Quando nasce um bebê, nasce um pai?

A mulher engravida e o mundo como era antes se transforma. De repente, todos dão palpite em sua vida, sua conduta, sua alimentação, seu descanso, etc. Cada marido reage de uma maneira: alguns tomam para si a tarefa de cuidar da esposa como se já estivessem cuidando dos filhos, outros ignoram qualquer tipo de mudança e há aqueles que chegam a ficar com raiva da parceira tanto pela atenção que ela recebe quanto pela fragilidade que cresce a cada trimestre.

Quando o bebê nasce é difícil prever qual será a reação de cada um até porque não se sabe como o bebê será. Um bebê diferente do esperado pode tornar a adaptação à nova realidade muito complicada. Normalmente o primeiro mês é muito difícil e exaustivo pois se acostumar a cuidar 24 horas de um ser COMPLETAMENTE dependente, enquanto se recupera de um parto, com privação do sono e hormônios à flor da pele, é quase o suficiente para enlouquecer a mais zen das mulheres. No entanto, esse texto é pra falar justamente dos coadjuvantes dessa história (ou será que deveriam ser protagonistas?): os pais.

Nesse cenário complicadíssimo entra o pai: normalmente desajeitado, apavorado e sem a menor noção do que fazer e a quem ajudar. Tudo acontece no improviso sem que haja um manual para ensinar. Dizem que a mulher possui um instinto materno que, se não despertou até o bebê nascer, brota imediatamente quando este sai da barriga. Na poesia fica tudo lindo mas não é o que acontece com todas as mães. Para estas, esse tal de amor, instinto ou seja lá o nome que queiram dar, demora algumas semanas para aparecer. Mãe e bebê vão aprendendo juntos como ficar bem.

E onde entra o pai? Ele não pode amamentar, mas teoricamente poderia fazer todo o resto. Uma das ajudas possíveis e extremamente necessárias é o cuidado com a esposa. Elas geralmente ficam tão fragilizadas quanto os bebês, que é o que permite com que fiquem tão conectadas às necessidades deles. Um pai que cuida do entorno para que a mãe possa focar no bebê, já é de grande ajuda. Outra possibilidade é de que os cuidados com o bebê sejam divididos na medida do possível. Só que alguns pais demoram muito mais que algumas semanas para assimilarem que suas vidas nunca mais serão as mesmas. Continuam agindo como se nada tivesse mudado, deixando as esposas sentindo-se completamente abandonadas no momento em que estão encarando a tarefa mais difícil de suas vidas.

Não é raro achar pais que fazem de tudo para não ter que voltar pra casa e encarar que as esposas estão exaustas, ainda de pijama, tentando fazer o bebê parar de chorar. Convenhamos que a descrição da cena realmente não é animadora e um dos piores sentimentos para os homens é de impotência. As mães possuem a capacidade de amamentar, o que geralmente faz uma ligação entre mãe e filho fique muito forte. O pai não tem essa “arma” a seu favor. Com isso, muitos vão se afastando, sentindo que perderam a esposa para os filhos (já que ainda não sentem ter ganhado nada).

Embora digam que os cuidados são intuitivos, bastam alguns relatos para perceber que basicamente os cuidados com o bebê tratam-se de tentativa e erro. Como segurar o bebê, perceber o que o está incomodando e como acalmá-lo são habilidades desenvolvidas tentando, errando e tentando novamente. Assim como cada mãe desenvolve a sua maneira de criar os filhos, os pais também o podem fazer. Não raro escuta-se uma mãe dizendo para um pai: “não faz assim que ele não gosta”… As mães tomam para si a posse da sabedoria de como fazer da maneira “certa” e com isso acabam inibindo os maridos a desenvolverem a próprio maneira de se relacionar com o filho.

Já foi a época em que era tarefa feminina cuidar da casa e dos filhos e dos homens de serem provedores. Hoje tudo é tarefa de todo mundo. Infelizmente muitas mulheres, bem como muitos homens, continuam achando que é função exclusiva delas dar conta de tudo. É como se durante os meses de licença maternidade voltassem 60 anos e tentassem se encaixar no papel que não lhes cabe mais. Por mais que uma mãe opte em parar de trabalhar após o nascimento de seu bebê, é razoável que sinta falta da “vida de adulto” após o nascimento deste, podendo inclusive ter inveja do marido que não é obrigado a passar o dia inteiro em casa lidando apenas com bebês e crianças. A ajuda dos pais é vista como um favor pessoal. Se eles colaboram, estão fazendo um grande favor. Cria-se um abismo entre mãe e pai nos primeiros meses que levam a mágoas muitas vezes irreparáveis.

A mesma linha de raciocínio vale para os divórcios. Os filhos são dos dois, logo, a função permanece existindo. Não estou falando de guarda, e sim de vínculo, contato e responsabilidade. Como já disse Antoine de Saint-Exupéry: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Acrescento que também te tornas responsável por aquele que colocas no mundo.

Acredito que a comunicação seja uma excelente maneira de tentar dissolver os atritos. É importante que ambos reconheçam que a escolha de ter tido um filho sempre é conjunta (mesmo que não seja planejado). Sendo assim, não é opcional assumir o papel de mãe ou o de pai. Trata-se de um compromisso selado no momento da concepção. Portanto, tentar se colocar no lugar do(a) parceiro(a) possibilita que a raiva amenize para dar lugar ao diálogo.

 

Imagem: KarenSheets

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