Filho novo, vida nova!

Quando nos tornamos pais, revivemos com os nossos filhos a nossa infância, nossos medos, angústias e alegrias. É uma viagem ao passado, direcionada para o futuro, digna de um filme de Spielberg.

Vamos ao passado em todos os sentidos: resgatamos a criança que fomos, os pais que tivemos, as situações que vivemos, como reagimos e o que sentimos. Munidos destas referências temos um ponto de partida para construirmos uma identidade enquanto pais. Este ponto de partida é e será testado ao longo do tempo, pois não podemos esquecer que estamos construindo uma nova relação, com novos personagens, num novo tempo; portanto esta imagem de pai e mãe que temos internalizada vai sendo criticada, mexida e transformada.

A questão é que nesta construção, também somos levados a projetar em nossos filhos o que achamos que poderíamos ter feito ou ter sido e não conseguimos. Vemos a chance bem ali na nossa frente de tentarmos outra vez, e de desta vez, fazer a coisa certa. A proposta que a vida nos faz na medida em que nos tornamos pais é muito sedutora! Esta “virada da vida” renova os votos, e nos vemos com a chance de fazermos as nossa listinha de perspectivas! Filho novo, vida nova!!!

Quem não queria uma segunda chance para por em prática o que não foi feito? Aquilo que teimamos em não fazer pois não tínhamos experiência e agora com a maturidade enxergamos o fundamento? Fazer o que sonhamos e não conseguimos? Isso não somente com relação aos retornos em função de escolhas materiais ou profissionais, mas enquanto pessoa, pois talvez se tivéssemos colocado um limite, nos posicionado de forma diferente frente a uma dificuldade, dito um não ou sim, poderia ter sido diferente.

Na verdade, esta viagem faz parte da aventura de ser pais. Não conheço quem não projete, não se misture com seus filhos, não sonhe e não visualize uma pequena história para o mesmo. Uma simples escolha de time, um direcionamento de interesses, nossa eu não leio tanto, mas meu filho vai ser diferente! Filho traz esse renascimento, nos enche de esperança na vida. Mas na medida que vão crescendo, temos que dar conta da nossa frustração, pois eles irão fazer suas próprias escolhas.

Com o passar do tempo vão nos mostrando que até podem querer o que pensamos, mas não da mesma maneira, nem com o mesmo sentido. O que não podemos esquecer é que os nossos desejos e escolhas são nossos, e que talvez não sejam deles. Aí a questão é nossa mesmo. Nós que temos que nos haver com o que estamos projetando. Nos deparar com as nossas inseguranças e questões. É uma experiência sofrida, pois não é simples abrir mão dos nossos ideais, nos dá medo.

Nos separar das fantasias, daquilo que pensamos sobre o que eles estão passando, do que achamos certo e que queremos para eles, dar conta deste movimento de descolamento de histórias, fantasias e perspectivas é uma das tarefas mais difíceis. Nos frustra, causa sofrimento, pois imaginamos dificuldades em determinadas situações para os nossos filhos, que na verdade são nossas, e que dificultam o dialogo podendo causar uma barreira entre pais e filhos.

Erros e desentendimentos acontecem e fazem parte. Ter a visão de que não podemos errar, pois já erramos em nossa própria estrada e que agora temos a chance de reeditar tudo através dos filhos, faz com que os filhos não sejam enxergados enquanto indivíduos, que tem suas proprias escolhas. Como pais devemos orientar, passar nossos valores e experiências. Mas precisamos estar alerta com a maneira que este conhecimento vai ser passado, para não cairmos no perigo de estabelecer uma relação de domínio e submissão, onde não há espaço para criatividade, nem para os pais que estarão presos em suas fantasias e desejos, nem para os filhos de poderem fazer suas próprias escolhas. Criar mais pontes do que barreiras.

Enquanto pais vivemos uma situação especial onde os filhos podem ter alternativas e repostas que não sabemos. Enxergá-los como sujeitos, fora das nossas fantasias, oferece um lugar diferente a esta relação, onde pode haver uma troca saudável, respeitosa e de amor. Poder aprender com nossos filhos, sem ter vergonha do erro, e descobrir juntos as alternativas e assim escolher, leva a construção de um conhecimento real e verdadeiro, onde todos podem Ser. 

 

*Crédito da imagem: Mikko Kaaresmaa

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