Poesia para ler com as crianças

Se os adultos já se encantam com poesia, para as crianças, as obras podem abrir as portas para um novo mundo.

 

Versos rimados, metáforas e métricas são muito atrativos para as crianças, que têm a capacidade de compreender – e muito bem! – a linguagem e, o que é melhor, criar gosto pelo estilo. Selecionamos 10 poemas famosos para você ler com os pequenos. A dica dos especialistas é sempre criar um momento lúdico na hora da leitura, caprichar na entonação e incentivar a criatividade, deixando que eles se familiarizem com a obra e leiam à sua maneira.

 

O Menino Azul – Cecília Meireles

O menino quer um burrinho

para passear.

Um burrinho manso,

que não corra nem pule,

mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho

que saiba dizer

o nome dos rios,

das montanhas, das flores,

– de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho

que saiba inventar histórias bonitas

com pessoas e bichos

e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo

que é como um jardim

apenas mais largo

e talvez mais comprido

e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,

pode escrever

para a Ruas das Casas,

Número das Portas,

ao Menino Azul que não sabe ler.)

 

Pontinho de Vista – Pedro Bandeira

Eu sou pequeno, me dizem,

e eu fico muito zangado.

Tenho de olhar todo mundo

com o queixo levantado.

Mas, se formiga falasse

e me visse lá do chão,

ia dizer, com certeza:

— Minha nossa, que grandão!

 

 

A porta – Vinicius de Moraes

 

Sou feita de madeira

Madeira, matéria morta

Não há nada no mundo

Mais viva que uma porta

Eu abro devagarinho

Pra passar o menininho

Eu abro bem com cuidado

Pra passar o namorado

Eu abro bem prazenteira

Pra passar a cozinheira

Eu abro de supetão

Pra passar o capitão

Eu fecho a frente da casa

Fecho a frente do quartel

Eu fecho tudo no mundo

Só vivo aberta no céu!

 

Poeminha do Contra – Mario Quintana

Todos estes que aí estão

Atravancando o meu caminho,

Eles passarão.

Eu passarinho!

O Direito das Crianças – Ruth Rocha

Toda criança no mundo

Deve ser bem protegida

Contra os rigores do tempo

Contra os rigores da vida.

Criança tem que ter nome

Criança tem que ter lar

Ter saúde e não ter fome

Ter segurança e estudar.

Não é questão de querer

Nem questão de concordar

Os diretos das crianças

Todos têm de respeitar.

Tem direito à atenção

Direito de não ter medos

Direito a livros e a pão

Direito de ter brinquedos.

Mas criança também tem

O direito de sorrir.

Correr na beira do mar,

Ter lápis de colorir…

Ver uma estrela cadente,

Filme que tenha robô,

Ganhar um lindo presente,

Ouvir histórias do avô.

Descer do escorregador,

Fazer bolha de sabão,

Sorvete, se faz calor,

Brincar de adivinhação.

Morango com chantilly,

Ver mágico de cartola,

O canto do bem-te-vi,

Bola, bola,bola, bola!

Lamber fundo da panela

Ser tratada com afeição

Ser alegre e tagarela

Poder também dizer não!

Carrinho, jogos, bonecas,

Montar um jogo de armar,

Amarelinha, petecas,

E uma corda de pular.

 

A Lua foi ao Cinema – Paulo Leminski

A lua foi ao cinema,

passava um filme engraçado,

a história de uma estrela

que não tinha namorado.

Não tinha porque era apenas

uma estrela bem pequena,

dessas que, quando apagam,

ninguém vai dizer, que pena!

Era uma estrela sozinha,

ninguém olhava para ela,

e toda a luz que ela tinha

cabia numa janela.

A lua ficou tão triste

com aquela história de amor,

que até hoje a lua insiste:

– Amanheça, por favor!

 

Guarda-chuvas – Rosana Rios

 

Tenho quatro guarda-chuvas

todos os quatro com defeito;

Um emperra quando abre,

outro não fecha direito.

Um deles vira ao contrário

seu eu abro sem ter cuidado.

Outro, então, solta as varetas

e fica todo amassado.

O quarto é bem pequenino,

pra carregar por aí;

Porém, toda vez que chove,

eu descubro que esqueci…

Por isso, não falha nunca:

se começa a trovejar,

nenhum dos quatro me vale –

eu sei que vou me molhar.

Quem me dera um guarda-chuva

pequeno como uma luva

Que abrisse sem emperrar

ao ver a chuva chegar!

Tenho quatro guarda-chuvas

que não me servem de nada;

Quando chove de repente,

acabo toda encharcada.

E que fria cai a água

sobre a pele ressecada!

Ai…

 

A Centopeia – Marina Colasanti

Quem foi que primeiro

teve a ideia

de contar um por um

os pés da centopeia?

Se uma pata você arranca

será que a bichinha manca?

E responda antes que eu esqueça

se existe o bicho de cem pés

será que existe algum de cem cabeças?

 Canção para ninar dromedário – Sérgio Capparelli

Drome, drome

Dromedário

As areias

Do deserto

Sentem sono,

Estou certo.

Drome, drome

Dormedário

Fecha os olhos

O beduíno,

Fecha os olhos,

Está dormindo.

Drome, drome

Dromedário

O frio da noite

Foi-se embora,

Fecha os olhos

Dorme agora.

Drome, drome

Dromedário

Dorme, dorme,

A palmeira,

Dorme, dorme,

A noite inteira.

Drome, drome

Dromedário

Foi-se embora

O cansaço

E você dorme

No meu braço.

Drome, drome

Dromedário

Drome, drome

Dromedário

Drome, drome

Dromedário.

 

Convite – José Paulo Paes

Poesia

é brincar com palavras

como se brinca

com bola, papagaio, pião.

Só que

bola, papagaio, pião

de tanto brincar

se gastam.

As palavras não:

quanto mais se brinca

com elas

mais novas ficam.

Como a água do rio

que é água sempre nova.

Como cada dia

que é sempre um novo dia.

Vamos brincar de poesia?

 

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