Assim que fiquei grávida, um dos primeiros presentes que recebi foram chupetas. Elas foram imediatamente incorporadas ao enxoval da Victoria. Eu, mãe desencanada de primeira viagem, não tinha nenhuma opinião formada sobre o assunto e desconhecia que a chupeta era daqueles assuntos controversos que dividem as mães e os pediatras.
Logo que ela nasceu eu ofereci a chupeta algumas vezes. Mas ela não curtiu, não quis saber e eu deixei pra lá. O negócio dela era mesmo fazer o peito de chupeta. Toda vez que ela queria relaxar e se embalar, ela mamava. Quando eu voltei a trabalhar fora, ela entrou na creche e passei a amamentar de manhã e à noite. Mais de um ano depois de começar a frequentar a creche, ela começou a chupar a chupeta dos amiguinhos. Ela era a única da turma que não tinha chupeta na creche. No início, as professoras do berçário tiravam a chupeta dela. No final das contas, vendo que ela não se consolava ou se distraia, elas pediram para eu enviar uma chupeta para ela. E assim que, aos dois anos, Victoria começou a chupar chupetas.
Eu não curti muito. Ela estava se apegando a chupeta em um momento que a maioria dos pais reflete sobre como vai fazer para tirar esse hábito do pequeno. Mas eu estava exausta (ela não dormia), me separando e a barra estava pesadíssima pro meu lado. Não tive forças.
Foi quando comecei a ler sobre o uso da chupeta para entender exatamente o quão fundo era esse buraco.
Eu, honestamente, achei que as desvantagens no uso da chupeta são muito mais sérias e difíceis de lidar do que as “vantagens”. Pra falar a verdade as “vantagens” são muito mais culturais e podem ser substituídos a partir da amamentação em livre demanda e outras formas mais acolhedoras de de acalmar o bebê inquieto e choroso.
A Sociedade Brasileira de Pediatria escreveu um artigo bastante interessante sobre os pós e contras da chupeta com a finalidade de informar a população. Embora a SBP não proiba o uso da chupeta, eles declaram que as desvantagens são mais sérias e profundas do que as supostas vantagens. Leia aqui.
- Ao oferecer a chupeta:
Diminui o risco de Síndrome da morte súbita: Estudos realizados pela Academia Americana de Pediatria informam que o uso de chupeta durante cochilos ou sono noturno pode evitar a síndrome da morte súbita infantil. Os médicos não têm certeza do motivo, mas já está comprovado que diminui as chances em mais de 50%. (Vale dizer que a amamentação também).
Satisfaz o reflexo de sucção. Os bebês têm uma necessidade natural de sugar, que muitas vezes vai além da nutrição. O peito atende a essa necessidade, mas o desejo pode permanecer mesmo após a barriguinha estar cheia. Uma chupeta pode ajudar. Basta ter a certeza absoluta de que ela não substitui o horário das refeições.
Incentiva o bebê a se acalmar. A chupeta ajuda os bebês a controlarem seus sentimentos e a ansiedade e assim se sentem mais relaxados e seguros.
- Não oferecer a chupeta:
Preferir a chupeta ao peito: A amamentação é um processo natural, mas pode demorar um pouco até mãe e bebê pegarem o jeito da coisa. Quando você oferece a chupeta ao recém-nascido, pode ser que o bebê prefira trocar o peito pela chupeta.
Problemas de ouvido: Crianças que usam chupeta têm quase duas vezes mais probabilidade de ter infecções de ouvido do que as crianças que não usam chupeta.
Problemas nos dentes: Antes dos dois anos, quaisquer problemas nos dentes se corrigem após seis meses que a criança larga a chupeta. Após os dois anos a chance de ter problemas (e eles são inúmeros) aumenta e o que era temporário pode se tornar permanente.
Problemas na fala: Crianças que passam o dia com a chupeta na boca e falam com a chupeta podem desenvolver problemas na fala. Nesse caso procure um fonoaudiólogo para saber mais.
Se você decidiu oferecer a chupeta para o seu bebê, observe alguns cuidados:
- Use apenas chupetas livres de BPA;
- Não use cordões como prendedores de chupeta por conta do risco de enforcamento;
- Não ceda aos apelos da moda e use as chupetas sem os tais cristais e pedrarias, evitando engasgos desnecessários;
- Escolha o tamanho de chupeta correto para a idade do seu bebê;
- Não deixe o seu filho dividir chupetas com outras crianças pelo risco de compartilhamento de germes;
- Não adoce o bico com nada.
Quando tirar a chupeta:
- A melhor hora para tirar a chupeta é entre seis meses e um ano, quando o risco de morte súbita diminui consideravelmente e o risco de infecções de ouvido ainda não começaram;
- Entenda a importância da chupeta para o seu filho. Você até pode retirar a chupeta de uma vez só, mas seja carinhosa, compreensiva e positiva em relação ao assunto;
- Caso opte por retirar a chupeta de maneira gradativa, comece limitando o seu uso apenas para sonecas e na hora de dormir;
- Não tente tirar a chupeta se estiverem acontecendo mudanças drásticas na rotina familiar (separação, novo irmão, grandes mudanças);
- Seja consistente. A família toda (além de babás, cuidadores e creche) precisa falar a mesma língua.
Imagem: Shutterstock Valua Vitaly
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