Sobre Angelina Jolie e saudade

A mulher mais sexy do mundo fez uma dupla mastectomia. Além de dizer pra todo mundo que ela não se resume a um par de lindos seios, Angelina Jolie explicou o que a levou a um ato tão radical:  ela quer estar com os filhos pelo máximo de tempo que puder.

Assim como milhões de mulheres ao redor do mundo, Angelina perdeu a mãe antes da hora pro câncer. Não sou mãe, mas conheço a natureza feminina o suficiente para entender o pânico que a possibilidade de ver seus filhos órfãos é capaz de gerar. Sim, poucas coisas são tão dolorosas quanto a morte da sua mãe, especialmente se ela acontecer prematuramente. Mas isso pode acontecer, e a forma como seu filho vai lidar com isso para o resto da vida é mais uma tarefa para a já sobrecarregada figura materna, sinto informar ;). Mas que tal ver isso pelo lado positivo? Essa é mais uma oportunidade de formar aquela pessoa bacana da qual você sabe que vai se orgulhar pra sempre.

Minha mãe morreu um pouco mais nova que a da Angelina. Também de câncer e também 10 anos após o primeiro diagnóstico. Tenho certeza de que muito dessa sobrevida se deve, além da detecção ainda no início da doença, ao fato dela se recusar a “abandonar”(com muuuitas aspas) as duas filhas adolescentes. Durante todo o longo e penoso processo, foi ela que administrou todas as etapas, com apoio do meu pai: operações, quimioterapias, tratamento etc. Quando soube que não tinha jeito, decidiu exatamente como e onde iria morrer. E ainda nos fez prometer que, se fosse antes do natal, iríamos os três pra Nova York com o dinheiro do seguro. Claro que obedecemos!

Desde então – não vou mentir – tenho vontade de me trancar num quarto escuro por todo o mês de maio. Até porque minha mãe não dava a mínima pra “dia das”, só curtia aquelas peças artesanais deformadas que a gente fazia na escola de presente. Penso nela todos os dias e não me conformo em não poder comentar o tapete vermelho, fazer compras juntas, apresentar o namorado, levar os sobrinhos à praia, perguntar o que ela acha do Mad Men… Fora pedir ajuda em momentos decisivos da vida, tipo casar ou comprar uma bicicleta, aceitar ou não aquela proposta de trabalho. Ela já morreu há tanto tempo que nunca lhe mandei um email ou a tive nos favoritos do celular e, principalmente, não conversei de adulta pra adulta. Mas graças à postura dela antes e durante a doença, estou muito mais preparada para enfrentar tudo isso e seguir vivendo, olhando pra frente e pensando com otimismo no meu futuro.

Aprendi com ela a não depender de pai ou marido, mas também a mimar com amor, comidinha e presentes. Que as coisas nem sempre acontecem como a gente gostaria mas, quanto mais preparadas estivermos, melhor lidaremos com as consequências. Que as modas SEMPRE voltam e que a roupa medonha de anos atrás ainda vai ressurgir cheia de hype. E que sempre tem um jeito de ficar bonita na foto.

A atitude de Angelina vai salvar vidas. Concordando ou não com esse ato corajoso/precipitado/insira aqui sua opinião, mulheres que têm medo de falar a palavra câncer estão vendo que até a gostosa-mor de Hollywood teme não poder ir ao casamento do filho mais novo, e que não se prevenir é muita BURRICE. Não sou amiga de Ms. Jolie mas posso apostar de onde vem a inspiração pra fazer a diferença na vida de tanta gente.

Gabriela e ElbaGabriela e a mãe, Elba, na Guatemala, em 1987.

Postagem anterior
Pornografia para moças de família
Próxima postagem
10 dicas para um consumo infantil mais consciente

27 Comentários

  1. Camila
    20 de Maio de 2013 at 17:14 — Responder

    que texto lindo que vocês arrumaram, meninas Mundo Ovo. amo vocês, amo a Gab! 😉

    • Gabriela
      20 de Maio de 2013 at 20:21 — Responder

      <3 Camila 🙂

  2. Camila
    20 de Maio de 2013 at 17:50 — Responder

    Gabi, como mãe, não dá pra ler e não ficar meio transtornada. Um misto enorme de sentimentos de amor, saudade e responsabilidade. Além de entender mais da sua trajetória (e a gente se sente mais próxima assim, né?), você jogou um pedregulho na minha cabeça e tenho muito a digerir, a entender, a mudar. Ser mãe é não ter mais o direito de morrer. Com muito amor, solidariedade e amizade, muitas gracias por esse texto. O Mundo Ovo ficou mais rico hoje.

    • Gabriela
      20 de Maio de 2013 at 20:27 — Responder

      Puxa, Camila, merci! Tomara que o pedregulho também mostre pras mães que a gente sobrevive e até consegue ser feliz :).
      Obrigada por permitir que essa dor sirva pra alguma coisa!

  3. vera Azevedo
    20 de Maio de 2013 at 17:52 — Responder

    Adorei o texto, quase chorei.
    Já tive uma perda jovem na familia para o CA e foi irreparável para os filhos.
    Gabriela & La Jolie, grandes mulheres.
    Parabéns às suas Mães.

    • Gabriela
      20 de Maio de 2013 at 20:31 — Responder

      Obrigada, Vera! A dor não passa mas a gente tem que honrar nossa herança sendo feliz!!

  4. Ana
    20 de Maio de 2013 at 17:58 — Responder

    Texto lindo. Chorei de emoção.

    • Gabriela
      20 de Maio de 2013 at 20:34 — Responder

      Obrigada, Ana! Aproveita e dá muitos beijos no seu filho (a) (s)!

  5. Cristiana Javier
    20 de Maio de 2013 at 18:14 — Responder

    Que lindo, Sis!
    Lembro que quando a Mamãe estava doente ela disse que quando a mãe dela morreu (de câncer…) ela ficou obviamente muito triste e contou também de como ela voltou a ser muito, muito feliz quando a gente nasceu! Agora com meus filhos consigo entender um pouco mais da angustia dela em deixar a gente, e imaginar a viagem que deve ter sido para ela entender tão bem a dor pela qual a mãe dela passou quando ficou doente.

    • Gabriela
      20 de Maio de 2013 at 20:36 — Responder

      Pois é, Sis, enquanto isso vou tirando casquinha feliz com meus sobriños <3.
      É bom as outras mães verem que é possível ser feliz e que a saudade também traz alegria e inspiração!

  6. Luciana
    20 de Maio de 2013 at 22:42 — Responder

    Nossa, soh fiz chorar…. Que lindo, sua mae deve ter amado esse texto de onde ela estah. 🙂

    • Gabriela
      20 de Maio de 2013 at 22:55 — Responder

      tomara, Luciana, obrigada!

  7. Adriana Tiefen
    20 de Maio de 2013 at 22:53 — Responder

    Gabi,
    lindo texto e sei bem o que é não poder dividir esses pequenos e grandes momentos da vida com pessoas tão próximas como mãe e pai. No meu caso foi o pai que perdi tbm no auge da adolescência (16), e que me faz falta até hoje…Com certeza não pensaria duas vezes em me prevenir (mesmo sendo tão radical como La Jolie ) para poder viver mais ao lado das minhas duas filhas. Um beijo e sds !

    • Gabriela
      20 de Maio de 2013 at 23:00 — Responder

      Ai, Dri, dureza, mas eles ensinaram alguma coisa pra gente seguir em frente né? Você, Paulo e as duas fofinhas mini Tiefen carregam a tocha! Saudades tb 🙂

  8. Andréa Rudolf
    21 de Maio de 2013 at 0:06 — Responder

    Minha mãe está viva, com 67 anos e não tenho casos de ca na família. Mas chorei ao ler o texto. Já perdi uma amiga aos 42 anos e ela não tinha nada, morreu em casa, cuidando da filhinha de 6 meses. Então meninas, vamos fazer dos nossos filhos pessoas de bem. Vejo crianças fazendo tudo o que quer e os pais acham bonito. Vamos criar cidadãos centrados.

    • Gabriela
      21 de Maio de 2013 at 11:30 — Responder

      É isso aí, Andrea, vamos fazer pessoas bacanas!

  9. Andréa Rudolf
    21 de Maio de 2013 at 0:09 — Responder

    Ah, fugi do assunto. Rsrsrs. Se eu tivesse feito um exame desse e a chance grande de ter câncer no futuro, faria a mesma coisa que a Jolie.

  10. Tati
    21 de Maio de 2013 at 2:11 — Responder

    babs, corazon… Tua familia de 3 mulheres lindas e potentes – que sorte te-las ao redor. Esses nossos laços fortes mitigam as ausências profundíssimas e nos unem no amor e na dor, pois não? Te sou muito grata por tanto. <3

    • Gabriela
      21 de Maio de 2013 at 11:31 — Responder

      <3 <3 babe

  11. FLAVIANA
    21 de Maio de 2013 at 12:01 — Responder

    Nossa…. minha cabeça deu mil voltas agora. O ano passado eu descobri um câncer, sou mãe de dois filhos, com 6 e 2 anos….Eu não me revoltei com a doença, entendi a fragilidade da vida e concebi a ideia de que poderia ser a minha hora quando analisei tudo na minha vida, o casamento, a relação com meus Pais, meus amigos e irmãos, meu trabalho etc. Eu pensava: Vai ser duro, eles vão sofrer mas já vivemos uma história juntos… agora quando pensava nos meus filhos (e isso era toda hora) eu não conseguia admitir a possibilidade que eles me perdessem para o Câncer….. Lutei e luto por eles e peço muito a Deus que eles não passem por uma experiência dessas tão novos…. Sei que se acontecer eles não serão os primeiros nem os últimos, infelizmente, mas eu não posso admitir a ideia…. Graças a Deus eu estou bem, os exames indicam que dei conta do indigitado câncer mas o resultado de cura definitiva vem só depois de cinco anos…. oxalá que ele vai chegar! Gabriela…. sua mãe está separada só fisicamente de vc. o que ela te ensinou, o que viveram juntas fica p sempre! bjs

    • Gabriela
      21 de Maio de 2013 at 19:22 — Responder

      Flaviana, essa sua força pra brigar é uma inspiração pros seus filhos, mesmo que a gente ache que eles não têm consciência disso! Muitos anos de vida ao lado de deles e de todo mundo que você gosta!! Obrigada e saúde!

  12. Kate Lyra
    22 de Maio de 2013 at 7:57 — Responder

    Lindo texto. Saudade da minha mãe…das nossas mães.

    • Gabriela
      22 de Maio de 2013 at 12:04 — Responder

      Thanks, Kate! Muita saudade mesmo, e sorte da Kay pela super mom!

  13. Isabel Kaehler
    10 de junho de 2013 at 12:44 — Responder

    Ler este seu post no aniversário de morte de minha mãe trouxe à tona vários sentimentos.
    A perda de uma mãe sempre é precoce. A minha tinha apenas 56 anos quando faleceu e eu 32, já bem crescidinha, mas acredito que nós filhas nunca estamos completas, “acabadas”, e ao perdê-la fiquei perdida.
    Hoje sou mãe de um lindo menino que completará dois meses esta semana e viver esta experiência sem minha mãe me deixou muito insegura: como cuidar dele em dias de cólica, como dar o banho, como fazer isso, como fazer aquilo, ou seja, como ser mãe. Ela sempre foi a minha referência.
    Queria muito que ela o tivesse conhecido, seria seu primeiro neto, mas sinto demais a presença dela ao meu lado e sempre busco em minha memória as coisas que ela faria.
    Ela sempre foi muito presente, educadora e nos deu o melhor dos mimos: carinho.
    Saudades….

    • Gabriela
      11 de junho de 2013 at 23:49 — Responder

      Oi, Isabela, parabéns pelo baby!! Você vai ver o quanto ele vai te reconectar à sua mãe e te mostrar o quanto ela continua aí pertinho. Vejo isso nos filhos da minha irmã, que estão crescendo ouvindo as histórias da Vovó Elba <3. Temos muita sorte pelas mães que tivemos – não consigo achar que "não tenho mãe", eu tenho, só que ela não está viva. E ter nossos próprios filhos (e sobrinhos, e enteados) trazem elas mais perto da gente outra vez. Felicidades pra você e sua família!!

  14. paula
    1 de setembro de 2013 at 12:24 — Responder

    Nossa!Que palavras nobres e fortes, me senti até covarde.Tenho filhos e perdi a minha mãe a 1 ano e meio, mas continuo no chão.

    Beijão a todos

    • Gabriela
      2 de setembro de 2013 at 12:03 — Responder

      Oi, Paula, você não é covarde não!! Dói demais mesmo e nunca passa totalmente. Aproveita esse amor delicioso dos seus filhos que daqui a pouco a dor vai dando espaço pruma saudade gostosa, tomara que o sentimento pese mais pra esse lado ;).

Envie uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*

*

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

Voltar
COMPARTILHAR

Sobre Angelina Jolie e saudade