É muito difícil esperar. E não são só as crianças
Todo mundo quer ver o filho feliz, mas o que acontece comigo, certamente acontece com você:
– Ih, o papai ainda não chegou, vamos ter que esperar um pouquinho, filho.
– Empresta o iPhone?
É automático, eu digo que temos que esperar e ele logo me pede o celular. E eu faço a mesmíssima coisa, com a única diferença que não preciso pedir permissão para ninguém. Definitivamente, não sei mais esperar como antigamente – do tipo ficar parada sem fazer nada além de esperar. Meu filho talvez nunca aprenda.
Enquanto esperava e pensava nisso, me ocorreu que o problema talvez não seja exatamente esperar, mas a parte de não fazer nada. Não consigo lembrar da última vez em que fiquei sozinha, à toa, pensando na vida. E não acho que isso se deva exclusivamente ao fato de ser mãe e ter menos tempo. Quando percebo um desses momentos se aproximando, trato logo de evitá-lo, checando o Facebook, vendo fotos no Instagram de pessoas mais felizes e fotogênicas do que eu ou jogando Candy Crush.
Filho feliz: momentos de reflexão não são uma tarefa fácil
Seja qual for a época, mas com menos distrações ao alcance das mãos, a gente encarava o bicho com mais frequência. Entretanto, é possível se entreter e ou se distrair a todo o instante e deixar a gente para amanhã ou para o mês seguinte. Eu sei que você já sabe disso, mas é diferente e novo criar um filho em mundo assim.
Lembro da minha adolescência, de como foi importante o tempo em que passei sozinha no meu quarto e imagino que meu filho terá raros momentos de solidão e introspecção como aqueles em seu futuro. Adolescentes ou adultos, estamos o tempo todo em contato com o outro, nos comunicando, trocando mensagens, narrando nossas vidas, lendo a das outros e acumulando informação. Como serão esses adultos que crescem desacostumados a estarem sozinhos? Eles se suportarão?
É uma reflexão, não é medo. Não sou do time “antigamente é que era bom”, adoro hoje e acredito que o futuro será melhor ainda. Cada época tem seus desafios e facilidades. Porém, por mais desconfortável que seja, a introspecção e a solidão precisam continuar ocupando um espaço em nossas vidas. Nem que seja dentro de um aplicativo que interrompa mídias sociais por horas para você compartilhar a experiência momentos depois. Discordando de Tom Jobim, acho impossível ser feliz se você não for feliz sozinho.
8 Comentários
Amei!
Fico feliz, Simone!
Gostei demais, e me identifiquei também
Tamo junta <3
Perfeito, Mariana! Identificação total!
Muito atual e válido seu texto (além de bem escrito;) Mari.
Acredito e concordo na importância de aprender a ser feliz sozinho, mas também questiono muito sobre o outro lado da moeda que é a importância de saber conviver e interagir, que aqui talvez seja um agravante a mais com a liberdade que estāo muito sozinhos e independentes desde cedo, e que mesmo em companhia estāo todos conectados, mas talvez um tópico para outro post.
beijo
Bom, eu que fui criada perto de 14 primos me sinto muito sozinha morando longe da família. E sinto pq meus filhos nao vão ter o q tive já q só tem 3 primos e todos moram longe. Assim acho q a conectividade de hj salva minha vida! Só um outro lado pra gente refletir tb….bj k
Muito bacana o texto. Lembrei muito o quanto eu tinha esses momentos de solidão na adolescencia e como me faziam bem…hoje, assim quase todas as pessoas do planeta, as mídias sociais são nossa válvula de escape e não mais nos permitimos a introspecção. O mesmo com a geração y…um alerta, sem dúvida!