Bagunça e arrumação

Outro dia estava conversando com umas amigas mães, e na conversa alguém falou sobre um livro infantil com um título muito interessante: Bagunça e arrumação.  Fiquei pensando sobre essa dupla, que em muitos momentos nos tiram do sério com os nossos pequenos. Temos tantas coisas para ensinar para os nossos filhos, que às vezes, pela correria e por não querermos perder tempo, acabamos por fazer tudo por eles, e com isso ficamos exaustas. Em alguns momentos podemos chegar a pensar que não temos mais saída, vamos ter que sucumbir e arrumar sempre a bagunça de nossos filhos. Será?

Bom, fiquei pensando no simbolismo desta ação prática da vida, que depois de internalizada, pode nos ensinar várias lições subjetivas: a organização, a disciplina, a capacidade de “arrumar” algum mal entendido e também a capacidade de lidar com a desordem.

Não estamos aqui nos referindo a situações onde arrumação e bagunça são levadas a formas patológicas; onde nada pode estar fora de lugar, tudo tem que ficar limpo ao extremo, podendo levar a criança a desenvolver uma mania, uma obsessão extrema por limpeza.

Para a criança o seu ambiente e seus parceiros, os brinquedos, fazem parte de seu mundo, e elas se sentem bem em poder usá-los de maneira livre. Ter controle sobre eles faz parte da brincadeira. O importante está na relação da criança com os seus objetos, pois os mesmos tem uma função: o mundo lúdico e a brincadeira servem como ferramentas para o desenvolvimento da linguagem e também como forma de elaboração da fantasia e da realidade. Portanto os objetos estão para servir a relação, eles tem um propósito. Somos nós que nos servimos deles e não eles que ditam a gente, nos aprisionando.  Ah, tá! Entendi… mas o que fazemos com a bagunça? Isso não quer dizer que estamos fadados a tropeçar em carrinhos, quebra-cabeças e bonecas.

Quando a criança é muito pequena, não se pode exigir uma organização exemplar, mas claro que já se pode ir desenvolvendo esta noção através de conversas que mostram o porque da arrumação. Arrumar junto com a criança também é uma dica. A criança deve ver em casa os pais arrumando as coisas, mostrando que arrumando podemos reencontrar os objetos com mais facilidade, diminuindo assim o stress e a ansiedade. Se deixarmos as coisas em qualquer lugar, podemos no momento que precisarmos delas não achá-las ou termos dificuldade para encontra-las. Desde o maternal as escolinhas começam a ensinar para os pequenos sobre a hora de arrumar as coisas. Este movimento de organização vai sendo internalizado, levando a criança, com o tempo, a usar esse aprendizado objetivo em questões subjetivas, ajudando no desenvolvimento da capacidade de se organizar mentalmente. Mas claro que isso não acontece da noite para o dia, com o exemplo e o tempo tudo vai se encaixando.

Com essa dupla, bagunça e arrumação, podemos também desenvolver a capacidade de lidar com a desorganização, com as mudanças e surpresas, pois a vida está sempre nos surpreendendo e desorganizando e precisamos da nossa organização interna para dar conta disto.

O limite também está de alguma forma em cena, pois podemos também aprender no que se pode mexer, onde fazer a bagunça, quando arrumar, o que é meu e o que é do outro, e assim começar a delinear uma noção deste conceito. E pela mesma trajetória, do concreto para o subjetivo, a criança vai começando a construir e internalizar o conceito de limite, que posteriormente será usado também nas suas relações. É na adolescência, que a arrumação começa a ter o mesmo sentido e características que deve ter para o adulto, de maneira que sirva para facilitar a vida, com sua própria ordem, pois cada um tem sua forma de organização.

A bagunça é importante para a criatividade; é vida. O entendimento da importância da arrumação tem que existir, mas isso deve fazer sentido e estar contextualizado no lugar que a família acredita e valoriza. Coerência é uma palavra chave, e o exemplo uma ferramenta importante na educação dos filhos. Impor uma organização excessiva não ajuda, assim como não dá pra ser uma coisa e querer que os filhos sejam o oposto, projetando neles um ideal que não tem ligação com a realidade da família.

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1 Comment

  1. 30 de outubro de 2013 at 9:03 — Responder

    Adorei o texto. A criança sozinha não organiza nada, mas tem que aprender a ter noção do que é arrumar/organizar. Lá em casa, a organização é na base da ajuda. Benjamin sempre faz uma bagunça danada com seus brinquedos, mas é impossível uma criança na idade dele arrumar sozinho. Então ele pede ajuda e todos arrumam a bagunça juntos. Com isso, quando estou arrumando alguma coisa, ganhei um companheiro. Ele sempre vem me perguntar “quer ajuda, mãe?”.

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