Quando meu marido recebeu uma proposta de trabalho que implicava se mudar do Rio para São Paulo, dei a maior força. Imagina, morar na maior cidade da América Latina, uma cidade pulsante, cheia de novidades e com um mercado de trabalho incrível. Ele aceitou a proposta e eu demorei um ano para decidir se me mudava ou não. Afinal, eu tinha um trabalho muito bacana e uma filha, na época com 4 anos, com a vida super organizada – escola, amiguinhos, avós, etc.
Ao longo de um ano, meu marido ficou na ponte-aérea. E depois de passar a semana toda longe de casa, tudo o que ele não queria era arrumar briga com a Luiza. A educação dela passou a ser minha tarefa. À ele, cabia brincar – nunca brigar. Foi um período difícil para todos nós. Até que, entendendo que essa distância, a longo prazo, poderia ter consequências desastrosas para a família toda, eu decidi me mudar. Ou melhor, nos mudar.
E decidi que deveria fazer isso o mais rápido possível.
Em três meses escolhemos a escola da Lulu, alugamos uma casa e nos mudamos. Era setembro, nem esperamos o ano terminar. Queria aproveitar o finzinho de 2012 para adaptar a Luiza à nova cidade, à nova casa e à nova escola. Contava que, no início de 2013, ela estaria tinindo para começar uma vida nova, já adaptada! Ledo engano.
Você já deve ter ouvido algo que eu ouvi muito nessa época da mudança: crianças se adaptam facilmente às mudanças, são mais rápidas que os adultos. Confiei cegamente nisso mas não foi o que aconteceu. Confesso que não imaginei que seria tão difícil para a minha pequena.
Só depois, bem depois, é que me dei conta de que ela tinha sofrido um corte abrupto demais e que tinha perdido quase tudo o que tinha – a convivência com os avós, a escola que frequentava desde um ano de idade, os amiguinhos, enfim, importantes laços afetivos. Só lhe restaram os pais. Quanta prepotência a gente achar que o mundo dos nossos filhos gira em torno de nós, não é? É claro que somos fundamentais para os nossos pequenos – mas o mundo deles, aos 4 anos, jé é bem maior do que a gente pode supor. Eu aprendi com essa experiência.
Luiza começou a apresentar os sinais: chorava na escola, tinha cacoetes e começou a não querer comer comida. Sofreu um trauma ao ver um amiguinho vomitando e cismou que ía vomitar também se comesse. Comia outras coisas, pão, biscoito, batata frita. Mas comida, nem pensar. Era como se ela estivesse nos dizendo: “Vocês querem controlar tudo, né? Querem mudar a minha vida toda? Mas na minha comida vocês não vão mandar.”
Passou as férias de janeiro assim, na casa da avó, no Rio. Até que, ao voltar para São Paulo, eu percebi que precisava de ajuda para entender melhor o que estava acontecendo com a Lulu e o que eu poderia fazer para ajudá-la.
Procurei uma psicóloga especializada em comportamento infantil. Ela mesma já tinha vivido uma experiência de mudança com a filha e o marido para outro país. Foi incrível! Em dois ou três meses, tudo se resolveu!
A tática foi a seguinte: ela usou a comida para reforçar os laços afetivos da Luiza. E, como acontece com um bebê, a mãe é fundamental nesse processo. Nós duas passamos a frequentar a cozinha – coisa que eu, confesso, nunca curti muito! Passamos a preparar o jantar. E o valor não estava na comida, mas no fato de estarmos juntas, vivendo uma experiência só nossa, um momento de mãe e filha, um tempo de afeto.
No início, ela ajudava a preparar, se envolvia, participava mas não queria provar nada. O macarrão? Não, obrigada. O bife? Não, não. O arroz com feijão, uma de suas paixões? Nem pensar!
Mas foi uma questão de tempo. E de amor. Aos poucos, o vínculo afetivo se reestabeleceu e Luiza se sentiu confiante para voltar a comer. Afinal, ali ela enxergava carinho, acolhimento e apoio – tudo o que havia perdido na mudança.
Hoje, quase três anos depois, Luiza está plenamente adapatada. Sente falta dos avós, é claro, mas já entendeu que pode vê-los de vez em quando. Sente falta dos amigos, mas já fez novos amigos por aqui. E adora a escola, que também teve papel fundamental nessa longa jornada paulista.
Para dizer a verdade, mesmo depois de voltar a comer, a Luiza ainda se sentia uma entranha no ninho. Na escola, o processo foi ainda mais penoso e demorado. Mas isso é assunto para outra prosa!
Agora, quer saber de uma coisa super legal disso tudo? Luiza adora inventar moda na cozinha! Outro dia, cismou de fazer um bolo comigo, usando uma receita que ela tirou de um joguinho de computador. E não é que ficou uma delícia?
*Crédito da imagem: Shutterstock
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