Educo meu filho com muito amor e muito diálogo. Muito diálogo mesmo. Explico tudo. À medida em que ele foi crescendo, nossas conversas foram ficando mais complexas, assim como o poder de argumentação dele, que foi se tornando mais sólido. Lindo, tudo o que eu sempre sonhei: um filho inteligente e com senso crítico. Mas essa crescente desembocou no momento em que me encontro hoje, onde qualquer tarefa simples do dia-a-dia está virando um verdadeiro simpósio.
Por exemplo, a hora do banho é assim:
Tomar banho? Agora, mãe? Pode ser depois? Por que eu vou tomar banho agora se vou me sujar de novo amanhã? Pode ser no seu banheiro? Mas não está acabando a água em São Paulo? Não é melhor não tomar mais banho todo dia pra economizar? Por que a água está acabando? A água no Rio de Janeiro está acabando também? E na Alemanha? A água do mundo pode acabar? Mãe, como vamos fazer? Melhor eu não tomar banho.
Respondo a maioria das perguntas e decidimos colocar um balde embaixo do chuveiro enquanto a água esquenta para reutilizá-lo depois, e outro balde durante o banho para usar para dar descarga no vaso sanitário. Enquanto ele toma banho, falo sobre a importância de cuidar do nosso planeta para que ele cresça consciente, mas sem apavorá-lo muito.
No dia seguinte, ele repete muitas perguntas do dia anterior e faz mais tantas outras.
Tomar banho? Agora, mãe? Pode ser depois? Por que eu vou tomar banho agora se vou me sujar de novo amanhã? Você sabia que quem inventou isso de tomar banho todo dia no Brasil foram os índios? Eles tinham esse costume, aprendi na escola. Por que eles faziam isso? Os europeus não tomavam banho todo dia? Em Portugal eles tomam banho todo dia? E na Inglaterra? Não? Quero morar lá. Por que a gente não mora em um país em que a gente não precise tomar banho todo dia?
Olho relógio que continua correndo impiedosamente e respiro fundo. Falo sobre história do Brasil, história geral, falo sobre os índios, conto como seria a vida dele se ele vivesse em uma tribo, que o banho por lá deve ser bem diferente e muito mais divertido. E quando percebo, ele ainda está de roupa no quarto e já estamos atrasados.
No dia seguinte, falo da hora do banho e ele me olha espantado novamente, como se fosse a primeira vez na vida que eu estivesse falando sobre o assunto com ele.
Tomar banho? Agora, mãe? Pode ser depois? Por que eu vou tomar banho agora se vou me sujar de novo amanhã? Odeio tomar banho! Por que os índios inventaram isso de tomar banho todos os dias? A água de São Paulo não está acabando? Por que você não toma primeiro? Eu nem suei hoje. Encosta em mim, vê se eu estou suado.
“Por que você vai tomar banho hoje, amanhã e depois, meu filho?”, falei com a maior calma do mundo. Porque sim. Porque eu sou sua mãe e estou mandando. Pronto. Acabou.
“Nossa, mãe…”, ele murmurou meio enfezado, enquanto ia no mesmo segundo pro banho.
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Vocês também passam por situações semelhantes? Como lidam, gente? Por favor, falem comigo, preciso ouvir vocês!
Crédito da imagem: Shutterstock
4 Comentários
Mari, tentando comentar aqui, mas a página atualiza mais rápido do que eu possa concluir…mas enfim, tudo igual lá em casa. Apelei para o argumento dos germes e saúde do corpo, e por hora, entendeu…deve estar pensando em um novo argumento!! Kkk… Beijo
Hahahaha. Não é mole não, né Amanda? A gente tem que improvisar. Beijos
Aqui em casa tambem mesma forma.tambem digo por que sim e pronto pois tem dia que nao tenho resposta kkkkkk e ate engraçado kkkk.. mas e a melhor coisa do mundo..
Kkkkkk passo por isso …minha filha está com 11 anos dos meus três filhos só ela faz isso ,com Tudo me enche de perguntas no começo é até legal vc pensa quanto interesse neh !!!! Mas com o tempo vai ficando um pouco preocupante vejo hoje como uma ansiedade da parte dela e tento não deixá-la perder o foco da situação como o banho por exemplo respondo uma ou duas perguntas depois eu digo …Bom agora chega neh vamos tomar banho depois a gente conversa mais tá …mas não sei quando vai parar ela continua sempre com muuuuitas perguntas rsrsrsrsrs