Cada fase do crescimento e desenvolvimento dos nossos filhos é engraçado e prazeroso, da mesma maneira que é cansativo e desafiador.
Desde que Victoria completou cinco anos que me vejo cada vez menos preocupada com questões que nos são tão caras nos primeiros anos e aproveitando cada vez mais, de uma maneira que eu ainda não havia experimentado.
O que eu mais venho curtindo nessa fase atual é o súbito interesse pelo mundo, pela vida que a cerca. Pela sua interpretação da vida cotidiana. Por isso resolvi contar para vocês duas situações que aconteceram recentemente aqui em casa.
Cachorro-quente não é feito de cachorro?
E eis que estava eu, curtindo preguiçosamente o frio carioca, de cobertor, deitada no sofá e lendo um livro quando uma pirralha que estava assistindo TV no seu quarto de brincar chega exaltada.
– Mãe, você sabia que que a gente não pode mais comer nada?
– É mesmo?
(Mãe pensando: sai daqui, garota que esse romance tá esquentando!) Mas o encorajamento foi tudo que ela precisou.
– É mãe, por que quando a gente quer comer frutas e verduras, a gente precisa tirar da árvore e isso dói, as árvores sentem que a gente está tentando pegar as frutas e verduras que é como se fossem os filhos das árvores! Você ia gostar que um gigante me tirasse de você pra me comer?
– Realmente, isso não ia ser nada legal, mas….
Ela me interrompeu, navegando na vibe sou-super-esperta.
– E aí que a gente também não pode comer carne, por que tem o galo, e a galinha e o pintinho e quando a gente quer comer frango, a gente tira o pintinho dos pais dele. Eles ficam sem filhos, mãe!
– Mas filha…
– E o pior mãe, quando a gente pega um pão e um cachorro e a gente quer comer cachorro-quente!
(Mãe explode na gargalhada)
– Mãe por que você tá rindo? Isso é sério! (Eu ri mais)
– Mãe, cachorro-quente não é feito de cachorro?
– Não, filha.
– É feito de que?
(Mãe perde um tempo explicando)
– Ah tá. Mas, mãe, se a gente não pode comer mais carne, nem verdura e fruta, será que a gente pode comer só pizza e chocolate?
Fuén.
Dia dos namorados a dois (só que mãe e filha, no caso)
Domingo a noite, dia dos namorados. Eu, quieta no meu canto, no mesmo sofá, com o mesmo cobertor, o mesmo livro e uma linda taça de vinho. Surge a criança.
– Mãe, hoje foi dia dos namorados?
– Foi sim filha.
– E por que a gente está em casa?
– Ué, hoje é domingo, amanhã é dia de escola, de trabalho…
– Não, mãe, por que a gente não está com o nosso namorado?
– Você tem namorado, por acaso?
– Eu não, mãe. Criança não namora. Você sabia que criança não pode beijar na boca por que não tomou vacina do beijo?
– Tem vacina de beijo?
– Tem sim, mãe. Só adultos podem tomar essa vacina. Sem vacina, nada de beijo na boca. Você ja tomou essa vacina, mãe?
– Ainda não filha.
– Mãe, você tem que tomar logo, senão você não pode arrumar um namorado.
– Entendi…
– E mãe, no ano passado você disse que a gente ia arrumar um namorado que levasse a gente pra tomar sorvete.
– Verdade, eu disse isso.
– E aí mãe?
– Então filha, é que não deu tempo, mamãe tá trabalhando muito…
(na dúvida culpe o trabalho)
– Mãe, assim não dá. Ano que vem eu quero ver você com um namorado.
– Tá bom, tudo bem…
Achei que foi um certo bullying, mas fiquei quieta enquanto ela saiu pisando duro pra cozinha. Segundos depois volta ela.
– E é o seguinte, mãe. Quando você arrumar esse namorado, avisa pra ele que é pra casar! Eu quero morar com um menino. É muito chato só morar com menina. A gente não vê futebol, não joga bola. A gente só tem calcinha em casa, mãe!
E sai ela saltitante, uma fatia de bolo em uma mão e uma garrafa de água na outra. A mãe entorna a taça de vinho, já refletindo sobre a desculpa do ano que vem.
Tem como não amar?
1 Comment
Hahaha que lindinha *-*
Criatividade é a coisa mais bela e a inocência é a coisa mais sábia. ♡
Beijo pra maninha Victoria u.u