Meu filho é melhor do que o seu

Se você está cansada de ouvir que para cada gracinha do seu filho, o filho de outra mãe faz uma gracinha maior e melhor, bem-vinda! Está aberta oficialmente a temporada de competição entre as mães. Uma versão sem prêmios para os realities da Discovery H&H e do TLC. Acontece com todas nós, o tempo todo. Começa ainda na maternidade, comparando peso e estatura de nascimento.

Não há nada de errado em pais, ou principalmente as mães, sentirem orgulho (palavra forte para a ocasião) do que os filhos alcançam e querer contar para o mundo, mas daí a transformar isso em competição já é um pouquinho demais. Quem é o pai ou a mãe que não vai achar o seu filho mais esperto e bonito do que outros?

Acho que já é um vício de alguns seres humanos… Se você conta uma tristeza, alguém tem uma tristeza maior, se você ganhou na loteria, alguém ganhou um prêmio maior e por aí vai.

Sendo mãe e tendo momentos felizes e novos, ou até mesmo alguns tristes (infelizmente acontecem), nada mais comum do que falar sobre eles, até porque nos primeiros meses acaba sendo um dos únicos assuntos que podemos falar com propriedade.

O problema começa quando viramos a esquina. Tem sempre uma mãe na pracinha, no play ou no mercado que tem uma história melhor do que a sua para contar. Mães são seres carentes de conversa e apoio, e quando percebem uma oportunidade, contam para você e toda a torcida do Flamengo as novidades de seus filhos.

Não importa se o assunto é o cocô ou a quantidade de horas de sono, a competição começa no momento em que ela diz:

A)   Nessa idade o meu filho já…

B)   Sei bem como é isso… o meu filho…

C)   Variações da “contação de vantagem”

 

A situação vai piorando com o tempo. Quando falamos em conquistas – engatinhar, andar, comer, falar, desfraldar, ler e escrever – naturais para todas as pequenas criaturas, o melhor é já ir com a bandeira branca da paz.

Chá de semancol passa longe e essas mães não percebem que você está só conversando, jogando conversa fora, sem comparações, críticas, sem a necessidade de conselhos. Não há certo ou errado. Meu filho é diferente do seu e ponto. Até agradeço em alguns casos. Amém!

Cada conquista é para ser um momento de felicidade, são marcos do crescimento e desenvolvimento. Tá lá o guia do primeiro ao quinquagésimo ano do bebê para nos mostrar, ou ainda melhor, o pediatra, certificando e carimbando o “rótulo de OK”, em cada consulta. Mas nós (mães) acreditamos que cada etapa vencida nos dá a conquista de uma medalha por ter guiado o filho até aquele momento. Andou aos 12 meses e seis dias; andou com 11 meses e cinco horas: a medalha de ouro já foi entregue para todos os que chegaram até ali. Não há prata ou bronze. Somos indivíduos, únicos em nossas habilidades e defeitos.

Ria bem alto quando o impulso de entrar nessa competição estiver tomando conta do seu ser, “you will survive”. Se a gente não alimenta o leão, ele vai morrendo de fome ou vai procurar outra mãe  mão que o alimente. Se ignorar é impossível diante dos seus genes carcamanos, faça bom uso do humor.

Caso você se deixe influenciar e entre nessa competição, é certo que a pressão e a cobrança passarão a ser seus parceiros nessa olimpíada. E por melhor que sejam suas intenções, você fará o mesmo com o seu filho, forçando uma natureza que não precisa de nenhum tipo de pressão e ansiedade para agir.

Tenha você a certeza de que seu filho está onde deveria estar, feliz e capaz de realizar tarefas como milhares de outras crianças. Isso se você não planejou ser mãe de um gênio. Gênios são como cometas, aparecem poucos diante do surgimento de milhões de estrelas.

Respeite o seu ritmo, o da sua família e principalmente o do seu filho. Não apresse o futuro. Aproveite cada momento.

 

Para não entrar nessa roubada guerra, o melhor é reconhecer o campo:

  • Compartilhe as conquistas do seu filho com amigos e familiares, mais do que com estranhos;
  • Caso amigos e familiares trabalhem como agentes duplos, nunca “arme” a bomba, desista da missão;
  • Para desarmar as bombas, basta recuar e deixar a outra parte acreditar que o filho dela deveria fazer parte de um novo documentário da BBC ou ganhar destaque em uma reportagem do Fantástico;
  • Mães da creche/escola talvez sejam seu pior “inimigo”, esteja preparada;
  • Não se engane, mães de crianças mais velhas que a sua são sim uma ameaça;
  • Lembre-se, quando alguns mães vierem contar vantagem, de quão incrível e maravilhoso é o seu filho, tente não se envolver. Ela apenas está querendo diminuir às inseguranças com relação ao próprio filho e o seu só estava ali no meio do caminho.
  • Se a situação for inevitável, seja simpática. Às vezes a pessoa faz sem perceber (acho que a maioria). Psicólogos consideram que essas mães acabam tendo mais foco nas conquistas dos filhos do que em suas próprias conquistas.

 

 

Crédito de imagem: drewleavy

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6 Comentários

  1. Suelen Antonella
    20 de Fevereiro de 2013 at 8:22 — Responder

    Gostei muito, Patrícia e acho que me encaixo nos dois lados da moeda, em diferentes momentos. Agora, vou me policiar para nao exagerar e também saber nao me importar com as
    comparaçoes.Obrigada!

    • Patricia
      20 de Fevereiro de 2013 at 10:10 — Responder

      Oi Suelen,
      eu que agradeço o carinho.

  2. 25 de Fevereiro de 2013 at 15:04 — Responder

    A comparação, por mais feia e injusta que seja, parece estar presente em todas as rodinhas de mães. Outro dia, eu fui vítima de lamentável atitude. E eu digo vítima mesmo tendo sido eu a autora da comparação. Porque afinal, é muito triste desmerecer um bebê, pois quando nos “orgulhamos” em excesso dos nossos, acabamos, inevitavelmente, por desmerecer o do outro. Fiquei tão triste comigo, pois percebi que, agindo assim, incentivaria, desde já, a competitividade leviana e mesquinha. E não é isso que quero para minha filha! Quero que ela perceba, ao máximo, como é enriquecedora a diversidade. Que a diferença entre as pessoas é que é o grande barato da vida! E, desde então, passei a me policiar constantemente.

    • Patricia
      25 de Fevereiro de 2013 at 15:39 — Responder

      Patricia,
      bom ler que aos poucos vamos despertando para essa lucidez. Dias melhorem virão.
      Obrigada por compartilhar.

  3. Amanda Xavier
    23 de Janeiro de 2014 at 0:23 — Responder

    Gostaria muito de agradecer sua matéria. Acho que em 1 ano e 4 meses que frequento as paginas da internet para acompanhar os marcos de desenvolvimento da minha filha, ainda não havia lido algo que me tocasse tanto. Obrigada pois sua materia me ajudou muito a entender minha pequenina e acima de tudo a necessidade da melhora no meu olhar para os marcos dela…Obrigada mesmo!!!

    • Patricia
      23 de Janeiro de 2014 at 13:26 — Responder

      Amanda,

      Fico feliz de conseguir ajudar. Muito obrigada por suas palavras tão carinhosas.

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