A maternidade e as perdas que experimentei

O último mês foi um bocado intenso. Lancei três livros, abri uma exposição e participei de duas feiras de livros. Isso sem contar nossa rotina pesada aqui no Mundo Ovo e mais a rotina sempre dura de uma editora independente. A cereja do bolo foi que nem tudo era no Rio de Janeiro, e lá fui eu de malinha em punho quatro vezes pra São Paulo e mais uma vez pra Brasília.

Naturalmente que hoje, primeiro dia em terra firme, estou sentindo que o furacão que passou deixou tudo meio estranho. A casa tá meio desorganizada, a despensa vazia e acho que me esqueci de pagar umas duas ou três contas. Ainda assim é engraçado perceber que tudo deu certo no final. A logística de viajar deixando a cria pra trás exige uma organização ninja para que a vidinha não dela não mude em (quase) nada.

E em cada uma das pontes-aéreas que peguei tive tempo de sobra pra matutar sobre esse novo momento que estou vivendo: sobretudo as ansiedades de quando a Vicky era bebê, que deixei pra trás, e o quanto a minha carreira sofreu por conta da maternidade.

Foi muito difícil pra mim, quando ela nasceu, aceitar que eu não poderia mais ser quem eu era. Aquela mulher de vida intensa, que estava sempre em um avião rumo a algum projeto excitante, simplesmente não podia mais existir. Minha vida – social e profissional –  não combinava com a maternidade que eu queria exercer e isso provocou um nó sem tamanho na minha cabeça. Exigiu uma organização que eu ainda não tinha em mim e eu perdi muitas lágrimas e tempo dando murro em ponta de faca, porque eu estava fazendo tudo errado e demorei um tempão pra conseguir encarar o curto circuito na minha cabeça.

E com isso eu perdi. Perdi horas de sono porque não conseguia estabelecer uma rotina para nós. Abandonei projetos pessoais que não consegui levar adiante. Acordava angustiada porque não conseguia fazer nada direito. Na analogia da mãe malabarista, eu era aquela que derrubava todos os pratos de uma só vez, todos os dias. Tive que abrir mão de muitos projetos profissionais porque eu não tinha tempo de realizá-los e nem tinha dinheiro para contratar alguém para fazê-los por mim. E, por fim, perdi o marido, porque a crise que eu estava vivendo, ele também estava, e a gente simplesmente não conseguiu se enxergar mais.

Mas desde o início deste ano, com Vicky com três anos, eu consegui superar muitos obstáculos e trilhar o caminho de volta para me achar novamente. E foi uma grande surpresa, porque a pessoa que eu achei não era mais aquela que eu tinha deixado para trás, mas uma versão 4.0.: mais confiante, madura, organizada e com maior capacidade de discernimento, escolhendo as batalhas que parecem certas e não só pegando tudo o que parece interessante pelo caminho.

Em retrospecto, sinto profundamente algumas das perdas pessoais e profissionais que experimentei nessa jornada – que eu, definitivamente, não estava pronta pra elas. Sei também que a maternidade não será capaz de substituir alguns dos sonhos e desejos que eu tinha para mim. Por outro lado, o nascimento da Victoria trouxe um amor que eu achava que não era possível sentir. A vida materna trouxe crise existencial, ansiedade e angústia, mas ao mesmo tempo, na medida em que tudo vai ficando mais claro e certo, acho que nasci pra isso: pra ser esse misto de mulher, profissional e mãe. Uma pessoa cheia de paixões violentas e amores desmedidos. E, para mim, essa é a vida perfeita pra se viver.

 

 

Imagem: ciadefoto

Postagem anterior
A influência das cores no quarto do bebê
festa-futebol
Próxima postagem
Festa Futebol para meninos e meninas! #vaitercopa

20 Comentários

  1. Danielle
    10 de junho de 2014 at 10:20 — Responder

    Te entendo perfeitamente. Com toda a força que essa frase pode ter rsrs

    • Camila
      16 de junho de 2014 at 18:05 — Responder

      Danielle, não é mesmo? Foram perdas irreparáveis e foi duro e ao mesmo tempo libertador me dar conta disso. Beijo

  2. 10 de junho de 2014 at 11:40 — Responder

    Camila, que texto lindo. Você colocou em palavras o que muitas mulheres sentem <3

    • Camila
      16 de junho de 2014 at 18:05 — Responder

      Obrigada Tamara. O sentimento decididamente não é exclusivo meu e espero que possa jogar luz sobre o drama que outras mães vivem. Beijoca

  3. Patrícia Valverde
    10 de junho de 2014 at 12:24 — Responder

    Respirei fundo pra segurar as lágrimas lendo isso. Que forte! Parabéns, Cam! Vc é exemplo, inspiração e conforto pra muitas de nós!

    • Camila
      16 de junho de 2014 at 18:06 — Responder

      Paty, você é amiga, não vale, hahaha. Obrigada por ler e se identificar. Means a lot. Beijoca

      • BETHANIA
        22 de junho de 2014 at 20:26 — Responder

        CAMILA,

        SEU TEXTO É TÃO SENSÍVEL COMO VOCÊ. QUANDO NOS TORNAMOS MÃES, PERCEBEMOS QUE NADA ESTÁ NO NOSSO CONTROLE E PRECISAMOS MERGULHAR FUNDO, POIS PARA ENCAMINHAR UM SER HÁ DE HAVER MUDANÇA… A AUTO-TRANSFORMAÇÃO É FUNDAMENTAL PARA NOSSO CRESCIMENTO. NOSSOS FILHOS VÊM PARA NOS EDUCAR E ESSE BURILAMENTO…ENTRE TEMPERAMENTOS DISTINTOS FAZ PARTE DO PROCESSO…

        SAUDADES DE VOCÊ E DE TODA ESSA SUA SENSIBILIDADE…GOSTARIA MUITO DE REVÊ-LA E DE CONHECER SUA FILHOTA, BJOS, BÊ.

      • BETHANIA JULIANO
        22 de junho de 2014 at 20:27 — Responder

        CAMILA,

        SEU TEXTO É TÃO SENSÍVEL COMO VOCÊ. QUANDO NOS TORNAMOS MÃES, PERCEBEMOS QUE NADA ESTÁ NO NOSSO CONTROLE E PRECISAMOS MERGULHAR FUNDO, POIS PARA ENCAMINHAR UM SER HÁ DE HAVER MUDANÇA… A AUTO-TRANSFORMAÇÃO É FUNDAMENTAL PARA NOSSO CRESCIMENTO. NOSSOS FILHOS VÊM PARA NOS EDUCAR E ESSE BURILAMENTO…ENTRE TEMPERAMENTOS DISTINTOS FAZ PARTE DO PROCESSO…

        SAUDADES DE VOCÊ E DE TODA ESSA SUA SENSIBILIDADE…GOSTARIA MUITO DE REVÊ-LA E DE CONHECER SUA FILHOTA, BJOS, BÊ.

        • Camila
          24 de junho de 2014 at 0:40 — Responder

          Bê, saudades. Que bom que nos achamos aqui e obrigada por ter lido e compartilhado. Preciso mesmo levar Vicky pra Sampa e assim marcamos de voce conhece-la. Beijo carinhoso.

          • BETHANIA JULIANO
            24 de junho de 2014 at 11:11

            Fico aguardando vocês…bjos, bê.

  4. 10 de junho de 2014 at 13:21 — Responder

    Que linda Camila!!!
    Acho (apenas acho mesmo) que você se cobrou demais no início… e a gente não sabe bem lidar com as frustrações né?
    Mas lendo suas conquistas atuais, nossa! Tenho certeza que a Vicky tem e terá muito orgulho de vc
    beijao
    Lele

    • Camila
      16 de junho de 2014 at 17:58 — Responder

      Lele, você tem muita razão. Coloquei muita pressão para ter o controle exato sobre a minha vida e a vida com ela e tudo foi por água abaixo. Foi muito difícil mesmo perceber que eu não seria mais a mesma, aceitar isso e seguir em frente. Eu e Vickylinda somos dupla imbatível 😀 Beijoca

  5. Renata
    10 de junho de 2014 at 22:06 — Responder

    Texto perfeito Parabéns …..

  6. Carol
    16 de junho de 2014 at 18:41 — Responder

    Nossa, que lindo, que perfeito. Te entendo MUITO. Jesus, não estou só.

    • Camila
      24 de junho de 2014 at 0:47 — Responder

      Oi Carol, não está não. Aqui a gente é feliz e sofre junta! Beijoca

  7. Mari
    23 de junho de 2014 at 8:21 — Responder

    me sinto mais humana sabendo que não estou só. Você não sabe a força q me deu com esse post, obrigada.

    • Camila
      24 de junho de 2014 at 0:39 — Responder

      Mari, que bom que você se identificou. Beijoca

  8. Milena
    29 de junho de 2016 at 14:49 — Responder

    Seu texto é só inspiração, Camila. A cabeça desta mãe aqui está fervilhando com tantas reflexões. Beijo

    • Camila
      29 de junho de 2016 at 15:12 — Responder

      Brigada pelo carinho e pela delicadeza Milena <3

Envie uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*

*

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

Voltar
COMPARTILHAR

A maternidade e as perdas que experimentei