Meu filho é bem responsável quando o assunto é escola. Ele é interessado, faz o dever de casa sem que eu precise lembrá-lo, lê os livros sugeridos e fica até nervoso quando acha que esqueceu alguma coisa, ao ponto de preferir faltar aula a chegar sem um dever feito – acho um exagero essa última parte e não deixo, claro.
“Nossa, que incrível, você tirou a sorte grande”, você deve estar pensando. Mas para mim, não tem nada a ver com sorte, e sim com hábito. Porque ele não é mais inteligente, quieto, organizado ou melhor do que seu filho.
Claro que isso não aconteceu da noite pro dia. Hoje eu posso estar acompanhando um pouco mais de longe, mas teve uma época em que fiquei ali, grudada e atenta e foi bem na transição da educação infantil para o ensino fundamental. É uma grande mudança para criança na escola e acredito que em casa deva ser também, pelo menos foi o que eu tentei fazer.
A partir do primeiro ano, criei um cantinho de estudo. Era ali que ele estudava e fazia o dever de casa. Foi nessa época também que tentei criar um ritual para os dias de escola: ele chega em casa, guarda a mochila em um lugar e já deixa separado o que ele precisa fazer no dia seguinte em cima da escrivaninha. Assim era possível para mim e para ele avaliar o tempo que aquilo levaria e o material necessário. Até hoje é assim.
Todo dia ele deixa a mochila no lugar? Claro que não. Mas todo dia eu falo com ele para deixar a mochila no lugar? Claro que sim. Mas, enfim, essa é a rotina que eu comecei há três anos atrás e sigo até hoje. Retroceder nunca, render-se jamais (risos).
Como meu filho acorda muito cedo, às vezes antes de mim, ele prefere escovar os dentes, lavar o rosto e fazer logo o dever de casa para ficar livre. Muitas vezes acordo e o dever já está pronto, com uma ou outra questão em branco, que geralmente é solucionada quando ele relê e explica pra mim: “ah, já entendi, entendi…” Quando encontro algum erro, não aponto imediatamente o que é, apenas indico que acho que tem um errinho, para ele reler e tentar achar. De vez em quando, nem falo que tem erro, pergunto apenas se ele releu com atenção. Acho importante que a professora identifique as dificuldades dele.
Como chegamos até aqui?
No primeiro ano do ensino fundamental, tinha um horário certo para fazer o dever. Todo dia, na mesma hora, eu sentava do lado dele e ele fazia o dever. Nem todo dia ele queria fazer, nem todo dia dava para fazer no mesmo horário, mas a gente ia lá, de pouquinho em pouquinho, criando o hábito, gentilmente, com maleabilidade e sensibilidade. Acho muito importante essa organização porque, na minha opinião, nada mais importante do que a criança ter tempo livre para brincar. E transformar a hora do dever em um hábito, ajuda e muito.
Além do hábito, o que eu tentei ensinar é que o dever é responsabilidade dele, não minha. Claro que essa responsabilidade deve ser passada aos poucos, à medida em que a criança seja capaz de lidar com ela, mas sempre foi claro pra mim que eu não ia ficar sentada estudando e fazendo dever com meu filho todos os dias até o fim da escola. Já tinha feito isso na minha época de estudante, agora é a vez dele. Acho muito importante ensinar a criança a ter autonomia.
Nas primeira provas foi complicado, como ensinar uma criança de 6 anos a se organizar, estudar e ser testada? O que mede uma prova, afinal? Eu o ensinei como estudar para aquilo. Mas confesso que acho que é ainda muito cedo para provas. Apesar de tirar boas notas, meu filho não tinha maturidade para se preparar sozinho e eu tinha que acompanhar os estudos do início ao fim.
Ele mudou de escola ano passado e agora não tem mais provas, e será assim até o sexto ano do ensino fundamental. Mas não pense que isso significa que a vida escolar ficou mais fácil, muito pelo contrário, ele é avaliado diariamente e a avaliação vai muito além das respostas corretas – também avaliam sua dedicação, se ele alcançou os objetivos propostos etc.
Essa é a parte prática, além disso, o que eu faço e julgo ser a parte mais importante do meu papel como mãe nos estudos do meu filho é questioná-lo, aguçar sua curiosidade, mostrar mais sobre os assuntos que ele se interessa – seja um livro, um vídeo no Youtube e até um jogo de videogame. Tem que ser divertido, tem que ter prazer, se não fica difícil. Estudar não tem a ver só com a escola.
*Crédito da imagem: Shutterstock
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