Oi, meu nome é Mariana, sou mãe e uma chata de galocha.
Já estava suspeitando disso faz tempo. Meu filho estava começando a espalhar esse boato por aí, mas tive a confirmação durante as últimas férias. Eu era a mais chata da viagem. Meu marido era super legal e divertido, meus cunhados eram maneiríssimos, e eu, a pentelha. Enquanto todos na casa acordavam lentamente e tomavam café despreocupados, eu olhava a previsão do tempo e arrumava uma mochila que poderia ter sido usada em um programa de sobrevivência na selva. Eu sabia a hora que ia chover, quantos graus fariam durante à noite, o percurso mais curto, a localização dos banheiros e o cardápio de alguns restaurantes próximos.
Não tinha mais como enganar ninguém, era oficial, eu era o clichê da mãe chata. Agradece, tira o cotovelo da mesa, vai tomar banho, desliga a televisão, vai comer todo o quiabo sim, tá frio, coloca o casaco, isso não é hora de brincar… Essas eram as únicas frases que eu falava nos últimos tempos. Meu Deus, em que eu havia me transformando?
Preocupada, decidi empreender um esforço investigativo para descobrir se a chegada de um filho aumenta as taxas de chatice (ou se eu sempre fui chata mesmo e ninguém tinha coragem de me contar.)
Bem, de volta ao começo.
Quando o filho nasce o mundo orbita em torno de cuidado, dedicação e amor. Você precisa alimentá-lo e mantê-lo limpo e seguro. Uma questão de sobrevivência, basicamente. Você não dorme e não tem tempo para quase nada, nem para ser muito chata. Uma chatice ou outra com o marido, vá lá, com o início do jogo Eu-troquei-mais-fraldas-do-que-você-versus-Eu-já-fui-lá-ver-ele-tantas-vezes. Tá, isso era chato pra cacete.
Proteger o filho de perigos e doenças também pode acentuar a chatice se virar sinônimo de cuidado exagerado, e durante um período a gente fica achando que é capaz de protegê-los de tudo sim e ficamos bem chatas. Só nós sabemos como fazê-los comer sem engasgar, como brincar na pracinha sem se machucar ou qual casaco deve ir na bolsa. Nessa época, a gente mesmo admite para as amigas: “sou uma mãe super chata”.
Mas acho que a chatice vem com força mesmo quando a parte de educar começa.
Ensinar uma pessoa como ela deve se comportar de acordo com o que achamos que é correto é inebriante. A gente fica 24 horas do dia educando o filho, dizendo o que é certo e o que é errado, o que pode e o que não pode, e, de repente, temos certeza que sabemos como todo mundo deve se comportar. E todo mundo aí não é modo de dizer.
Começamos a educar o marido – tira o sapato na sala, abaixa a tampa do vaso, não joga a toalha molhada na cama – e em seguida saímos de casa em uma cruzada educadora pelo mundo, como professoras zumbis, certas de que cabe a nós essa tarefa. Você quer corrigir todo mundo: o garçom, o político, os motoristas, a professora, a filha da vizinha; e tem a certeza absoluta que eles seriam melhores se tivessem sido educados por você. Aaahh! Socorro! Dizer como os outros devem se comportar o tempo todo é chato demais.
Sim, definitivamente, eu fiquei mais chata depois que virei mãe. Que bom por um lado, porque chatice na maternidade se confunde com zelo e amor. Dizer não e repetir a mesma coisa mil vezes é pré-requisito para o cargo. Mas por outro lado, não dá para ser chata a ponto de não conseguir relaxar e se divertir com a maternidade. Poder dividir a educação do filho com o pai ajuda muito a tirar a pecha de chata do ombro das mães, deixando espaço para dias preguiçosos de bagunça e brincadeiras.
As mães legais que me desculpem, mas um pouco de chatice na maternidade é fundamental.
Crédito da imagem: Today is a good day
21 Comentários
Mariana,
Você não esta sozinha nessa..
Bjss
Nanda
mãe-chata
Ufa, que bom! haha
Alguém precisa ser a chata , a bruxa da história , mas e o nosso papel , se não for a gente quem vai ser? Adorei o texto , sou sim a chata e com orgulho rsssss…
Vamos fazer uma campanha: orgulho de ser chata!
hahaha
QUERIDA PENSEI QUE SÓ EU FOSSE CHATA , POISMUDEI MUITO O MEU JEITO DE SERDEPOIS DO NASCIMENTO DOS MEUS GÊMEOS, ACHO QUE CUIDO ATÉ DEMAIS , SOU UM POUCO EXAGERADA. RSRSRS
Todas nós somos exageradas, Cleide. Beijo
Que bom que não estou sozinha nessa! Já tinha reconhecido essa chatice em mim faz tempo.. (Ela é anterior a maternidade, devo adimitir
Mas fico meio preocupada com a progressão. Jura que vou ficar ainda mais chata?! Afff…
Adoro ler você
Mari querida! A gente fica mais chata pero sin perder la ternura jamás!
Adorei o texto! Tb sou sócia deste clube de chatas unidas!!
Bj, karoline
Karol! Adorei você por aqui. Beijo
Pertenço ao grupo das mães chatas com muito orgulho, E COM MUITO AMOR TB!! Se a mãe não for chata, o filho é que sera um chato de um mal educado aos olhos (e ouvidos) alheios… e isso mãe nenhuma quer, né?
ana paula
Pois eu nao aguento mais ser chata! Queria desaprender o que é isso. Ser mais cool e menos didatica. É o que eu mais queria no momento…
minha mãe é super chata mais se eu falo alguma coisa ela me bate por isso prefiro falar com o meu primo Luís Fernando ou ficar pensando eu e minha cabeça.
Realmente,não estou só!!!Ainda ontem vi o sofrimento da Helena de Em Familia(novela Global),a mãe chata da História,largada pela filha e não compreendida pelo marido,então parei e olhei um pouco para mim muito parecido!!!CHATONILDAS,HAHAHAHA.
Cuidado, mãe equilibrada é uma coisa, mãe chata é outra. Mãe chata cansa demais. Toda mãe tem sua chatice, mas mãe chata afasta, viraa peso, peso a gente não quer carregar.
Amei o texto, Mari !!!!
Eu tb sou Mariana Amaral e super me identifiquei com vc!!!!!
Hahaha, xará dupla! (só vi isso agora, desculpa!)
Temos que ser equilibradas, ora educo, ora brinco também e permito um pouco de bagunça. O mundo ordenado sempre é algo neurótico e nocivo. Criança tem que bagunçar mesmo, e as vezes nos deixar meio loucos, as crianças nos fazem um bem enorme, elas nos modificam a alma. Aprendemos a ver o mundo de outra forma.
Estava aqui tristonha, depois que minha filha disse que eu era muito chata e preferia me ver trabalhando o tempo todo (estou de férias). Daí li o seu testo e fiquei feliz porque não estou sozinha.
Não está sozinha não. E tenho certeza que ela não queria que você estivesse longe. Um dia ela vai entender tudo e te agradecer muito. Beijo!