Uma mãe pode gostar de ficar sozinha?

Tem gente que tem pavor de ficar sozinha. Para mim, no entanto, alguns minutos de solidão e silêncio são uma necessidade. Chega um momento do dia em que eu preciso ficar quieta, pensando, sem ter que falar nada com ninguém. Ser assim era natural para mim até meu filho nascer e eu decidir que estava na hora de mudar – o que não chegou a ser um problema, uma vez que a presença dele me deixava tão plena e em paz. Achei que deveria deixar esse traço da minha personalidade para trás e embarquei numa relação simbiótica onde eu e meu filho éramos quase um.

Com o passar do tempo, a medida que ele foi crescendo (e eu também), começamos a voltar para nossas individualidades e idiossincrasias. Ele começou a brincar sozinho e eu a apenas observar. Ele fez amigos. Ele começou a falar e nunca mais parou, e eu voltei a ficar em silêncio e querer um tempo só para mim. Fico feliz de nunca ter duvidado do amor que sentia pelo meu filho e ter me dado a liberdade necessária para me reencontrar e redescobrir.

Eu era outra, mas ainda era a mesma em tantos sentidos. Descobri que ainda gostava de trabalhar, que gostava de sair apenas com os meus amigos e caminhar de manhã na praia sem ouvir música nenhuma. Descobri como é bom ficar longe para depois voltar para casa e reencontrá-lo sorrindo, ouvir as suas novidades e contar as minhas.

Percebi que o meu gosto pelo silêncio ainda estava aqui dentro, assim como o imenso amor que sinto pelo meu filho. E juntos aprendemos a desenvolver também uma relação sem palavras e nem por isso menos amorosa. Seja quando fico no meu quarto deitada pensando e ele organizando suas figurinhas na sala, ou quando sento em silêncio na penumbra do quarto dele, tarde da noite, tentando seguir o ritmo de sua respiração enquanto dorme, e imaginando como vai ser o rosto dele quando virar um adolescente.

Descobri que gostar da minha companhia é uma bonita lição para se passar adiante e eu não tenho que me sentir culpada por causa disso. E aprendi com ele que é possível ficar sozinho junto, e não quero mais outra vida.

*Crédito da imagem:  [Daniela Brown Photography]