Feminismo para ler antes de crescer

Há dez anos edito e compro livros infantis e juvenis, e nenhum trabalho foi como esse. Aqui embaixo conto um pouquinho como foi o processo de fazer o livro 50 brasileiras incríveis para conhecer antes de crescer

 

Feminismo para ler

Talvez pelo envolvimento com o tema, com a autora, com as ilustradoras, com o projeto. Mas nada foi igual. Tudo começou há quase dois anos, na feira de Frankfurt, quando tive alguma ideia do que seria a edição de “Histórias de ninar para garotas rebeldes” – projeto que começou no Kickstarter e bateu recorde de arrecadação na plataforma. O livro era lindo, era diferente, era educativo, e, do seu jeitinho, era revolucionário. Ilustrações de babar e um texto lúdico (que crianças podiam ler sozinhas ou com os pais) sobre mulheres que de algum modo mudaram o mundo com suas histórias de vida.

feminismo para ler

Mesmo com cem perfis e sessenta ilustradores, a ideia era simples e encantadora, o que em parte explica as muitas edições em diversos países. Havia apenas um porém: das cem perfiladas, só duas eram brasileiras: Cora Coralina e Maya Gabeira. Tentei arrematar os direitos, não deu, mas ficou aquela vontade.

E se a gente fizesse uma versão 100% nacional, inspirada nesse livro? Apenas com brasileiras, conhecidas ou não, vivas ou não, feministas ou não? Sim, a seleção foi muito criteriosa, e privilegiamos mulheres que marcaram a história do Brasil, independentemente das suas convicções políticas.

Seria muito mais complicado do que pegar o projeto pronto, traduzir e publicar, mas não havia nada igual. Ia valer a pena. E nessa eu me vi por nove meses rodeada por muitas mulheres e suas próprias histórias. Para ser mais exata: uma escritora, três editoras (me incluindo aqui), dezessete ilustradoras, uma designer, uma jornalista…

50 Brasileiras incríveis para conhecer antes de crescer

Para pesquisar e escrever, convidamos a cientista política e jornalista Débora Thomé (que no meio do caminho soube que passaria um ano fora do Brasil com o marido e os filhos). Para ilustrar, foram muitas pesquisas, idas e vindas, e dicas de gente do mercado independente (muchas gracias, Camila Perlingeiro!), até chegar nas cinquenta belas ilustrações que retratam as biografadas (teve grávida correndo para entregar antes do parto, teve amiga nova e velha dias e dias lendo as histórias para que a inspiração viesse, teve quem desistisse, por falta de tempo ou porque a vida tinha virado de cabeça para baixo, teve colagem, aquarela, lápis, tinta e algumas muitas lágrimas).

Como eu, muitas ilustradoras não conheciam aquelas mulheres ou suas histórias. A escrava que lutou na justiça pela própria liberdade, a mulher que levou um tiro pelas costas e fez nascer uma lei para proteger outras mulheres, a primeira mulher juíza federal do país que andava pelos corredores da corte com uma rolha no pescoço para demonstrar que não podia dizer tudo o que pensava, heroínas que não sabemos se realmente existiram, outras que nasceram, morreram e não foram reconhecidas, uma que para muitos hoje é vilã, cientistas, artistas, atletas, médicas… Mulheres. Mães, irmãs, tias, ou às vezes nada disso. “Apenas” mulheres. O resultado é emocionante. E um desbunde visual, que prova mais uma vez que a ilustração nacional deve ser celebrada e reconhecida.

Nunca foi fácil ser mulher; a gente sabe disso, mas às vezes esquece. Resgatar histórias tão diferentes, em épocas tão variadas, ajuda a lembrar. 50 BRASILEIRAS INCRÍVEIS PARA CONHECER ANTES DE CRESCER é para ler junto, com a filha e com o filho – e separado também, porque garanto que poucos conhecem todas as histórias que ali estão. É para inspirar, aprender e, como acho que sempre deve ser, para sonhar com um mundo melhor e mais justo.

 

Feminismo para ler

Mais livros para inspirar meninas e meninos a lutar por direitos iguais entre os sexos

(alguns para ler com eles, outros mais para os adultos refletirem)

 

feminismo para ler

Histórias de ninar para garotas rebeldes, de Elena Favilli e Francesca Cavallo (V&R editora)

 

feminismo para ler

Malala, a menina que queria ir para a escola, de Adriana Carranca (Companhia das Letrinhas) [Já falamos desse livro aqui]

 

feminismo para ler

Sejamos todos feministas, de Chimamanda Ngozi Adichie (Companhia das Letras)

 

feminismo para ler

Como educar crianças feministas, de Chimamanda Ngozi Adichie (Companhia das Letras) [Já falamos desse livro aqui]

 

feminismo para ler

Vamos juntas, de Babi Souza (Galera Record)

 

 

 

Imagem destacada:  MI PHAM  para Unsplash

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