Meu filho chegou em casa dizendo que ia ter festa de um amigo de classe, que vários colegas iriam e me perguntou se ele poderia ir também. Eu disse que ainda não tinha chegado nenhum convite ou mensagem avisando sobre o evento, mas que ele poderia ir sim, claro, sem problema. Uma semana depois, descobri que ele não havia sido convidado.
Como mãe, já havia me preparado psicologicamente para a primeira febre, doença e tombo – o que não me impediu de me preocupar e sentir impotente em todas as ocasiões – mas não havia antecipado como seria lidar com o sentimento de rejeição que ele sentiu.
Era a primeira de várias festas do pijama que viriam pela frente, o que obviamente limitava o número de convidados por uma questão de espaço e sanidade dos pais anfitriões. Compreensível. Mas para ele, aos cinco anos, tudo o que ele repetia era: “mãe, porque eu não fui convidado para a festa de aniversário do meu amigo? Mas o fulano vai, o sicrano vai…”
Eu expliquei que era uma festa pequena, que não cabia todo mundo, o amigo só poderia chamar poucas pessoas, que na próxima ele provavelmente seria convidado. Expliquei que quando a gente convidava amigos para brincar lá em casa, também não chamava todo mundo e tudo bem. Mas naquele momento, ele não conseguia entender e ficou chateado. Estava habituado a festas grandes, que juntavam todos os amigos da turma. Aniversário era uma coisa importante. E ele adorava o aniversariante.
Ele ficou triste no dia, depois esqueceu. E ficou triste novamente depois da festa, quando os amigos contaram na escola como tinha sido a bagunça. E depois esqueceu de novo. Não brigou com o menino, nem deixou de chamá-lo para brincar lá em casa. E eu nunca incentivaria esse tipo de comportamento.
Tem todo aquele papo de criar filho pro mundo, mas na primeira oportunidade que o mundo machuca nossos pequenos, temos vontade de colocá-los embaixo da asa, protegê-los e tomar uma atitude por eles. Lembro de mães na pracinha com raiva de outras crianças porque tinham batido no seu filho, que não queriam mais permitir nem que brincassem juntos novamente. Meu filho já apanhou na pracinha e já bateu também. Nunca deixaria ele virar saco de pancada de uma criança que sistematicamente batesse nele, mas esse tipo de coisa acontece, e é a primeira oportunidade para a gente ensinar para os pequenos como resolver situações por conta própria, como resolver conflitos e se impor sem violência.
A verdade é que meu filho não vai ser convidado para tantas festas ainda ao longo da vida. Ele vai se apaixonar por pessoas que não vão se apaixonar por ele. Vai se decepcionar com amigos, ir mal em provas e não será escalado como titular em jogos de futebol. Tantas decepções e frustrações pelo caminho, tanta coisa que não cabe a gente controlar.
Dizer não pode bater, tem que comer brócolis, não pode desenhar na parede da sala é fácil e não tem nuances. Mas os desafios da maternidade, por vezes, são mais complexos. Nessas horas, mais do que nunca, temos que usar nossa maturidade e acalmá-los, para então fornecermos instrumentos para que eles mesmos enfrentem esse tipo de situação de maneira adequada, com segurança e compreensão. Pelo menos é isso que eu tento fazer. Embarcar no círculo vicioso do ressentimento “se ele não te convidou eu também não vou convidar ele mais” não é uma alternativa para mim, ainda mais se tratando de crianças.
Crédito da imagem: Shutterstock
39 Comentários
Perfeito Mariana…Embora seja uma situação penosa para nosso coração, é uma oportunidade incrível de ensinarmos aos nossos pequenos a ter um olhar mais generoso para o comportamento humano…Abraços
Foi o que eu tentei fazer, Silvania! 🙂 Beijo
amei, Mari. Total me identifiquei! Beijo grande
Que bom, Tati! Acho que é inevitável passar por isso! Beijo grande
Que legal! Seu filho sofreu, talvez, a primeira de muitas frustrações que a vida lhe oferecerá, quer queira ou não. Triste pra gente que é mãe mas, muito útil para a vida dele.
Seu filho com certeza saberá lidar com situações difíceis qdo se tornar adulto.
Bj gde
Isabel
A ideia é justamente essa, dar instrumentos para ele enfrentar e superar as próprias frustrações. 🙂 Beijão!
Eu pegava uma relação de amiguinhos que nao foram convidados e fazia uma festa do pijama turbo, com a participação do homem de ferro… o que acha?
pensei na mesma coisa, luciano, juntar os que nao foram convidados para algo bem legal. mas, pensando no que a mariana escreveu, não sei se essa seria uma boa ideia em relação a deixar passar a oportunidade de deixar que eles comecem a se acostumar com as decepçoes
Luciano e Cássio, eu não faria isso, primeiro porque entendo que a mãe gostaria de ter convidado todo mundo, mas por um problema de espaço, dinheiro etc não foi possível. Não foi uma coisa pessoal e eu não me sentiria confortável em fazer uma festa em que eu fizesse uma lista de convidados com base nisso. Aproveitei a oportunidade para tentar ensiná-lo a lidar com frustrações. Tentar, né, porque nem pra gente, adulto, é fácil, hehe. Beijos!
Puxa vida…..passei por essa situação ontem e como doeu ver meu filho triste e chorando sentido…….engoli o choro e tentei conversar com ele. e hj uma amiga me postou esse texto. Amei…..imprimi e guardei na bolsa!!!!!! Obrigada por acalmar meu coração de mãe.
Ah, Helaine, como me deixa feliz saber que eu te ajudei de alguma forma. <3
Muito bem escrito, muito boa reflexão. A gente sofre, os filhos sofrem, a gente ensina e aprende, mas é preciso manter o foco, a atenção e principalmente manter um olhar amoroso que agregue valores e ter calma para todos os detalhes que não estão previstos no sonho da maternidade! Parabéns!!!!!!
Que lindo o que você escreveu, Claudia! <3
Excelente texto Mariana!
Sou mãe de primeira viagem e tenho aprendido muito com meu filho, que tem apenas 3 anos, e aprendo ainda mais com relatos de mães como você, que busca encarar com maturidade e serenidade essa difícil tarefa de educar os filhos e prepará-los para o mundo. Parabéns e obrigada pela partilha!
Obrigada você pode ter vindo aqui dizer isso, muito bom saber que a gente ajuda de alguma forma. Essa troca de experiências é muito rica, né? Beijo
Mariana perfeito, amei a maneira que vc coloco a situação. Confesso que ainda preciso aprender muito na área de educar…meu gatinho tem 11 anos e nesta fase á muito complicado…Começam os conflitos da tão famosa “pré adolescência”. Certamente salvarei seu texto para lê-lo com frequencia. Bjs e que Deus abençoe seu pequeno principe
Oi, Anne, obrigada pelo carinho. Imagino que essa fase seja ainda mais difícil, não? Beijo grande
Minha filha é deixada de lado pelas duas únicas meninas que tem em sua, sala, o restante são todos meninos, não sei o que fazer?!!!
Ana passei por isso quando criança pois as meninas nao me aceitavam. Do pré a faculdade meus amigos eram meninos e nao tive problemas com isso.Incentive sua filha a fazer amizades independente do sexo da criança e a valorizar os amigos q gostam dela
Achei uma boa dica essa a da Karine! Beijos nas duas
Eu discordo em uma parte: aceitar.
Sim, a vida vai se encarregar de trazer algumas tristezas, mas que traga quando eles estiverem preparados. Crianças não merecem passar por certas situações. Elas provocam traumas e problemas de auto-estima bastante complicados. Meu filho passou por isso aos 5 anos e eu tentei conversar com as mães sobre isso para nós unirmos, e não nós excluirmos. As respostas foram tão absurdas, egoístas e consumistas que além do umbigo nada mais existia. Eu decidi tirar ele dessa escola. Entendi que estávamos no grupo errado. Encontrei uma escola Waldorf, e eles simplesmente respeitam as crianças em seu tempo e individualidade sem NENHUM tipo de exclusão. É nossa obrigadacao como mães buscar a paz, o melhor, a inclusão e a harmonia. Entendo que devemos ensinar, mas antes de ensinar coisas precocemente cabe a nós preservarmos a infância, os valores, a amizade VERDADEIRA e o AMOR. Não dá para amar metade da classe….isso não e amor. Um beijo a todas!
Oi Fernanda. O que você disse deve ser levado em consideração com uma opção na hora de lidar com essa situação de rejeição. Sua opção de lidar com isso seria perfeita se nossos pequenos fossem viver futuramente em um mundo perfeito. A questão não é como deixá-los confortáveis, mas em como criá-los para o mundo sem qualquer sofrimento. Conversar com mães e obrigá-las a convidar nossos meninos é preparar para um mundo sem rejeição, que obviamente não existe. No futuro, na fase adulta, não podemos forçar o mundo a aceitar nossos filhos, e eles não saberão lidar com o “Não”.
Já passei muito por isso, mas, graças a deus, meu filho não me questionava. Ele sempre foi tímido, então nunca era convidado. Agora tenho que lidar com o ciúme dos colegas porque as meninas vivem atrás dele….
Nossa é complicado quando se trata de rejeição de filhos! Mais a principio faria igual ao Luciano ,reuniria os amiguinhos que não foram convidados , para uma festa top !
Mariana, adorei o texto, tenho uma filha e estou passando por situações semelhantes , por motivo de mudança de cidade e novas adaptações. Sua colocação achei muito sabia e como em uma das respostas anteriores nós ensinamos mas aprendemos muito mais com nossos filhos. Obrigada
Mariana, adorei o texto, tenho uma filha e estou passando por situações semelhantes , por motivo de mudança de cidade e novas adaptações. Sua colocação achei muito sabia e como em uma das respostas anteriores, nós ensinamos mas aprendemos muito mais com nossos filhos. Obrigada
Mudei recentemente de cidade também, Giselly, não é fácil, mas aos pouquinhos vamos construindo uma vida social nova aqui também. Beijos
Ana Luiza, diga a ela que os meninos são bem bacanas e com menos frescurites do q as meninas. Deixe as. Enonas de lado por um tempo e divistase com as brincadeiras dos meninos. Vc vai ver como as meninas vão voltar correndo
Adorei seu texto e sendo mãe de 3, já passei por isso algumas vezes…mas aqui em casa estou sempre ensinando meus filhos à nunca deixar ninguém de fora! Se a festa vai ser do pijama ou não, ou chama todos os amigos ou não fazemos, acho que cabe aos pais esse papel e quando uma situação de exclusão acontece, a culpa é dos pais SEMPRE!
Esse é um problema que não vivenciei ainda, mas com certeza precisamos preparar os pequenos para esse tipo de frustração. No meu caso, fiz duas festinhas para a minha filha dois anos seguidos e convidei TODOS os coleguinhas da escola, confirmando pessoalmente com cada mãe a presença e no grande dia… NINGUÉM apareceu.
Nem preciso falar como a minha filha se sentiu, né?
Sábias palavras. Sou mãe de primeira viagem, e meu bebê tem apenas 9 meses mais já penso no futuro dele, e me senti mais segura agora, pois sempre me pergunto como deverei agir em certas situações. Vc me ajudou a entender e a obter respostas em todas as perguntas que eu me faço todos os dias. Parabéns Mariana!
ola
acredito que o maior erro é dos pais da criança, é injusto excluir algumas crianças, ou convida todos ou nao convida ninguem.
As pessoas precisam aprender a se colocar no lugar das outras
achei lindo o que uma mãe de uma amiguinha da minha filha fez, convenceu a filha a fazer um sorteio em sala de aula para que nenhuma amiguinha se sentisse injustiçada, assim participou do aniversario só quem foi sorteado !
Adorei o texto Mariana!!!
A Manu ainda é pequena, mas sei que ainda vou querer colocá-la debaixo das minhas asas para protege-la… realmente esses são os desafios da maternidade!
🙂 Bjs
Ótimo texto! Eu iria responder com uma pergunta: “filho, se vc fosse dar uma festinha aqui em casa e só pudesse escolher 5 amigos, quem vc chamaria? E o 6o? Será que ele não ficaria chateado?”
Acho o maximo. Estou querendo fazer para minha neta. Mas como ela é autista, embora interaja bem com outras crianças, tenho receio de rejeição.
Esse não é um desafio apenas da maternidade.
Nossa… é muito difícil mesmo. Sofro demais com esse tipo de situação, mas sempre me vem a cabeça que Deus protege minhas filhas.