Caprichos e birras

Com o crescimento da criança, a dinâmica entre pais e filhos vai se modificando de acordo com as conquistas e desafios que surgem na relação. Os limites vão sendo testados repetidamente pela criança, sua dependência vai diminuindo, seu campo de exploração vai aumentando, e com isso ela testa suas novas perspectivas e possibilidades no mundo.

Pais e filhos vão aprendendo a lidar uns com os outros, e a estabelecer uma dinâmica de troca, uma comunicação onde os valores e os limites vão sendo cada vez mais conhecidos, refeitos e apreendidos. Mas o caminho da dependência total para a relativa e depois para a autonomia, não é nada simples. Na verdade sempre olho para esta questão como um pouco utópica. Acredito que nunca chegamos a esta “autonomia”, pois sempre estaremos em relação com os outros, sempre estaremos dependendo do outro em nossas vidas, bom, mas isso é outro assunto.

Em muitos momentos as crianças podem se sentir amedrontadas por estarem crescendo, e dentro de suas fantasias, podem achar que o crescimento pode fazê-las perder algo, ou até mesmo a perderem um lugar de privilégio com seus pais. Isso fica ainda mais evidente quando chega à família novos integrantes de peso como irmãos, que também solicitam a atenção dos pais. Estes, então, podem ser vistos como concorrentes e a partir daí começa uma disputa pela atenção dos pais entre irmãos. Não é incomum crianças mais velhas voltarem a se comportar como bebês, e isso causar um desconforto para todos. Este é um exemplo de situação onde os pais são testados, mas existem vários outros. Às vezes, não existe um acontecimento tão concreto como a chegada de um irmão e os pais se deparam com muitas birras e caprichos.

Antes de estabelecer uma regra de comportamento de como agir frente a uma situação de birra dos nossos filhos, proponho pararmos um pouco para tentar refletir sobre esta situação de maneira subjetiva. Respirar fundo e tentar se distanciar um pouco que seja da situação para tentar entende-la, pois podemos estar denominando como “capricho ou birra” algo que pode ser na verdade algo que tem um motivo para a criança.

Quando uma criança apresenta de repente uma reação extrema, que incomoda a todos, na verdade o que precisamos fazer é tentar entender o que está acontecendo. Os caprichos também podem estar relacionados a uma dificuldade dos pais em entender o filho, pois estes estão na verdade envolvidos pelo desconforto da situação, e com isso ficam focados em por um fim na mesma. Às vezes, a criança por não ter o domínio total da linguagem, ao expressar um desejo ou um sentimento pode fazê-lo da forma errada, e por não saberem como, resmungam, não concordam com nada, berram, e com isso podem ser respondidas também com berros, causando o desentendimento. Cabe a nós, tentar entende-las, pensando, que por trás daquele comportamento deve haver um motivo. Os motivos podem não ser tão claros e evidentes, mas temos que tentar fazer o esforço de pensar, e não fazer da situação um drama logo de início. Ao se distanciar da situação e não serem levados por ela, os pais tem a oportunidade de ponderar sobre os motivos e também sobre a existência deles. Existe a possibilidade de ser apenas uma questão de aprendizado de limites que a criança precisa passar, no sentido de lidar com o fato de que nem todos os seus desejos poderão ser realizados.

Não podemos esquecer também que o nosso exemplo é muito importante dentro do processo de educação, é através dele que muitas coisas são aprendidas. Em muitos momentos, por outras razões, estamos sem paciência e ocupados com outros problemas, e acabamos respondendo rispidamente aos nossos filhos, pois estamos irritados. Neste caso é preciso destacar que a priori para um filho o que a mãe faz está sempre certo. Sendo assim, a mãe não deve se surpreender quando o filho também reage de vez em quando com uma pequena explosão de humor e de palavras desagradáveis. Na verdade o que ele está fazendo é uma repetição de comportamento, e nesta situação podemos aproveitar para mostrar pra a criança até de forma humorada: Tá vendo, de vez em quando você também se irrita, como eu!

Entender que não precisamos dar conta de tudo, que temos os nossos limites, enxergar quando estamos com estes extrapolados e recuar, pode nos ajudar diante da situação. Dar um tempo, sem culpa, e assim poder recorrer aos outros possíveis parceiros na educação dos filhos como avós, avôs e claro, os pais.  Com isso as crianças terão a oportunidade de aprender não só como a mãe entende e age frente a situações extremas mas também como a família. Afinal, em paralelo a educação de nossos filhos, estamos também lidando com as nossas questões, a vida não para! Muitas vezes, os nossos filhos nos fazem esbarrar em questões que já eram difíceis pra nós antes mesmo de sua existência. Saber que podemos pedir “altos” pode ser uma saída salvadora para a relação. Entender os nossos limites, conhecendo os mesmos e dando exemplos de como lidamos com eles, é uma importante ferramenta. Pois o exemplo é fonte principal de aprendizado para as crianças.

 

Imagem: Gerry Thomasen

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