Crianças de 4 anos: minha filha, a dedo-duro

Minha filha falou cedo. Acho que não poderia ser diferente. Eu falo bastante e sempre trocamos longos papos desde a primeira vez que nos encontramos. Minha mãe e minha irmã também falam muito. Aliás, muito mais do que eu. Minhas sobrinhas adolescentes foram por esse caminho e, portanto, ela nasceu em uma família que fala muito. E alto. E no meio de tanto falatório eu não percebi que além de falastrona, Victoria virou dedo-duro.

Começou devagar, ela só praticando para ser X9 profissional e eu desavisada.

Um dia eu dei uma bronca nela e ela saiu correndo para contar pra minha mãe (onde tem aconchego certo). De quebra ainda pediu pra minha mãe me deixar de castigo. Isso virou moda. Bastou eu fazer ou dizer qualquer coisa que não a agrade que lá vai ela me dedurar pra minha mãe, que ainda entra no clima e faz o maior dramalhão da galáxia – e eu lá com aquela cara de tacho.

Depois ela começou a dedurar o pai: “Mãe, lá na casa do papai ele deixou eu comer batata frita” (lá em casa não pode, mas ela não se negou a comer, claro). “Mãe, o papai não quis me levar na piscina!”, “Mãe, o papai falou palavrão”. “Mãe, o papai ficou P-E-L-A-D-O na sala”. E assim, essa pobre ex-mulher passou a saber, involuntariamente, tudo o que estava acontecendo na casa do ex-marido. Tudo bem.

Recentemente ela começou a me contar tudo o que os amigos faziam de errado na escola. “Mãe, a fulana me bateu com uma régua”; “Mãe, o fulano empurrou o outro fulano na escada”; “Mãe, hoje a gente não teve aula de dança porque todo mundo ficou de bobeira gritando e correndo pela sala”.

E eis que semana passada ela finalmente atingiu a faixa preta na “deduragem”.

– Mãe, fulano falou palavrão na escola hoje.

– É mesmo Victoria? Qual? (Claro que eu não estava prestando atenção na conversa)

– Pu%¨¨$# que pa*¨%$* (vale dizer que ela encheu a boca e falou bem alto, tipo aliviada de poder repetir com consentimento a palavra proibida).

Tomei um susto e rapidamente me engajei na conversa.

– Como é que é???!!!

– Pois é. Mas não tem problema não mãe, porque eu corri e contei tudinho pra professora e o fulano tomou a maior bronca (ela ficou muito satisfeita com ela mesma).

Eu ri. Mas fiquei com pena do menino abusado. Eu não quero que ela saia falando palavrão por aí, mas achei que ela poderia ter sido camarada. Mas fiquei quieta e deixei a história pra lá.

Na rodinha de amigos, uma amiga minha riu da história. Ela era conhecida por ser sempre a dedo dura da turma e disse que isso não atrapalhou em nada sua popularidade. O padrinho dela me disse uma coisa bem bacana; que nessa idade eles estão colocando em prática o próprio senso de justiça e a diferença entre o certo e o errado. A mãe de uma colega da creche me disse que a gente não deve incentivar que eles escondam, pois podem começar a mentir.

Engraçado ainda é eu me sentir tão dúbia em relação ao fato. Existe algo de transgressora em mim, que fala um bocado de palavrão, que protege e ajuda pessoas que “fizeram alguma bobeira” sem que sejam punidas por isso (tipo ajudar um colega de trabalho a refazer algo antes que o chefe descubra a besteira). Mas, ao mesmo tempo, eu fico satisfeita em perceber que minha filha segue regras (mesmo que só as regras que ela quer seguir).

Essa coisa de senso de justiça aos quatro anos é uma descoberta e tanto e estou mais atenta quando ela diz: “isso não é justo”, parafraseando o Yuri, do Meu amigaozão, toda vez que ela se sente injustiçada.

E é isso. Aos 4 anos, essa mãe que vos fala está lidando com senso de justiça, regras deturpadas, palavrão em sala de aula e uma criança bem versada na arte de ser X9.

Como é que andam os meninos e meninas de 4 anos por aí?

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