Vocês devem ter visto semana passada um vídeo antigo, gravado nos anos 90, em que uma jovem faz uma declaração extremamente preconceituosa sobre as pessoas do subúrbio do Rio de Janeiro que estavam frequentando a praia em Copacabana.
Entre os mil comentários indignados xingando a menina do vídeo, apareceu um dela própria:
É indiscutível que a declaração dela no vídeo foi absurda e completamente equivocada. Não estou aqui para relativizar o que foi dito. Foi errado, ponto final. Condeno o preconceito, o racismo e qualquer discurso de ódio. Isso posto, posso começar a explicar o que caso está fazendo aqui, em um site sobre maternidade.
Antigamente era raro ter algo que você tenha falado durante a adolescência documentado. O caso da Ângela foi uma exceção e poderia ter ficado esquecido em uma fita VHS qualquer, não fosse… a internet. Hoje, praticamente tudo o que vivemos e pensamos está registrado, e para sempre. Concorde você ou não, é nesse mundo que nossos filhos estão crescendo (e nós também).
Por mais que sejamos pais incríveis e esclarecidos, repletos de amor e abertos para o diálogo, e que nossos filhos sejam crianças bacanas e mais evoluídas do que nós, em algum momento eles vão falar bobagem, vão escrever algo que se arrependerão depois e acabar, eventualmente, postando uma foto indevida. A gente fala muito em segurança na internet, em controlar as crianças, fazer mil filtros, ficar sempre de olho, mas eles são jovens e não acredito que mesmo o filho mais cauteloso do pai mais precavido vai passar a vida sem pisar na bola.
Pensei também que não temos que focar apenas exaustivamente em ensinar às crianças como não se expor. A Internet pode proporcionar uma posição muito confortável sob a forma de anonimato, portanto, temos que nos preocupar com a exposição dos nossos filhos e com seu anonimato também. Eles não podem se valer disso para ridicularizar as pessoas ou disseminar imagens constrangedoras de conhecidos (“mas não fui eu que fiz, só enviei para fulano o que me mandaram”). É preciso ensiná-los a assumir responsabilidade pelas suas opiniões.
É urgente conversar com eles sobre como devem comentar, lidar com uma foto inadequada de um colega, como devem se colocar quando discordam. Claro que racismo deve ser denunciado, pois é crime, assim como homofobia. Claro que devemos incentivar nossos filhos a discordarem e expressarem sua opinião, não se calarem diante de injustiças e lutar pelo que acreditam. Mas discordar de alguém não significa que você precise fazer ameaças, por exemplo. Está achando exagero? Entre em algum site e leia o que escrevem nos comentários. É assustador!
Temos que ensinar que não se deve compartilhar qualquer informação por aí sem checar a sua veracidade. Temos que ensinar a tolerância e o fim do discurso de ódio. E ensinar também que as pessoas podem mudar de ideia. E que ele também pode e deve mudar de ideia ao longo da vida, como eu já mudei e você também. Espero que sempre para melhor, como a Angela.
Crédito da imagem em destaque: Shutterstock
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