, o episódio mostra de maneira exagerada como foram os terrible twos do Baby e como eles encararam a transição para os três anos) e as coisas realmente se acalmaram quando ela começou a se articular melhor. Parou de bater, parou de morder e parou um pouco com a pirraça nonsense.
Mas a primeira infância é uma caixinha de surpresas e agora, aos 3 anos e 9 meses, ela dá ataques. Sabe chilique misturado com falar grosso e respostinha aborrecente? Pois é. Agora quando eu digo alguma coisa, preciso ouvir de volta: “e daí, mamãe?!”. Um dia desses, lendo alguns sites de maternidade estrangeiros, me deparei com o termo em inglês threenager e quase passei mal de tanto rir. A mistura de three (três) + teenager (adolescente) casou como uma luva (ou um tijolo) com a fase que ando vivendo aqui em casa.
Trocando em miúdos, os threenagers são os pirralhos que se acham adolescentes. Tudo vira um grande dramalhão, suas vontades precisam ser consideradas e eles têm uma resposta pronta e opinião sobre absolutamente todos os assuntos.
Você, mãe bruxa, cortou o bife do almoço em pedacinhos. DRAMA. Porque seu threenager está aprendendo a manejar a faca infantil sem serra e quer ele mesmo cortar. Você sai de casa tomando uma garrafinha d’água. DRAMA. Porque ele não está bebendo nada. Se você é mãe de menina, tente dormir de camisola e colocar um pijama nela? Isso mesmo. DRAMA.
Outro dia estávamos jantando e eu deixei uma almôndega no prato. Ouvi: “se você não comer essa ‘momôndega’ não vai ganhar uvinha de sobremesa”. Também quase fiquei de castigo na semana seguinte porque tinha feito bagunça na minha cama com uma papelada que eu precisava organizar pra arquivar. E quase tive que pedir permissão para poder usar a tesoura sem ponta do quarto dela. Teve um dia que estávamos brincando de aprender os dias da semana e ela me disse: “Mamãe confia em mim: quarta-feira é dia de natação”.
Tem esses momentos engraçados, mas também tem a parte triste. Me vejo, de vez em quando, pisando em ovos para evitar um ataque na quinta-feira à noite, quando estamos ambas exaustas. Também já me vi bancando a mediadora de conflitos com a empregada em um dia especialmente difícil. Preciso sair mais cedo de casa, porque a miudeza precisa ela mesma colocar o cinto de segurança da cadeirinha. E toda vez aguento um resmungo mal-humorado porque ela ainda não consegue se desamarrar sozinha: “você precisa comprar outra cadeirinha, mamãe”. Outro dia a deixei gritando, jogada no chão da sala, e disse frustrada (mais pra mim do que pra ela): “não negocio com terroristas!”.
E agora? Como conviver? Bom, em primeiro lugar já comecei a pesquisar internatos para quando ela entrar na adolescência, porque aguentar tudo duas vezes vai ser impossível (risos). Brincadeiras à parte, estou buscando uma dose extra de paciência em mim para aguentar essa nova fase.
O mais importante é manter a calma. Eles estão – como sempre – testando os limites para ver até onde conseguem ir. Essa atitude toda é, em parte, porque eles se sentem o centro do universo, e muitas vezes são mesmo. Basta você tentar falar ao telefone, que ele tenta conversar com você. Bastou você engajar num papo animado com um amigo, que eles começam a se exibir, fazer gracinhas e até se machucar de propósito para chamar a atenção. Afinal, nosso objeto de interesse só pode ser um. #sqn
Acho também que vale manter uma dose de bom humor. Mesmo as mães mais duronas (que não sou eu) precisam entender que existe a hora de ensinar boas maneiras e horas em que você precisa dar risada quando ele tenta te dizer que você só pode comer uma banana de cada vez e tira a fruteira da sua frente (e no processo derruba tudo no chão).
Entenda que seu filho ainda é pequenino. Apesar do vocabulário rebuscado e do mau humor típico de um chatonildo de 16 anos, seu filho é um “pós-bebê” e algumas negociações ele não vai conseguir entender e você vai ter que mudar o rumo da conversa ou da situação focando na idade real dele. E claro: seja firme nas suas decisões.
Controle-se e não ceda ao mau-humor. Toda vez que eu olho pra cara da Victoria revirando os olhos e dizendo num resmungo “ai mãe, franguinho de novo?!” ou “ai mãe, a gente tá atrasada de novo?”, respondo com toda naturalidade: “amanhã faremos supermercado” ou “amanhã você acorda mais cedo pra dar tempo de brincar antes da escola”. E assim sigo o meu dia calmamente, mas dando gargalhadas por dentro enquanto tento apressá-la para que coloque o cinto de segurança mais rápido.
E você? O que o seu threenager fala em casa? Compartilha comigo aqui nos comentários pra gente rir (e chorar e fazer meditação) em coro?
Imagem: Mindaugas Danys