Não existe nada mais correto do que afirmar que cada criança é única. E que cada casa tem sua rotina e dinâmica. Muita gente me pergunta como é o nosso dia a dia (aquele real oficial mesmo, sabe?), os erros e acertos e as peculiaridades.
Então deixei aqui 10 coisinhas que são uma constante na minha duplinha de dois.
Sobre comida
- Sou obrigada a pedir bife à milanesa no Bar Lagoa toda vez por que ela só toma canja, mas ela quer também dividir o meu bife.
- Só posso comer quadradinhos de chocolate tarde da noite por que sou obrigada a me esconder da criança pra comer, senão ela acaba com o chocolate todo em uma dentada e eu quero que ele dure um mês.
Sobre consumo
- Só vou ao shopping com criança em caso de morte ou desespero por que a criança dá tanto ataque querendo comprar tudo o que vê pela frente que é um gasto de energia imenso explicar pela bilionésima vez por que o mundo não funciona assim, então eu simplesmente aboli shopping da vida.
- Eu tento mostrar pra Victoria um monte de coisas da minha infância e adolescência: música, filmes, livros e brincadeiras. Tenho certeza que estou projetando sim, mas me recuso a deixar a educação cultural dela somente pelo que os anos 2010 oferece. Não que não exista coisa boa, mas muito da cultura que nossos filhos são apresentados é baseado em consumo e eu quero ela com uma mente muito rica e fértil e pra isso diversidade é importante.
Sobre relaxar
- Espero a criança ir para a casa do pai para…… tomar banho de banheira. Sim. Embora ela tome banho de banheira com uma frequência alucinante, bastou eu pensar em me escaldar naquele pequeno latifúndio de prazer que ela quer tomar banho comigo. Aí não dá, né mores. Fere todo e qualquer conceito de relaxamento.
- Acordo 6:30 da manhã todo dia só pra ter umas horas de paz pra fazer o que bem entender sem ter alguém gritando “mãe” a cada cinco segundos (Embora eu só precise estar no escritório às 10 da manhã).
Sobre entretenimento
- Você sabe que as crianças precisam dormir cedo. Você pesquisou extensivamente e até escreveu sobre o assunto. Mas, mesmo assim, deixa a criança dormir tardíssimo um dia na semana por conta da maratona de filmes antigos que vocês fazem, com direito a baldão de pipoca e tudo o mais. Essa semana vamos assistir Gremlins, que estamos adiando há um tempão.
Sobre representatividade
- Victoria é a típica menina branca, de cabelo liso, classe média alta da zona sul do Rio. Ela está crescendo de uma maneira mais confortável do que eu cresci e de uma maneira ainda mais confortável do que meus pais, meus avós, enfim.
Entretanto, isso não é desculpa para que ela seja alienada e viva em uma bolha. Apesar de todo o privilégio, eu mostro para ela um mundo diverso de pessoas que vivem de maneiras diferentes. Crio ela dentro do feminismo com altas doses de girl power. Falamos longamente sobre tolerância. Sempre que possível eu tento apresentar como vivemos em um mundo diverso: o melhor amigo que tem dois pais; uma gama de religiões; raças; como fazemos para viver em sociedade, como podemos contribuir para diminuir os abismos sociais (não com esse palavreado todo). De sexualidade a ecologia. Nada é tabu.
Sobre falhas espetaculares
- Arrumar o quarto é das batalhas mais hercúleas da minha maternidade. Em algum momento lá atrás eu errei na abordagem e hoje eu corto o maior dobrado pra fazer ela ser arrumada e organizada. A vida dela é meio caótica e hoje ela está sofrendo na escola para se organizar (com a ajuda da professora) e até a monitora do ônibus já precisou intervir, pois ela abria a mochila e fazia a maior zona no curto trajeto e por fim esquecia metade do conteúdo da mochila no ônibus.
- Embora a introdução alimentar dela tenha sido bem-feita e eu mesma seja uma pessoa que come de tudo sem grandes frescuras, a Victoria vem sistematicamente virando uma chata de galocha pra comer. Ela come boas quantidades, mas somente de um punhado de alimentos. Esquece prato colorido, legumes e verduras. Ela rejeita quase todos os queijos, só come dois ou três tipos de pão, só come isso e não aquilo… Vocês imaginam o meu desespero diário. Seguimos tentando. E eu, até hoje, não sei onde errei.
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