O primeiro mês do resto de nossas vidas

Eu respiro mais devagar desde que você nasceu, mesmo com o meu coração batendo mais rápido. Eu tenho tanto medo. E tenho tanta coragem. E tenho saudade da vida que eu tive e saudade da vida que sei que um dia vou ter.

Estou em todos os tempos: nos seus olhos que são os olhos da sua bisavó e nas minhas mãos enrugadas acariciando meus netos. Só não sei que lugar é esse em que estou agora, filha. Não sei se é dia ou se é noite. Se comi. Se estou escrevendo dormindo ou acordada.

Esse cheiro é meu ou seu? Eu não reconheço mais ninguém. Não reconheço esse corpo com um vazio tão grande desde que você saiu. Você saiu? Ainda estou grávida?

Eu não sei mais conversar. Não sei viver como eu vivia, e nem sei viver essa nova vida que você me deu. Que eu te dei, e você me deu. Estou tão feliz. Estou tão frustrada. Sinto que não sou suficiente. Que deveria estar o tempo todo alegre e não estou. Mas quando a alegria vem, não existe nada parecido.

Você tem um cheiro que nunca senti. Quando te abraço, me aqueço e te aqueço. Nosso abraço é o clima perfeito: um sol morno com uma leve brisa. Não é só o corpo que esquenta, mas o coração.

Eu sei o que esperar da nossa relação. Li que é o amor maior que existe. Aprendi com a sua avó sobre o papel que devo desempenhar. Sei as minhas falas, mas não decorei todas as falas dela. Nem poderia. E não quero. Cobrei mais do que dei como filha. Ela deu mais do que podia como mãe. E a única certeza que tenho é que esse desequilíbrio se perpetuará. Nós amaremos mais nossos filhos do que eles nos amarão.