Sai da frente que atrás vem gente!

Quando o Miguel nasceu, o Francisco tinha 1 ano e 2 meses. Tem que fazer as contas rápido… E essa é a constatação que mais me impressiona: Francisco tinha 5 meses quando eu engravidei. E eu descobri no dia seguinte do churrasco de comemoração aos seus seis meses de vida. Por muito tempo tive vergonha de responder quando as pessoas faziam essa pergunta. Numa época em que todas as minhas amigas mães estavam virando noites , fedendo a leite azedo,  descabeladas, eu engravidava?  Mas hoje falo com orgulho, porque foi, sem dúvida alguma,  das melhores coisas que me aconteceram.

Foi fácil descobrir. Uma vez grávida, a gente sabe quando está grávida de novo. Não adianta. A nossa relação com o mundo ao redor muda. Os cheiros mudam, o peito dói. Cada uma de nós com suas transformações, claro, mas as minhas não deixavam dúvidas. Enjoar comendo um mamão no café da manhã? Batata. Liguei pra farmácia e pedi um Clear Blue. Apareceram duas listrinhas azuis. Cismei que eu tinha deixado o jato de xixi molhar o bastão inteiro. Liguei pra farmácia de novo e pedi outro. Duas listrinhas azuis. Liguei pra minha obstetra. Não, eu não estaria grávida, esses exames de farmácia erram muito e, afinal, amamentava exclusivamente, nem água Francisco bebia. Era noite. No dia seguinte, lá fui eu pro laboratório.

Lembro da cena como se tivesse acontecido há meia hora: fim do dia, no escritório de casa, sentada no computador, com o site do laboratório, o Leandro com o Francisco no colo, eu vendo aquele nível de Beta HCG que eu já sabia bem o que significava… A única coisa com sentido que lembro de ter pensado foi: com esse número absurdo de hormônios, só posso estar grávida de gêmeos…

Fiquei estarrecida, apática, catatônica. Não sei dizer que emoção eu senti, acho que não senti nada. De repente, o Leandro começou a vibrar e comemorar com aquele bebê no colo. Na minha mente, começou a passar um filme: engordar mais os 15 quilos já perdidos, parir, amamentar, botar pra dormir, torcer pra não ter cólica nem refluxo, babá, meu Deus, eu não tinha babá!

Por sorte, ou por mero instinto de sobrevivência, passado o susto, eu comecei a achar a ideia maravilhosa. Todos vibravam com a notícia, família e amigos. Claro que eu sentia aquele clima de “coitada dela, gente…”, mas não me abalava. O que mais me preocupava era como eu poderia amar outro filho da forma que eu amava o Francisco, apaixonada que estava por aquele bebê gorducho, lindo, de cachinhos loirinhos. Não conseguia imaginar sentir nada parecido. Minha mãe, com a experiência de três filhos, me dizia: não se preocupe, quando nascer você vai ver, o amor pode ser diferente, mas é igual em intensidade. Eu duvidava. E muito. Mas tinha certeza absoluta que seria uma menina. Clara. Comprei até um vestidinho. Dizem que sexos diferentes trazem gestações diferentes, né? Pois como na primeira eu enjoava pouco e na segunda eu vomitei, uma única vez, tive certeza. Afinal, eu estava com os hormônios (e a intuição materna) a mil! Quando, na ultra de 12 semanas, o médico disse que era outro menino, vibrei! Nunca escondi meu desejo de ter filhos homens. Não tô nem aí pra Freud. E eu sabia que outro menino iria facilitar muito a minha vida prática, afinal eu precisava de uma forcinha, né?

A segunda a gravidez voa. Você está muito ocupada com um bebê em casa pra perceber o tempo passando. Ioga pra gestantes? Nem pensar! E ela voou na maior tranquilidade, sem intercorrência nenhuma (diferente da primeira, na qual placenta envelheceu precocemente por causa das incisuras bilaterais que tive). Engordei menos, fiquei bem menos ansiosa, as consultas e as ultras eram mais tranquilas.

Quando o Francisco fez um ano, eu estava com uma barriga de sete meses. E que barriga, já que Miguel nasceu com 3,800 e 53 centímetros. Hoje, vendo as fotos da festa, parecia uma aberração! Eu tinha momentos de vergonha, de estar tão barriguda e com um filho tão pequeno. Cheguei a ouvir diversas vezes comentários do tipo “Ah, coitadinho, tão pequeno e já vai ganhar um irmão…”. Eu ficava revoltada! Que sorte a dele, que vai ganhar um irmão! Que sorte a dele que vai ter um parceiro pra vida toda, um companheiro em todos os momentos, que vai ter a chance desde pequeno de aprender a dividir e a respeitar. E era isso que eu sempre falava pro Francisco sobre a chegada do irmão. Apesar de muito pequeno, tenho certeza que ele compreendia. Acredito, por experiência, que o nascimento de um irmão repercute no primeiro filho muito de acordo como nós, pais, lidamos com isso e passamos para eles. Pra nós, a ideia dele ganhar um irmão era prá lá de boa, e ponto final!

Quando o Miguel nasceu, o Francisco foi visitar na maternidade, e foi uma cena muito bonitinha.

Não vou dizer que é fácil. Não é. Exige muito, em termos de saber dar atenção aos dois (levando em conta a demanda de um bebê pequeno).

Lembro de algumas cenas que se repetiam: no almoço, Miguel no peito e eu dando papinha pro Francisco; pela rua, Miguel no sling e Francisco no carrinho. Eu me sentia uma índia!

Acontece que segundo filho é uma delícia, a experiência do novo e da descoberta que temos no primeiro se mantém, porque cada bebê é extremamente diferente do outro, mas com a vantagem da segurança e da tranquilidade.

Mas a máxima de que amor de mãe não se divide, se multiplica, é totalmente verdadeira!

 

*Crédito da imagem: Summers

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