Quando a Vicky nasceu ninguém teve dúvidas da paternidade, era a cara do pai. Acho que teriam dúvidas de quem era a mãe daquele bebê, se ela não tivesse saído de mim. Porque era inegável que ela era a cara dele. Quase cinco anos se passaram e tudo o que eu ouço por onde nós andamos é: “gente, mas ela é a cara do pai, né? ”
– Tá, tudo bem, já ouvi isso! Zzzzzzz.
Mas eu não ouvia só isso. Ainda na maternidade, ouvi da forma mais grosseira, que eu tinha sido só mesmo o forno que gerou o bebê, mas que não contribui em nada para a massa crescer. Ui, essa doeu!
Ela era tão linda, mas tão linda, que eu achava que ela era mesmo era a cara dela. Uma boneca que, ainda que tivesse os traços do pai, tinha muita contribuição minha por ali. As feições delicadas, o cabelo liso, o bumbum grande, as pernas grossas, o branco do olho… Alto lá! O branco do olho, não. O branco do olho é da tia (paterna, claro). Bumbum e coxas também não eram meus. Eram do pai. Ela não é a cara do pai? Isso significa que toda e qualquer característica é do pai ou da família paterna. É mais fácil ela ser parecida com o primo de quinto grau do pai do que com a coitada da mãe que só foi mesmo um forno. (gente!!)
Enquanto era inegável que ela era a cara do pai, eu conseguia me enxergar nela. Eu era a única, mas nem ligava. Era como se fosse daqueles segredos bem guardados que só pessoas especiais têm. Eu passava as madrugadas amamentando e olhando cada centímetro dela, em busca de um pouco de mim ali.
Uma pesquisa recente da Carolina do Norte diz que, embora herdemos mutações genéticas iguais de nossos pais, aproveitamos mais do DNA paterno. E, mais importante do que parecer com um ou outro, também temos a possibilidade de herdar mais as doenças paternas (rá!).
Mas, enquanto eu escrevo isso, penso imediatamente em quanta bobagem a gente pensa. Parece falta de roupa suja pra lavar né? O que importa realmente se ela é a cara do pai e não a minha cara?
Porque na medida em que ela vem crescendo, vai provando que a maçã não cai mesmo muito longe da árvore. A inteligência, a mente aguçada, a curiosidade pela vida, o amor pelos livros, o temperamento extrovertido… Tudo eu! O olhar ainda é o meu, embora os “olhinhos de míope” sejam inegavelmente do pai. Mas o sorriso sincero naquela boca que não é minha, é bem a minha cara.
Tem gente que fica muito aborrecida por os filhos não se parecem consigo. Eu sempre carreguei essa resignação de que fiz o melhor que pude. Hahahaha. E claro, aquele meu olhar de raio X que consegue enxergar coisas que ninguém mais vê.
Acho que basta a gente se lembrar que nossos filhos são frutos do amor de um casal. E que nossa influência materna será tão importante, ou até mais importante, do que as características genéticas.
Imagem: Shutterstock didesign021
4 Comentários
Olá Camila.Também vivo a mesma situação com meu bebe.Quando ele nasceu ouvi minha sogra eufórica ao telefone: parece com os dois: a boca é do pai, o nariz é do pai, a testa é do pai, os olhos são do pai ah é clarinho igual a mãe.Também ouço sempre que eu “só” carreguei.Levo na brincadeira.Abraços!
Hahahah pois é. Pra mim sobrou só o cabelo liso da minha infância. Hahahahaha Beijo
Ouço isso tb! Mas eu mesma fui a primeira a dizer isso! Assim que meu médico tirou ela, antes mesmo de qualquer enfermeiro tocar na minha filha, ele me mostrou ela por cima dos tecidos e eu “drogada” com a anestesia, olhei pro pai dela e disse: ” a boca dela é idêntica à sua!”
Hoje não vejo a mesma semelhança gritante entre pai e filha, mas é claramente mais fácil alguém perguntar se eu sou a mãe, do que se ele é o pai! Hahaha a parte ruim de alguém falar que ela é a cara dele, é porque não estamos juntos. Então acho que não é “tão confortável” como seria se fossemos casados! Maaaaas…é a vida! Hahah A M O seus textos! Que Deus abencoe mt vc! Grande beijo
Lih, também nao estamos mais juntos e embora ela seja a cara dele, ela é tao parecida comigo na personalidade, que eu acho perfeito que seja assim.:)