Há um mês atrás acordei com vontade de pegar minha filha, tacar fogo no apartamento e sair fora. De repente tudo o que eu tenho me pareceu demais. Muita roupa, muitos livros, muitos DVDs, muitos cosméticos, brinquedos tudo. Até a despensa cheia me incomodou.
A verdade é que já faz um tempo que o excesso vem me incomodando, mesmo sem eu perceber. E eu venho me sentindo uma acumuladora, daquelas dos programas de televisão (embora eu ainda esteja bem longe disso). Uma caixinha de presente, que eu guardo para poder reutilizar; mais livros só porque eu entrei numa livraria; voltar com cinco malas abarrotadas só porque eu estou em Orlando em plena liquidação.
E esse incômodo persistente com o excesso de consumo está atingindo muita gente. Ando lendo muitos artigos e blogs de pessoas que resolveram chutar o balde e viver sem dinheiro (como alternativa de vida ou como forma de protesto) ou de gente que resolveu passar um ano sem compras, viver em comunidade e a lista só aumenta. E muita gente procurando mais qualidade de vida para viver com suas famílias.
Acho que o nascimento da Victoria vem, aos poucos, mudando também minha forma de encarar o mundo. Antes, minha vida tinha um que de voracidade. Muito trabalho, muitos interesses, muitos projetos, muitos amigos, muita vida agitada. Foi bom enquanto durou, mas não era um estilo de vida que combinava com um neném em casa. E no momento em que ela nasceu eu vivi um conflito. Uma vontade de ainda ser aquela pessoa de antes, que era tudo o que eu conhecia e também essa pessoa nova, que pensa na família em primeiro lugar e quer desacelerar um pouco, mas que não sabe bem como.
Durante muito tempo eu fiquei meio no escuro, numa espécie de limbo. Tentando equilibrar tudo e falhando miseravelmente. Mas, de repente, tudo deu uma clareada e venho descobrindo, dia a dia, o que fazer para me sentir melhor, mais confortável nessa nova pele de mãe, que quer viver uma vida mais simples, para si mesma e para curtir a sua família.
E meus passos têm sido muito simples, sem usar nenhuma técnica em particular, só intuição.
- Me livrando dos excessos: roupas pequenas, grandes, velhas, aquelas que não vai usar mais. Livros que eu já li e não quero guardar, ou que só comprei por causa da capa, ou aqueles que ganhei e nunca vou ler mesmo. Badulaques, objetos, móveis esquecidos e tudo o que tiver quebrado esperando ir para um conserto imaginário. A maior parte das coisas já foi para instituições de caridade. Outras coisas as amigas se apegaram. E uns poucos objetos do desejo estou vendendo em brechós virtuais.
- Repensando a decoração: a decoração da casa ficou meio abandonada nos últimos anos, antes mesmo da Victoria nascer. E eu sempre adorei uma decoração bacana, divertida. Então, nesse momento, eu ando sentando em cada cômodo da casa e pensando no que posso fazer para torná-lo mais a minha cara, gastando o mínimo possível. Com um lugar pra cada coisa, sem caixas espalhadas aqui e acolá.
- Simplificando a vida pessoal: aqui o objetivo é perder menos tempo com inutilidades, ou seja: passar menos tempo no trânsito, tentar concentrar médicos, terapia, supermercado, academia de ginástica etc. perto de casa ou do trabalho. E de preferência em horários aonde não existe muita chance de contratempos com a filhota. Porque ela vem sempre em primeiro lugar.
- Simplificando a vida no trabalho: meu objetivo máximo é não precisar trabalhar todas as noites em casa, depois de um dia inteiro de trabalho. Oras, o dia tem que caber em oito horas e com uma hora de almoço. A verdade é que eu tenho uma tendência absurda a dispersão e a procrastinação. E é nesse item que eu estou encarando o meu maior desafio. Comecei a ler sobre o assunto, já conversei com a minha homeopata e meu terapeuta e passei a encarar de frente a minha to do list diária. O próximo passo é colocar metas realistas e me dar pequenos prêmios por cada vitoria conquistada. E marcar menos reuniões desnecessárias. O maior prêmio será, com certeza, noites sem estresse pra brincar com a pequenina ou passear por ai com as amigas.
- Escolhendo as batalhas: além de acumular coisas, eu também acumulo projetos. Presidente disso, diretora daquilo, ajudante daquilo outro. Como eu sou uma pessoa com interesses variados, então me envolvo em projetos variados. A maioria visualizando um negócio posterior, mas muitas vezes só pela distração ou diversão. E meu desafio aqui é dedicar sim um pouco do meu tempo para projetos que me dão prazer ou senso de cidadania, mas sem a voracidade de outrora.
- Aprender a dizer não: eu não preciso publicar todo livro bacana, participar de toda iniciativa comunitária e nem me envolver em mais coisas do que eu vou dar conta. Isso gera uma ansiedade desnecessária. E não é nada simples ser uma bomba relógio ambulante. Então aprender a dizer não é um exercício diário fundamental. Um poder para ser usado com sabedoria.
E você? Tá me achando completamente doida ou também tem ímpetos de tornar sua vida mais simples? O que você anda fazendo para atingir os seus objetivos? Quer formar um grupo de apoio?
Imagem: ciadefoto
13 Comentários
Oi Camila! Tô dentro do grupo de apoio!
Há pouco mais de um ano a gente vem fazendo esse exercício aqui em casa. Vida simples é o lema: comprar menos, gastar menos com coisas desnecessárias, jogar fora, dar e vender o que não se usa mais, fazer a energia circular. É difícil, mas ao mesmo tempo, libertador! beijos
Oi Marcela, essa coisa da energia é coisa séria. Lá em casa estou num processo muito legal de mudar essa energia parada lá de casa. Estou me libertando de uma série de conceitos, não só na questão do consumo, mas também de simplificar a vida de uma forma geral. Não só a gente descobre que precisa de menos coisas pra viver, mas também pode fazer menos. Beijo
Camila,
vc não tá doida, não, tá certa! =)
Adorei o post!
Publiquei um texto que também fala sobre isso:
http://maeperfeita.wordpress.com/2011/11/27/a-arte-de-criar-vazios/
Um beijo,
Marusia
Como me identifiquei com seu texto…
Tenho dois filhos. Eu e meu marido também estamos nesse processo de tentar simplificar. Também tô dentro do grupo!
Você escreveu tudo que eu ando pensando. Ontem mesmo estava lendo um blog que você cita no texto! Me senti falando para um espelho enquanto li o seu texto!
Stela, que bom que você se identificou com o texto. Agora é hora de começar a fazer sua to do list e ir em frente. Conte comigo! Beijo
Eu sempre fui acumuladora de coisas, adorava colecionar e era apegada à lembranças e afins. Na casa da minha mãe rolava a faxina anual e eu deixava pra esta época a limpeza em armários e na alma. Mas de uns tempos pra cá, desde que saí da casa da minha mãe, parei com isso. Se eu abro um armário: roupa, escritório, da filha e vejo alguma coisa que não usamos mais por algum motivo, já tiro dali de dentro e vejo que destino vou dar; e meu marido tem me ajudado muito com esse lado acumulador. Acho que ainda teria muita coisa pra tirar, mas já avançamos bem lá em casa.
Abraços.
Oi Aline, meu incômodo é mais do que só no acúmulo de coisas/consumo, mas também de atividades. A gente mesmo torna a nossa vida mais complicada, sem necessidade. Vou por aí. Beijo
Eu acho isso uma das coisas mais lindas da maternidade! Dar valor ao que realmente é importante, né? Porque é aí que a gente vê como realmente compra demais, se envolve em coisas demais e se culpa demais também! E aprende a deixar de lado o que não importa e focar a nossa energia naquilo que traz bem estar, pra gente e pros nossos.
Juliana, você tem toda razão. Acho que nosso tempo fica mais valioso e muito do que a gente faz ou quer fazer, no fundo, é uma grande perda de tempo/dinheiro/produtividade. Mas, bato na tecla de que é muito difícil mudar velhos hábitos e até se acostumar a ser essa nova pessoa que se tornou também é complicado. Vivi uma verdadeira crise de identidade, que culminou num processo de mudança radical. Mas é isso. Uma necessidade insana quase, de ser mais simples. Beijo
Estou dentro do grupo de apoio! Adorei o post. O acumulo material nao me agride tanto porque sou desapegada e guardo muito pouco. Dou tudo o tempo todo, limpezas nos armarios sao frequentes. Mas e as atividades em serie? E as longas jornadas de trabalho? E as reunioes desnecessarias? E o foco o de eh mais importante? E o tempo para MIM? Tenho tempo para tudo nessa vida, filhos, marido, trabalho, mas e eu?? Outro ponto legal de abordar para quem tem filhos pequenos eh a ansia deles (e nossa) de fazer todos os programas possiveis. Ja tee sabado de eu ir a festa de aniversario infantil e, mal chegando la, ter q sair por causa do show do palavra cantada. Ora, eles nao sao executivos e têm q ir a tudo… Eh por ai. A lista do que cortar eh imensa!!! Beijos
olá Camila, que bacana seu depoimento!Sabe, eu passei pelo mesmo processo há algum tempo, que se concretizou com a chegada da minha filha.Mas alguns anos antes de ela chegar, eu comecei a repensar meu estilo de vida, começando pelo trabalho.Era gerente de banco, abri mao do cargo e optei por uma area que tenho mais afinidade dentro da mesma empresa que trabalho. Decisão dificil.Essa escolha reduziu consideravelmente meu stress,meu salario, alem da minha jornada de trabalho mas aumentou demasiado minha qualidade de vida.Entao, mudei pra um apartamento menor,repensei meus habitos de consumo e encontrei meu grande amor.Acho que a vida é um processo de maturação constante, o importante é experimentar pra poder ver o que nos serve ou nao.Cada fase de vida, escolhas diferentes.Abraço!
Silvana, concordo tanto com você. 2013 está sendo um ano de amadurecimento profundo e mudanças radicais. A vida tá sempre mudando e precisamos ficar atentas pra não nos perdermos nesse fluxo intenso. Beijo grande