A partir do momento em que decidimos virar vegetarianos, uma grande mudança de comportamento e de pensamento a respeito do mundo e do modo como vivemos nele aconteceu. Em minha opinião, não comer carne é algo importante, não é apenas uma escolha, mas, acima de tudo, uma espécie de filosofia de vida. Cada vez que o vegetariano tem que explicar o sua opção significa, seus valores são consolidados. Isso fica ainda mais evidente em países como o Brasil, onde não comer carne é considerado algo alternativo ou até mesmo parte de uma contracultura: estar alheio à cultura popular da feijoada e do churrasco, por exemplo.
Muito antes da nossa filha nascer, já sabíamos que ela iria ser criada dessa forma. No entanto, entendemos que a partir do momento em que ela começar a questionar sobre o assunto, temos a mente aberta para qualquer modo de vida que ela escolher. Se ela quiser comer carne, é a vida dela. Mas não vamos deixar, é claro, de explicar as razões pelas quais escolhemos criá-la dessa forma.
A gravidez de uma vegetariana já é algo muito complicado, não em termos de saúde e alimentação, por incrível que pareça, mas em termos de preconceitos. Conheço algumas vegetarianas que, quando grávidas, se forçaram (ou foram forçadas) a comer carne para “fortalecer” o bebê. De qualquer modo, sendo ovo-lacto-vegetariana (e vai explicar isso…), tive uma gravidez super saudável. Em minha opinião, me alimentei melhor do que muitas grávidas “carnívoras”, já que um vegetariano, por natureza, acaba se tornando mais consciente do valor nutritivo de cada alimento que está ingerindo. Não engordei nem muito, nem pouco (15 quilos) e o parto foi normal, sem problemas. Felizmente, hoje em dia, existem muitos médicos (pediatras e nutricionistas, por exemplo) que são conscientes dos benefícios da dieta ovo-lacto-vegetariana e que me apoiaram em minha jornada rumo à maternidade.
É difícil falar sobre nossos próprios filhos, mas minha filha sempre foi forte e começou a andar quando tinha apenas nove meses. Até agora (ela está com dois anos e meio), nossa maior dificuldade é em relação à mentalidade das pessoas com quem convivemos. Um exemplo disso é ter que explicar a elas que uma aparentemente inofensiva geléia de mocotó é feita de carne, ou que frango e peixe também são carne (só que “branca”), que misto quente tem presunto – e que presunto é carne! – e por aí vai… E também, por outro lado, que penne ao molho branco e omelete com arroz, feijão e batata frita são pratos vegetarianos, por exemplo.
Enfim, o maior desafio é o próprio despreparo da sociedade em geral para entender o que é ser vegetariano, e não a falta de opções para se obter uma boa alimentação, já que a oferta de produtos vegetarianos é visivelmente crescente em todos os setores do mercado.
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