Mãe-drinha, Manu e Clara

A minha ligação com a minha afilhada Maria Clara começou anos antes dela nascer.   A mãe dela, Bel, amiga e professora de Pilates, havia perdido um filho, Pedro, em circunstâncias muito sofridas aos sete meses de gestação. Quando ela e o marido, David, engravidaram de novo, havia muita expectativa e um drama: a Bel teria que ficar de repouso ABSOLUTO por muitos meses, com o risco iminente de perder a vida ou mais um bebê. Mas Maria Clara nasceu, num fim de noite, de cesárea. A bolsa rompeu antes da hora, mas ela já tinha oito meses e deu tudo certo.

Por causa de nossa amizade com a Bel e David, havíamos construído uma casa bem ao lado da deles. Num domingo despretensioso, com a desculpa de comer uma pizza, veio o convite: “vocês querem ser os padrinhos de Maria Clara?”

Confesso que quando o sentimento de responsabilidade chegou comecei a refletir. Porque ser madrinha não é assim, fácil. Você precisa estar presente, participar, se expor, ser mãe sem ser, educar e mimar ao mesmo tempo. Você é a mãe substituta sem nunca pretender ocupar o lugar dela. Difícil? Ah, também não é! Basta pegar no colo, dar um banho, trocar a fralda, dar comida que tudo fica natural. Você está entregue e emocionalmente desprotegida. Nunca mais será invulnerável e sozinha.

Dos quase 3 anos de minha afilhada, tenho milhões de coisas a lembrar: a primeira vez que ela falou meu nome, o primeiro passo, a primeira careta, a primeira bronca, o primeiro joelho ralado, o ballet toda sexta-feira, o primeiro dia de escola, as babás que nunca são perfeitas, a primeira doença… O jeito que ela olha, que sorri, que tenta te seduzir. O jeito que ela pula amarelinha, as flores que ela colhe pra me dar. O jeito dela correr. O dia em que deixou a chupeta. O pinico, o xixi, as danças e as músicas. As perguntas e as safadezas.

De tudo terei saudades um dia. Como já tenho saudades de quando ela precisava ser pega no colo. Mas hoje, enquanto ainda estou vivendo o momento, sinto que sentirei saudades dos sons que chegam da casa do vizinho. Sons de criança que ri, grita, chora, canta e ri de novo, no espaço de dez minutos. Sons que tornam minha vida de verdade, como toda criança, em sua fantasia, faz.

 

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