Dúvidas da adoção

Hoje é o Dia Nacional da Adoção, e para falar um pouco mais sobre esse assunto, resgatamos um texto da Germana Costa Moura , colaboradora do blog Mães em rede.

Oi mães. Como já comentei com vocês eu fui uma não-mãe até os 38 anos e, por muito tempo, achei que o sonho da maternidade estaria distante para mim. Tive impossibilidade de gerar filhos biológicos e, até que eu tomasse alguma atitude, ia adiando, adiando, adiando, vendo o mundo inteiro ficar grávido e a minha vez ficando para trás.

Alguma de vocês já passou por isso? Não apenas pela questão da gravidez, mas quando você acha que alguma coisa é muito difícil ou complicada e vai deixando para depois. Conhece essa sensação?

Aconteceu comigo quando pensei em adoção pela primeira vez. Acontece todos os dias com tantas pessoas que querem ser mães mas vêem na adoção um enorme tabu. A diferença é que eu me dei a chance de ouvir o primeiro encontro lá na Vara da Infância, depois o segundo, o terceiro… fui conversando com outras mães, passei a frequentar Grupos de Apoio à Adoção, comprei dúzias de livros e, quando dei por mim, já estava convertida.

Falando em “conversão”, às vezes me pego nesse trabalho de “evangelização” de quem quer adotar mas tem medo. É complicado isso. O que é certo e bom para mim pode não ser para todos. E quem sou eu para ser a dona da verdade??? Mas acontece com enorme frequencia de eu ser procurada por amigos e amigos-dos-amigos que estão em fases muito complicadas, cheios de angústias. A pessoa está ali na minha frente hiper frustrada por não conseguir ser mãe mesmo após inúmeras tentativas de tratamentos. Mas tem medo. Tem preconceito (mesmo que diga que não). Tem medo da opinião da sogra. O marido é grilado. O que a gente faz? No meu caso, eu sempre acabo tentando convencer que tudo isso são fantasmas e, na hora que a criança chegar, toda a família vai se derreter junto…  Bem, basta apresentar meus filhos para a propaganda fazer efeito… eles são a prova viva de que tudo vale a pena.

Se você está lendo esse blog é porque, como eu, acha que é muito melhor passar por essa vida com a experiência de ser mãe do que sem ela, certo? É sobre isso que se trata a adoção. Ser mãe, ser pai, formar uma família. Ponto. O resto é detalhe. Eu sei que dizer “o resto é detalhe” é uma simplificação. É detalhe para mim que já tenho dois filhos, já deixei meus fantasmas (que não eram pequenos) para trás. Mas, para quem está chegando agora a esse mundo, quanta diferença!!!

Vejam essas perguntas que recebi da esposa de um amigo do meu marido – não conheço nem ela nem ele pessoalmente. Mas a essa altura já viramos amigas. As palavras e a angústia do casal mexeram comigo.

“Você não teve medo de se arrepender e de começar algo que é para a vida toda? De descobrir, com o dia a dia, que não tinha conexão com essas crianças? De se surpreender com traços de caráter e de personalidade que não podemos mudar nem com uma convivência de muito amor?”

Vou responder a segunda, sobre “Conexão com as crianças”. Pode perguntar a qualquer psicólogo, a qualquer professor, a qualquer mãe e pai adotivo ou biológico: essa conexão não é fruto hereditário. Esse amor, esse laço é construído no dia a dia. Não é porque um filho nasceu da sua barriga que automaticamente ele é seu filho.  Nada disso. É uma coisa muito profunda, uma ligação que vai crescendo, crescendo, crescendo, um amor que não tem fim. Eu não tenho filhos biológicos, mas todos que têm os dois me contam que não há qualquer diferença.

Há um ano, tive a experiência do Miguel, meu caçulinha que nasceu quando Roberto (o mais velho) tinha 3 anos. Eu já amava loucamente o Beto e o Miguel ainda era um “estranho”, certo? Em pouquíssimo tempo a coisa virou. Miguel virou o centro da família… e olha que dividir a atenção com o Roberto não é para qualquer um porque ele é o típico show man, que faz todas as gracinhas que as avós e tias amam, é aquela criança de comercial, sabe? Mas o Miguel, de uma forma completamente nova e diferente, com o brilho e o jeito dele, conquistou todo mundo, abriu seu próprio espaço. Para mim, isso é uma prova de que essa conexão é a gente quem cria no dia a dia.

A terceira pergunta fala em caráter e personalidade: quem disse que filho biológico é santo? Não tem caráter difícil? Novamente eu acho que tudo está na mão de pai e mãe! Se a gente acerta, eles acertam. É a missão mais difícil das nossas vida!

Bom, esse e-mail desencadeou em um longo papo e o casal foi ontem, dia 20, a sua primeira reunião na Vara da Infância em SP. Palavras dela, agora bem mais aliviadas, no nosso último e-mail: “Oi, tudo bem? Quero que saiba que estamos indo para a nossa primeira palestra amanhã lá no Conselho, de documentos em punho! Eu com minhas dúvidas, claro, mas estou caminhando.”

Não é maravilhoso!??

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