#meuaborto

Oi, meu nome é Camila, tenho 42 anos e nunca fiz um aborto. Lembro de muitos anos atrás, já casada, mas ainda sem filhos, de ter tido um pensamento tosco: “que bom que eu consegui passar pela minha adolescência e vida adulta sem ter sido confrontada com a necessidade de optar se faria ou não um aborto”. Também fiz um “high five” mental, mas isso você não precisa saber.

Quando iniciei minha vida sexual, no início da disseminação da AIDS, a gente já ouvia uma certa martelação de informação sobre camisinha, e, adicionalmente meninas de classes média a alta eram rapidamente introduzidas ao culto da pílula anticoncepcional.

Mas a verdade é que a partir do momento em que você decide fazer sexo: com amor, sem amor, com tesão, sem tesão, casada ou sem nem saber o nome do moço, existe uma chance de você ficar grávida. Com pílula, com DIU, com preservativo. É pequena. Mas existe. E você pode não estar preparada para ter um filho. Você pode nunca ter pensado na possibilidade de ter um filho.

Acompanhei mais de uma amiga a uma clínica de aborto e segurei suas mãos, perguntei se elas tinham certeza, tentamos nos informar na era pré-internet, chorei com elas e pelo menos uma vez eu ajudei a pagar.

Eu nunca fiz um aborto e jamais faria. Talvez em caso de estupro. Mas essa sou eu, moça da zona sul carioca, com família que dá suporte emocional, recursos para fazer um aborto legalizado em outro país. Que teve aula de educação sexual na escola, que logo que conheceu sexo já sabia que preservativo prevenia gravidez, DSTs. Que tomou pílula anticoncepcional por mais de uma década seguida. Ou seja: uma sortuda muito bem informada.

O Brasil é grande, gente. Dentro do nosso país de proporções continentais temos muita desigualdade. Social, financeira, racial. Eu tenho plena consciência de estar numa posição privilegiada, mas isso não significa não ter empatia. Isso simplesmente me coloca numa posição de mais vantagem de lutar por quem nem sabe que deveria estar lutando.

E foi hoje, através do blog Pai pra toda obra, que eu conheci o movimento #meuaborto que pretende contar histórias de mulheres que fizeram aborto ou tem alguma história para contar. Elas dizem que mesmo quem nunca fez um aborto tem uma história de aborto para contar. Tal qual a campanha #meuprimeiroassédio que deflagrou uma quantidade infinita de mulheres contando histórias de assédio, o #meuaborto “lembra que a mulher que aborta não está distante. Ela está ao seu lado, no seu círculo de amigos, na sua família. Ela é você. Ela sou eu. Ela não é invisível (ou pelo menos não deveria ser).”

Vamos falar de fatos?

  • A cada dois dias morre uma mulher vítima de aborto clandestino no Brasil.
  • Uma em cada sete brasileiras entre 18 e 39 anos já fez ao menos um aborto na vida.
  • Se restringirmos a faixa etária e focarmos nas mulheres entre 35 e 39 anos, essa proporção sobe para uma em cinco.
  • Um milhão de abortos são feitos por ano no Brasil.
  • Dessas mulheres, 64% são casadas e 81% são mães.
  • Quase 2/3 são católicas, enquanto 1/4 se dizem protestantes ou evangélicas.
  • A classe social – adivinhem – não interfere na decisão. Mas pesa muito no quesito vida ou morte, como sabemos.
  • Tem mais: o aborto é a 4a causa de mortalidade materna no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, a mortalidade materna no país é de 60/100.000. Sabe quanto é no Uruguai, onde o aborto foi legalizado recentemente e já há um esforço de uma década para combater o aborto ilegal? Menos da metade: 29/100.000.
  • Estatísticas apontam que são realizados cerca de 46 milhões de abortos anualmente em todo o mundo, aproximadamente 160 mil por dia. Entre esses, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 19 milhões são feitos de maneira clandestina e insegura, resultando na morte de 70 mil mulheres por ano e mais 5 milhões que enfrentam sequelas do procedimento mal realizado. As leis restritivas são a causa fundamental dessas mortes
  • (E as mortes computadas são só as documentadas, né? Imagina quantas mulheres morrem sem que no óbito seja registrado a causa: ABORTO).
  • Leia AQUI o que acontece na França, país que desde 1975 legalizou o aborto no país.

 

Você pode ser radicalmente contra o aborto. E jamais fazer um. Mas imagina um cenário onde mulheres não morrem por que decidem interromper sua gravidez? Imagina um cenário onde mulheres terão mais acesso a informação por que com o aborto legalizado vem também mais seriedade em campanhas de prevenção? Imagina um cenário aonde as mulheres são respeitadas por suas escolhas? Onde elas podem escolher?

 

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1 Comment

  1. Fabrina
    21 de Maio de 2016 at 23:42 — Responder

    ArraZô

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