Ultimamente Victoria está atacando abaixo da linha da cintura. Os questionamentos estão mais frequentes e o fator drama torna tudo ainda mais intenso. As perguntas são das mais variadas. Desde perguntas sobre o pai: por que nos separamos? Como era quando a gente era casado? Até coisas aparentemente bocós, como: como eu aprendi a cozinhar? Como era quando eu era pequena? Enfim, um interesse delicioso sobre o mundo ao seu redor e sobre a minha vida.
E aí que em pleno almoço de domingo, esse mesmo do Dia das Mães, ouço a pérola enquanto tento me entender com um leitão: “Mãe, por que você não gosta de mim?”. Não preciso nem dizer que engoli em seco a ameacei um faniquito. Parei tudo e peguei ela no colo e abracei apertado. O que foi difícil considerando que ela está pesando 23 quilos. Ainda assim tudo o que eu consegui indagar foi: “Mamãe te ama, por que vc tá falando isso?”.
E aí que ela começa a chorar e falar magoada que ela queria sempre estar comigo, mas que eu nunca brincava com ela, só o pai brincava e eu só mandava ela arrumar o quarto. Cara! Como lidar? Conversamos muito e eu tentei explicar da melhor maneira possível o que acontecia. E prometi me esforçar.
Mãe, por que você não gosta de mim?
Depois, refletindo sobre o desastre que tinha acontecido na minha cozinha, fiquei me sentindo péssima. Afinal, meu maior papel como mãe, na minha cabeça, era providenciar uma estrutura para que ela se sentisse feliz e segura. Uma casa confortável, espaço para ela dormir aconchegada, um quarto inteiro para ela se divertir com as coisas que mais curtia, comida na geladeira, na mesa…
Uma preocupação eterna para que nada lhe falte. Nem as coisas materiais e nem a segurança emocional. Mas ainda assim eu estava falhando. Pois não importava se eu levava ela na Lagoa para pegar sol. Não importava que eu organizasse encontros com os amigos para ela passear e se divertir. Eu estava falhando no básico. Eu simplesmente não sento pra brincar com ela.
Minha vida é corrida, no limite, no cronômetro. Eu sou uma mãe sozinha, que trabalha o dia todo e às vezes noite adentro. Tenho tantos afazeres e responsabilidades, que de vez em quando tenho vontade de me esconder debaixo da cama e nem respirar, que é para as pessoas esquecerem que eu existo.
E, por isso mesmo, meu primeiro pensamento foi o de me defender. Talvez dizer: “Olha, eu não consigo achar um tempinho sequer para sentar com você e brincar de piquenique, porque mamãe está sempre muito ocupada fazendo de tudo para que você seja feliz, sem abrir mão completamente de mim”. Mas sinto que ela não entenderia. Sinto que ela brigaria por esse espaço mesmo assim.
Então, depois que todo o domingo passou, as visitas foram embora e ela dormiu, eu pude parar, refletir e chorar um bocado por não estar sendo suficiente.
Acho que quando existe uma divisão justa entre o casal, essas falhas passem mais ou menos desapercebidas. Mas quando você é a única pessoa que faz as compras, prepara o jantar, serve e depois lava a louça, aquilo que você não faz fica evidente. Como assim você cuida, mas não brinca? Como assim você é a provedora, a chefe do lar, mas não consegue fazer algo básico como sentar uma horinha para ver um desenho? Fazer carinho numa boneca, fazer um jogo de soletrar palavras difíceis? Onde achar essa horinha? Será que eu deixo para arrumar a casa depois que ela dormir? Mas se eu fizer isso, que horas eu vou cuidar de mim?
É basicamente impossível ser tudo o que as pessoas esperam de você e ainda manter um pedaço que seja da sua essência. Não importa o quanto as pessoas dizem que criança não liga pra bagunça, não liga para bens materiais, que tudo o que ela quer é atenção. Mas e quanto aos meus desejos? O que eu quero, as minhas expectativas?
Ontem passei um pedaço da noite jogando dominó. Na minha vida cronometrada, eu coloquei na agenda de afazeres diários “brincar meia hora com a sua filha e realmente estar presente”. E, mesmo com a cabeça preocupada com as coisas que eu ainda precisava fazer, eu lutei comigo mesma, para relaxar e estar ali, jogando dominós, sentada no chão, ouvindo música, com ela.
Penso muito em mudanças de hábito. No quanto nos condicionamos. E em algum momento da minha jornada eu virei a mãe que cuida, mas não brinca e eu achei que era suficiente. Não era. Então está na hora de mudar o curso dessa trilha e agendar brincadeiras na minha agenda, até isso virar tão comum que não precisarei mais pensar nisso.
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Querida Camila: Não se sinta sozinha nem a pior mae do mundo. Calma, respira! Eu tenho um lar equilibrado, com pai em casa, e também me sinto assim. Alguns pensamentos me ajudam: Eu faço o melhor que eu posso. Se o que eu posso não é suficiente, paciencia! O que dá para terceirizar, eu terceirizo, sem dó! As compras de hortifruti são feitas por e-mail, a empregada desfaz até a minha mala, comprei uma lava louças, um robo que varre a casa, uma maquina que lava e seca roupa e por ai vai…. As unicas coisas que eu tento não terceirizar, ao maximo, são filho e marido. Nessa ordem. Mesmo com tudo isso, eu devo horas no trabalho (pq quem leva no medico, quem fica com bebe doente, quem leva e busca na escola sou eu). Volto então ao pensamento inicial: Paciencia! Quando da, minha mae vem e me ajuda. Quando dá. Não dá para ter tudo na vida, então eu escolhi só o que me é mais importante. Essas eu faço direito. Foco e prioridade! Claro que eu durmo vendo Pepa, que eu deixo de almocar para fazer unha, que eu almoço com o marido, mesmo estando atrasada. E assim eu vou levando…