Falando sobre o corpo das mulheres com a sua filha

Como criar meninas felizes com o próprio corpo, falando sobre o corpo das mulheres com a sua filha

 

Quando a Victoria nasceu o apelido dela era bolota, por que ela era redonda e parecia uma bolinha. Hoje, sete anos depois, dentre os mil apelidos que ela tem, bolotinha é o primeiro da lista mais íntima. Eu nunca pensei muito sobre isso até que um dia alguém me chamou a atenção: “Você não acha isso errado, não?”

Eu fui uma criança magra, com isso não sofri preconceitos em relação ao meu peso até a fase adulta, quando eu engordei. Victoria também é magra, sempre foi magra e, com a autoestima nas alturas, ela se acha apenas o máximo. De forma que eu não sei. O apelido é carinhoso, ela sabe que é por que ela era uma bolinha quando nasceu (não uma bola de gordura, ela só era toda redondinha) e não tem nada a ver com peso, com seu corpo, etc. A ver.

De qualquer forma eu ando lendo bastante sobre o tema. Depois que eu escrevi meu post Mamãe tá de dieta, eu ando bastante preocupada com a forma que a Victoria vai se relacionar com o próprio corpo e acho que a gente precisa mesmo – não de uma forma neurótica – fazer um exercício de se colocar no lugar das nossas filhas, sacar como elas vão entender o que estamos querendo dizer, ou o mundo tá tentando dizer pra elas.

E aí que eu me deparei com esse texto do Huffington Post (inglês) e confesso que achei muito legal em alguns momentos, mas radical e irreal em outros.

O foco não é o corpo, mas a atitude

Por exemplo, alguns dos pontos legais é que devemos ensinar para as nossas pequenas que elas devem correr, se exercitar, andar de patinete, patins, bicicleta, praticar um esporte por que é divertido, por que libera estresse, faz bem pra saúde física e mental, e não por que vai mantê-las magras.

Da mesma forma que elas podem comer de tudo: de tomate a bolo de chocolate por que comer é gostoso e devemos sempre ter um prato colorido e variado. E que sim, legumes e verduras farão seu corpo funcionar melhor e mais regulamente do que comer brigadeiro todos os dias, mas que tudo bem amar chocolate. E que a gente deve mesmo comer de tudo, mas que comida não substitui sentimentos e que não devemos nos ater apenas a comer o que a gente mais ama no mundo e que devemos amar comer todos os alimentos. Ou quase todos, por que tem coisas que a gente não tolera mesmo, e a chance de ser jiló e não sorvete é imensa.

O silencio é a resposta?

Mas ela prega que a gente jamais deve falar com nossas filhas sobre o corpo delas. Nem se emagreceu, nem se engordou, ou como ela está linda e bela etc. E eu não sei se eu concordo com ela.

Victoria entrou na fase de amar roupas, moda e fica fazendo caras e bocas no espelho e experimentando combinações – por vezes estapafúrdias <3 –, de saias e vestidos e meias e tiaras e sapatos. E ela pergunta: tô linda, mamãe? Ao passo que eu jamais torço o nariz para suas combinações escalafobéticas e digo que ficou super bonita. A gente fala sobre a saia estar comprida, se o short pode estar muito curto, por que tops são cafonas (ela ama uma blusinha aparecendo a barriga e eu discordo achando aquilo brega), entre outras fashionidades, mas que passa, e muito pelo nosso corpo, o que fica bem, o que fica mal.

Tudo bem, ela tem seis anos, tudo fica bem. Mas essas coisas têm continuidade e eu acho importante que ela tenha liberdade de me dizer se ela está incomodada que a bunda dela está ficando maior do que ela gostaria quando ela ficar mais velha, para que juntas possamos falar sobre isso, mesmo que seja só para amaldiçoar nossos antepassados. Não quero ela sofrendo quieta por que está mais gordinha ou magra demais, por que nunca conversamos sobre isso e ela não sabe como começar a processar essas informações sobre seu próprio corpo.

Sempre vai existir body shaming. E, por que eu já sofri na pele tanta agressividade e violência e relação a minha obesidade que eu sempre serei delicada com a minha filha em relação as mudanças no seu corpo. E se ela estiver infeliz, quero ser eu ajudando minha filhota no seu processo de mudança ou aceitação e não a revista de moda ou alguma amiga equivocada.

A gente muda e nossa opinião também

Vamos ser honestas: a puberdade já, já começa a bater na nossa porta. Ela está chegando aos sete anos e vamos combinar que o tempo está voando. E eu acho que não existe nada pior do que a gente não ser realista em relação aos perigos do mundo, em relação a bondade utópica das pessoas. “Ame ser quem você é” ou “Trabalhe somente fazendo aquilo que você ama”, é das utopias mais ridículas que eu já ouvi nos últimos anos. Eu acho que quase sempre a gente não nasceu em berço de ouro e tem que trabalhar pra ganhar dinheiro e se sustentar mesmo. E acho que você não precisa se conformar em ser quem você é. O mundo está em constante evolução e você também.

E, se eu não conversar com a minha filha sobre o nosso corpo – o dela e o meu –, e por que engordamos e emagrecemos e por que nossa bunda será sempre grande (malditos antepassados, rs!) e por que podemos ou não ser felizes, etc. e tal, quem vai fazer isso por ela? A revista de moda? A amiga de perna fina? O cara assoviando pra ela na rua?

Não dá pra colocar o problema pra debaixo do tapete

Esse post seria sobre coisas que você não deve falar para sua filha sobre o corpo dela, mas no meio do caminho eu passei a achar que a gente deve falar sobre tudo sim. Sobre corpos diferentes. Por que mulheres são peitudas e outras não, por que algumas são gordas e outras esqueléticas. Nunca sendo grosseira, nunca sendo agressiva, nunca em tom de xingamento. Mas é falando que a gente cria recursos internos para ser uma pessoa melhor e para se aceitar. Não fingindo que ele não existe. Mas por que ele está na nossa cara e como vamos reagir a ele é o que nos torna pessoas especiais.

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