No Brasil, são mais de 2 milhões de casos de aborto espontâneo por ano. Mesmo assim, não sabemos como lidar quando ele acontece com alguém próximo de nós. O que fazer?
Nós não falamos o suficiente sobre aborto espontâneo. O assunto é triste, doloroso e quase tabu. Mesmo entre mulheres. A gente acostumou a passar por isso quase sozinha, calada, guardando o pesar para nós mesmas. E digo “acostumou” porque são mais de dois milhões de casos no Brasil por ano, porque acontece de forma natural em mais de 15% das gestações.
É tão comum que não deveria ser tão difícil assim de falar sobre o assunto. Mas é. Pois quanto menos informação a gente compartilha, menos nos sentimos à vontade para conversar a respeito. Por isso, eu faço questão de dizer que aconteceu comigo.
E quando sofri um aborto espontâneo, eu ouvi do médico: “acontece com muita frequência, mas ninguém tem coragem de falar”.
Sim, falta coragem porque nos sentimos envergonhadas, parece que falhamos, que não cumprimos com as expectativas. Mesmo que não seja culpa nossa, é isso que sentimos quando uma gravidez “não vinga”. A gente aprende a confortar a si mesma e esperar a dor passar. Porque as pessoas ficam decepcionadas e não sabemos o que dizer, nem como explicar.
Quando o aborto espontâneo acontece com alguém que amamos, então, é ainda mais difícil saber o que falar e como confortar. Mas, olha, se uma amiga se sentiu segura para compartilhar essa dor com você, é importante saber o que e como dizer.
Aqui vão algumas coisas que você pode falar para uma amiga que sofreu aborto espontâneo:
“sinto muito pela sua perda”
A maior perda em um aborto espontâneo, que acontece até a 12a semana, é a perda de sonhos e planos. Ainda não era um bebê totalmente formado, mas muita gente já se sente mãe a partir do primeiro teste positivo. E, por isso, essa perda precisa ser validada e entendida como um momento real de luto. Um “sinto muito” verdadeiro e com carinho tem um valor imenso.
”aconteceu comigo também”
Um dos problemas do hábito de tornar a gravidez pública apenas no segundo semestre é que as perdas ficam “escondidas”. As únicas vezes que eu me senti verdadeiramente confortável pra falar a respeito foi com mulheres que também tinham sofrido aborto espontâneo. E em todas as ocasiões, eu só descobri quando falei a respeito. A troca de experiências cura.
”não é culpa sua”
Eu ouvi do médico que não era minha culpa. Ouvi do meu marido. Eu pesquisei e li que não tinha sido culpa minha. Mas eu precisava ter ouvido ainda mais vezes, precisava ter ouvido de mulheres. Principalmente, precisava ter ouvido de mulheres que tinham passado por uma gravidez.
”O que aconteceu com você é realmente ruim, quer conversar?“
Esqueça o “vai ficar tudo bem” ou o “daqui a um mês vocês tentam de novo”. O que a mulher que sofreu um aborto espontâneo precisa agora é de afago e de validação do luto. No fundo, sabe que vai ficar tudo bem. Você não precisa “animá-la” agora. Esteja junto para ouvir, sem julgamentos e com muito afeto. Se ela não quiser conversar, ofereça formas de conforto (um sorvete, um cafuné e um filme, que tal?).
texto baseado nesse aqui e na minha experiência pessoal 😉
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