Venho me deparando na clínica com pacientes que perderam pessoas próximas recentemente e não sabem o que falar e como falar com seus filhos sobre a morte.
Morte é um assunto complicado para nós adultos. E, quanto mais complicado para nós, mais ainda será para os nossos filhos.
Nessas tristes situações, fica difícil fazer a coisa certa, estamos improvisando e tateando no escuro. Deixar de falar sobre isso com a criança é deixá- la sozinha com suas perguntas e sua dor em uma hora em que ela , como qualquer pessoa, precisa de companhia. Entretanto é fácil dizer, mas muito difícil é fazer, pois na maioria das vezes o próprio adulto também está abalado e sofrendo sobre o peso da dor da perda.
Acredito que os pais devam conversar com seus filhos e dizer as suas próprias verdades. O que estou querendo dizer é que cada pai tem a sua crença , a sua religião e a partir daí construiu a sua história com relação a morte, então é essa verdade que deve ser contada. É a verdade que é experimentada pela pessoa e pela família.
Muitas vezes, as crianças lidam com a morte de uma maneira tranquila. Veja os livros infantis, que tratam desse assunto constantemente. Mesmo sobressaltados ou surpresos, temos que estar de ouvidos abertos para as próximas perguntas que surgem ao longo do tempo, porque elas vão aparecer em uma tentativa da criança conseguir digerir e dar conta do significado disso tudo.
Um exemplo disso, foi um caso que eu acompanhei, onde um avô querido tinha falecido. Quando a mãe foi contar para a criança, que na época tinha aproximadamente 4 anos, esta agiu com a maior naturalidade e respondeu : “É. Ele morreu, tá bom”, e continuou a brincar em seu quarto.
Com o passar do tempo ela sempre perguntava pelo seu avô, e todos voltavam a lhe explicar. Quando um certo dia ela foi até a sua mãe e perguntou: Mamãe, já sei o vovô morreu mas cadê ele? Ele não vem amanhã? E enquanto sua mãe lhe explicava mais uma vez, ela caiu em prantos e respondeu: “ Mas , é de verdade? Ele não vai voltar mais!! E aí sim ela pôde chorar pela morte do avô tão estimado.
Antes que as crianças possam sepultar uma experiência dolorosa e levar adiante as suas vidas é necessário que haja esse processo de assimilação.
Precisamos ser sensíveis, não forçar o assunto, quando vemos que a criança não quer ouvir. Esperar o momento certo e ser receptivo as aberturas da criança é provavelmente o melhor método.
Por fim, este assunto deve ser conversado de uma maneira simples, com as palavras da realidade. A realidade embora terrível, é em certo sentido, preferível a fantasia. Os pais temem que seus filhos sofram com isso e, inevitavelmente eles vão sofrer, mas ao entender esse sofrimento e estar junto com eles nesse momento, torna o processo menos doloroso e um pouco mais fácil de enfrentar. Faz parte da vida, infelizmente.
Imagem: Cia de foto
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